É comum ouvir que na faculdade você irá estudar com as mais diversas pessoas: brancas, pretas, indígenas e estrangeiras no geral. Mas você que fez ou ainda faz faculdade, já parou pra contar quantas pessoas pretas realmente fazem parte da instituição?
Quantos professores acadêmicos pretos você tem ou teve? Quantos colegas pretos têm na sua classe ou quantos autores pretos de livros já foram indicados para a sua leitura? Claro, sem contar para os trabalhos sobre o mês da consciência negra.
Por muitos anos, esta parte considerável da população não esteve na comunidade acadêmica como aluno, muito menos como outras figuras que não fossem na função de trabalhadores da manutenção do local.
Uma realidade que precisou de muitas décadas para ser alterada e podemos dizer que grande parte do que vemos atualmente de inclusão foi graças a Lei nº 12.711/2012, que reserva o mínimo 50% das vagas das instituições federais de ensino superior e técnico para estudantes de escolas públicas, além de candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas.
Uma alternativa para diminuir o abismo histórico criado nos tempos coloniais entre pessoas brancas e pretas, e que possibilitou que muitos jovens pudessem ingressar no ensino superior no Brasil.
Vale lembrar que as limitações para o acesso de pessoas pretas nas universidades não se dá somente para os alunos, mas também quando o conhecimento produzido por elas é invisibilizado. Ou seja, na representação de professores pretos.
De acordo com levantamento realizado pelo site Quero Bolsas, G1 e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), até 2017, dos 400 mil professores universitários registrados no Brasil, somente 16% se autodeclararam pretos ou pardos. Já os que haviam concluído o mestrado eram apenas 23%, enquanto apenas 17,6% eram doutores. Um indício claro de que a ascensão na pesquisa científica esbarra nas limitações impostas pelo racismo.
Segundo ainda a mesma pesquisa, de 2010 a 2019, o número de alunos negros no ensino superior chegou a 38,15% do total de matriculados, um número que isoladamente é ótimo, mas comparado ao percentual do conjunto da população preta, que é de 56%, percebe-se ainda ser baixo.
A permanência e representatividade para novos alunos
Mesmo que ao menos tenha um número para mostrar o crescimento, as desigualdades raciais ainda são identificáveis no universo acadêmico, ainda mais quando a temática é pouco abordada e a ausência do público em questão é ainda mais escassa em cursos tidos como “de elite”, como medicina, engenharia e advocacia.
Pode-se perceber um ponto ainda mais emblemático quando se comenta de mulheres negras no espaço científico que, conforme o grau acadêmico aumenta, é possível observar pouca ou quase nenhuma presença de mulheres pretas neste segmento. Muitas vezes carregando, além da carga de racismo na academia, o machismo de colegas de curso e trabalho em relação a sua competência.
Assim como a entrada de negros como discentes e docentes nas faculdades e visibilidade para os autores negros, é importante ressaltar sobre a permanencia deles na instituição, que assim como cotistas de renda baixa e escola pública, encontram empecilhos financeiros para manter o transporte, alimentação e materiais estudantis na universidade.
Abordando e explicando com mais propriedade, o livro “Acesso e Permanência da População Negra no Ensino Superior” agrupa artigos sobre as experiências de estudantes negros de diferentes matriculados em universidades públicas de quatro regiões do Brasil.
A entrada e principalmente a permanência da população preta nas universidades é essencial para ajudar que o racismo estrutural se consolide cada vez mais por quem. Para isso, é necessário proporcionar visibilidade aos docentes, autores e diretores pretos nas academias escolares para que os novos alunos tenham em quem se espelhar ao entrar na universidade.
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