A revista The Economist declarou 2019 como ano do vegano, informando que um quarto dos millennials, pessoas nascidas entre a década de 80 e início dos anos 2000, se identificam como parte do grupo ou como vegetarianos. Segundo a The Vegan Society, o veganismo é “Uma forma de viver que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e de crueldade contra animais, seja para a alimentação, para o vestuário ou para qualquer outra finalidade”.
Já o vegetarianismo é um regime alimentar que exclui todos os tipos de carnes e se divide em Ovolactovegetarianismo (utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação), Lactovegetarianismo (utiliza leite e laticínios na sua alimentação), Ovovegetarianismo (utiliza ovos na sua alimentação) e Vegetarianismo estrito (não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação), diz a Sociedade Vegetariana Brasileira.
Ambos tem uma relação direta com a preservação do meio ambiente, pois para a Organização das Nações Unidas (ONU), o setor de produção animal é um dos maiores responsáveis pelos mais sérios problemas ambientais. De acordo com dados apresentados pelo documentário Cowspiracy, a criação de animais é responsável por 91% do desmatamento da Amazônia e 75% das terras aráveis, terras que podem ser utilizadas para o cultivo, são ocupadas pela agropecuária para pastagem e produção de ração. Além disso, no último trimestre de 2019 foram abatidas cerca de 8 milhões de cabeças bovinas, 11 milhões de suínos e 1,47 milhões de frangos, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Vegana há cerca de um ano, a manauara Deborah Moraes foi vegetariana durante um tempo e, aos poucos, fez sua transição para o veganismo motivada, principalmente, por seu amor aos animais e à natureza. “Eu sempre me interessei por alimentação natural mas não tinha noção do impacto ambiental que a indústria láctea e da carne traziam para o meio ambiente”, conta em entrevista ao Mercadizar. Desde 2018, Deborah utiliza seu perfil no Instagram para compartilhar suas experiências e rotina veganas com seus seguidores. “Eu acredito que informação te leva a uma evolução e crescimento pessoal”, explica.
O estereótipo que envolvia o veganismo como apenas um mercado de nicho ficou no passado. À medida que os consumidores se tornam mais preocupados com a vida sustentável, eles estão mais conscientes dos ingredientes e métodos de produção por trás de seus produtos preferidos, afinal, o veganismo é um estilo de vida em ascensão que vai muito além de não comer carne. Envolve se abster de qualquer coisa que tenha um ingrediente animal e essa demanda por tudo que é vegano está levando outras indústrias a tomar nota, principalmente a da beleza. “O setor da beleza segue o da alimentação porque usamos muitos dos mesmos ingredientes”, disse Tata Harper, fundadora da marca Tata Harper de produtos de beleza naturais, em entrevista ao The New York Times. “Se os ingredientes são bons para se ingerir, também são ótimos para ser aplicados sobre a pele”.
Em termos simples e diretos, beleza vegana significa produtos de beleza que não contém ingredientes animais. A expressão é muito confundida com o cruelty-free, que descreve um produto que não foi testado em animais. Após essa diferenciação, podemos afirmar, por exemplo, que um produto vegano também é considerado cruelty-free, mas é possível que um produto cruelty-free contenha ingredientes de origem animal.
Apesar de ser uma iniciativa que alcançou os holofotes relativamente recente, as marcas de produtos naturais e veganos não são novidade. Nos últimos anos, o crescimento da demanda encorajou a alavancagem de marcas pequenas já estabelecidas, assim como o surgimento de novas linhas de produtos que atendem às necessidades do novo perfil de consumidor.
De batom vegano a desodorante natural, são diversas opções que podem substituir os produtos convencionais. Boa parte de produtos direcionados à beleza vegana têm a vantagem de serem biocompatíveis com a pele, ou seja, eles possibilitam um tratamento estético mais acelerado que os cosméticos comuns, já que são mais facilmente absorvidos pelo tecido cutâneo.
Além dos muitos – e já comprovados – benefícios para a pele, a beleza vegana, sobretudo, presta um bom serviço ao meio ambiente como um todo. “Ao usar a maquiagem vegana, além de tratar sua pele por ter formulações naturais, você também ajuda a indústria sustentável a crescer, evitando a produção excessiva de lixo pois a maioria das embalagens são pensadas para reuso. Também evita-se que milhares de animais sejam usados para testes tóxicos onde acabam morrendo devido a tantas formulações químicas. Você pode ser a voz de milhares de vidas ao optar por um produto vegano”, complementa Deborah Moraes.
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Mas alimentação vegetariana e vegana pode ser acessível a todos?
Apesar da popularização do veganismo e do vegetarianismo, a informação não chega da mesma forma para todo mundo e criou-se o mito de que para ser vegano é necessário ter grande poder aquisitivo, como afirma o carioca Silvio Louzada.
“O que impede do veganismo crescer nas periferias, é por dois fatores: informação e elitização. Quando temos uma mídia que só mostra corpos brancos e ricos sendo vegetarianos, logo pessoas da periferia jamais irão se ver nessa posição. Já está enraizado no Brasil de que alimentação vegana é menos acessível do que uma salsicha e, infelizmente, em muitos lugares no país realmente isso é uma realidade, mas o que precisamos urgente no Brasil é mudar a política de subsídios a alimentos vegetais”, disse ele.
Pensando nisso, em 2019 Silvio criou o perfil no Instagram chamado Periferia Preta Vegana, no qual mostra diversas possibilidades de comida com baixo custo. “O perfil surgiu quando percebi o quanto o veganismo é visto como algo elitizado e inalcançável. Mesmo que o meu perfil fosse pequeno, eu precisava mostrar que, para aqueles que podem, optar por uma opção vegana ou vegetariana era possível e acessível, como levei e levo esse tempo todo”, disse ele.
Silvio também ressalta que é possível ser vegano com o mínimo de industrializados. Além disso, ele conta que gasta cerca de 30 a 40 reais com legumes, vegetais e frutas durante uma semana, o equivalente ao preço de um kg de carne.
A historiadora Kevellyn Jéssica concorda: “Com 30 reais consigo comprar vegetais e frutas para duas semanas. Antes o feijão era temperado com jabá e hoje ele é temperado com verduras, que estão muito mais alinhadas a uma alimentação saudável. Em um país onde temos famílias de agricultores produzindo variedades de verduras e optamos por uma alimentação provinda de sofrimento, onde está o erro? A carne é cara, a periferia não come carne, come embutidos, como salsicha, calabresa, linguiça, mas ainda assim se declaram ‘carnívoros’ ”.
Mas como isso se dá na prática? Silvio conta que fazer compras em feiras e na xepa é uma alternativa para encontrar alimentos com o preço mais baixo. “Pesquise, conheça o seu bairro, veja onde tem feiras e hortifruti mais barato. Busque consumir alimentos da época que geralmente são mais em conta e ter uma alimentação baseada mais em vegetais do que industrializados”, diz ele.
Em entrevista ao Mercadizar, o perfil Perifa Vegana (@perifavegana) afirmou que é importante também, durante as compras, não utilizar sacolas plásticas mas sim retornáveis, visando não produzir mais lixo. Além de apontar a produção de uma horta em casa como uma alternativa. “Faça seu próprio alimento, crie uma pequena horta em sua casa! Caso não haja espaço, procure na internet por horta de parede ou de teto, já é uma forma de se ter algo natural, fresco e sem gastos. Busque sempre informações, pesquise e troque dicas com quem estiver disponível a ajudar, será muito mais fácil!”.
Em uma pesquisa feita pela Folha de São Paulo, constatou-se que 72% dos brasileiros costumam comer arroz no jantar e 63% não abrem mão do feijão. Carla Candace, do perfil Vegana Sem Grana (@vegana.sem.grana), também está incluída nesta estatística. “Infelizmente as pessoas não tem a informação que proteínas existem em vários lugares, o feijão e arroz, base da alimentação brasileira, formam uma proteína completa (grão+cereal). Por isso, é preciso procurar veganos que tem um estilo de vida parecido com o seu, além disso, acompanhe nas redes sociais médicos e nutricionistas veganos. Se o veganismo é elitista e branco, e você sente que não tem espaço, tem uma galera preta, pobre e periférica mudando isso de dentro pra fora”, afirma Carla.
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