A sexta edição da WME Conference reuniu, em São Paulo, artistas, profissionais e entusiastas para falar sobre a indústria musical. Com foco no protagonismo feminino, o evento trouxe mais de 40 horas de conteúdo divididos em diferentes formatos com realização presencial e transmissão on-line. A equipe do Mercadizar esteve presente e compartilhou em tempo real algumas palestras por meio dos stories no Instagram. Agora, dividimos destaques e reflexões sobre os conteúdos que acompanhamos.
O primeiro dia de evento presencial foi na quinta-feira, 16, com uma festa de abertura na dance house Heavy House. Claudia Assef e Monique Dardenne, cofundadoras do WME, participaram de um bate-papo de apresentação do evento que marcou a abertura oficial da programação. Em seguida, aconteceu o painel “Coletivos femininos que estão criando novas oportunidades no mercado para mulheres”, sob mediação de Claudia e com DJ Donna, do coletivo As Mina Risca, Rafa Jazz, do Cremosa Vinil, e Carlu, do Uh! Manas TV.
“A gente resolveu se reunir e pensar como que a gente se organiza para incomodar, para criar uma ação afirmativa, para mostrar que nós estamos aqui e que nós não vamos continuar a margem dessa cena”, explicou Carlu, do UH! Manas TV.
Na sexta-feira, 17, se iniciaram os painéis, oficinas e masterclasses, que foram até sábado, 18, na Biblioteca Mário de Andrade, que recebeu o evento pela primeira vez. Confira os destaques:
O primeiro painel que conferimos foi “O poder da caneta: compositoras ganham força com composições próprias e para outres artistas”, com Tulipa Ruiz, Alzira, Day Limns e Stefanie. As cantautoras, mulheres que cantam e compõem, conversaram sobre inspirações e possibilidades na composição e ressaltam a urgência da igualdade na arrecadação feminina.
“Segundo uma pesquisa da UBC que saiu ano passado, em 2021, do total de arrecadação, 9% é da participação feminina. Isso é muito pouco”, disse Tulipa Ruiz.
Em seguida, ouvimos o painel “Hegemonia masculina nas bandas de apoio; existe um caminho para a equidade de gêneros nos palcos?”, com Claudia Assef, Lana Ferreira, Carol Navarro e Larissa Luz. Entre a urgência de eliminar o machismo estrutural presente nos palcos, elas também ressaltaram a necessidade de uma maior conexão entre mulheres artistas. Da plateia surgiram até mesmo comentários sobre a falta de apoio mútuo e a rivalidade feminina.
Um ponto em comum entre este e o painel “Grandes festivais, casas de show, música eletrônica: fique por dentro das experiências imersas que vieram com tudo nessa volta aos eventos presenciais” foi a necessidade de line-ups com igualdade de gênero. De um lado, os festivais justificam com números e vendas, afirmando que ainda há uma busca maior por artistas homens cis. No entanto, no festival Lollapalooza deste ano, a quebra de recorde de ingressos e público foi no dia liderado pela cantora estadunidense Miley Cyrus. Além disso, esta equidade precisa vir de dentro também: mais mulheres em posições de lideranças e mais mulheres contratando.
Falando nisso, com o objetivo de ser um banco de mulheres da indústria musical, o WME também possui um aplicativo, WME Profissionais, disponível para iOS e Android. Mulheres de qualquer área da música e qualquer estado podem se cadastrar, preencher seu perfil e atualizar com contatos e redes sociais.
Na masterclass “Música + Influência? Decoding casos reais”, ministrada por Rafaela Lotto, da YouPix, um dos grandes assuntos foi o TikTok. Rafaela colocou o app como a MTV da nova geração, visto que se tornou a nova ferramenta para descoberta de novas músicas e artistas, segundo a Agência de Bolso. Porém, Rafaela também mencionou que nem tudo são flores.
“Aquilo que parece democrático, porque em teoria qualquer pessoa consegue alcançar muita gente com a música, virou uma pressão da indústria, porque ou você viraliza no TikTok ou você não existe mais”, explicou Rafa Lotto.
Nosso dia 17 finalizou com “Q&A com Teresa Cristina”, mediado por Claudia Assef, em que Teresa reforçou o sentimento e a importância de cantar em português:
“Por mais que eu goste de cantar canções de outra língua, falar português é um ato libertário. É falar o que você pensa, você nativa.”
O sábado, 18, começou com o painel “Selo Igual Apresenta: O papel da curadoria musical contemporânea como tradutora das transformações sócio-culturais”, com Assucena Assucena, Michelly Mury, da Casa Natura Musical, Karen Cunha e Fabiana Batistela, da Sim São Paulo. O painel teve grande destaque por levantar a importância da desconstrução, da escuta ativa e da curiosidade e por ressaltar a responsabilidade da curadoria em trazer destaque para novas oportunidades. Inclusive, como nota da equipe, esperamos que os festivais e organizadores de eventos voltem cada vez mais seus olhares para outras regiões fora do eixo RJ-SP e enxerguem os talentos presentes no Norte do país.
“A questão não é você pegar mil line-ups todos iguais e a desculpa ser ‘eu preciso vender ingresso’. Assim você não faz um papel de curadoria, você apenas reproduz uma fórmula que já deu certo. E se todo mundo ficar reproduzindo para sempre, a gente vai voltar para a estaca zero muito rapidamente”, afirmou Karen Cunha.
Em seguida, “Mynd Apresenta: O poder da influência das artistas para além da música (política, saúde, sexualidade, lifestyle)” com Letticia Munniz, Titi Muller, Jessi Alves e Malu Barbosa. O painel questionou quem é e o que é ser um influenciador.
“Quando me colocam neste papel de influenciadora eu começo a refletir sobre quem eu era antes do programa (BBB), que é quem eu continuo sendo depois. Eu sou professora, e eu acho que o professor é um dos maiores influenciadores que existem. Então eu já era influenciadora muito antes de me colocarem nesse rótulo”, contou Jessi Alves.
Além de pessoas públicas, os influenciadores digitais e artistas são pessoas com opiniões que devem ser levadas em consideração pelas marcas que os contratam. Porém, como informado por Malu, da Mynd, marcas se recusam a contratar artistas por seus posicionamentos considerados polêmicos. Mas, afinal, o que exatamente é ser polêmico?
“Polêmica é o que está acontecendo agora, são os jornalistas que desaparecem na Amazônia, é o que esse governo genocida faz. Isso sim é polêmica. Falar abertamente sobre assuntos não é polêmica”, afirmou Titi Muller.
Falando nisso, na masterclass “Descolonização musical, sonhos e bem viver”, Kae Guajajara, cantora, compositora, atriz, autora e ativista indígena do Maranhão, reforçou a importância de ocupar lugares e ecoar vozes.
“Nós estamos aqui hoje porque a gente existe e resiste. Porque, se eu não tivesse colocado a minha voz na minha música, eu não estaria aqui agora nesta biblioteca com nome de um colonizador para estar falando que a gente tá vivo e que a gente está estruturando nossa vida não mais com estruturas coloniais, mas com estruturas originárias.”
Encerrando o sábado, ouvimos uma conversa sincera entre Karoline e Carolina, “Back do back com Karol Conka x MC Carol: um papo sobre saúde mental e carreira”, mediado por Didi Couto. Entre histórias engraçadas e a dor de duas mulheres pretas, entendemos que as letras e as posturas no palco são armaduras para enfrentar suas feridas e o machismo no cenário musical.
“Você, mulher, pra andar de madrugada, tem que passar uma mensagem que vai pra cima, e eu levei esse personagem pra música”, disse MC Carol.
Para fechar este encontro de grandes mulheres, o encerramento da sexta edição do WME aconteceu no domingo, 19, na Casa Natura Musical com shows de Kae Guajajara, MC Carol e Karol Conká.
Você também pode conferir um resumo completo em vídeo no perfil do Mercadizar no Instagram.
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