Quando o assunto é afetividade e negritude, precisamos retomar ao período da colonização. Sabe-se que este momento da história não apenas sequestrou e escravizou corpos pretos, mas também foi responsável por tentar destruir a cultura, a crença e as subjetividades dessa população, dando lugar às narrativas racistas e estereotipadas presentes na sociedade até hoje.
Segundo a teorica feminista e critica cultural, Bell Hooks: “O sistema escravocrata e as divisões raciais criaram condições muito difíceis para que os negros nutrissem seu crescimento espiritual […] havendo a necessidade de reconhecer que a opressão e a exploração distorcem e impedem nossa capacidade de amar”.
No trecho retirado do texto intitulado “Vivendo de Amor”, a autora destaca o impacto da escravidão na construção e estabelecimento de relações afetivas com pessoas negras e relembra que as violências físicas e simbólicas do período colonial deixaram uma grande lacuna no que se refere à autoestima, autocuidado e afetividades do povo negro.
Por outro lado, as referências que crescemos consumindo nas mídias em geral também são grandes aliadas da perpetuação e retroalimentação do racismo, uma vez que reforçam as narrativas coloniais que atribuem somente à pele branca a humanidade e o afeto. É muito comum que o corpo branco seja associado ao ideal de ser no mundo, que tenha a estética valorizada, seja símbolo do “bem sucedido”, o ideal da mulher delicada, para casar ou da amizade confiável e outras representações. No campo das relações afetivas tais idéias repercutem no medo do preterimento, na insegurança afetiva, na lógica da posse, no machismo, na produção de uma masculinidade hegemônica, no mito do amor romântico, na autoestima baixa e em outras questões que atravessam a realidade de corpos pretos.
Nos últimos anos, o Big Brother Brasil, tem apresentado pautas sociais importantes para a discussão do coletivo, a cada edição os participantes se envolvem em narrativas e histórias que possibilitam a reflexão para além do entretenimento. A exemplo disso, as participantes Natalia, Jessilane e Lina se envolveram em um diálogo que ilustra a herança colonial presente nos ideais de relacionamentos afetivos. No vídeo as participantes levantam a questão do preterimento que mulheres pretas são submetidas como escolha para pares românticos. Em relação a isso, os estereótipos racistas são os principais responsáveis por criar no imaginário coletivo que a mulher negra, além de ser voluptuosa, inspira pouca confiança e está fora dos padrões de beleza que são determinados pela branquitude.
Recentemente, o rapper Baco Exu do Blues também abordou a temática em seu álbum “Quantas Vezes Você Já Foi Amado?”. Essa é a provocação que o artista traz em seu disco para abordar uma reflexão sobre a afetividade de um homem preto em uma sociedade racista. Refletir sobre afetividade é um passo importante no processo de descolonização do pensamento.
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