Hilana Rodrigues; 12/11/2021 às 11:00

#MercadizarExplica: Masculinidade tóxica

Profissionais psicólogos falam sobre a causa tão prejudicial a toda a sociedade

Frases muito usadas como “isso é coisa de mulherzinha”, “não seja fresco”, “vire homem”, “não chore” entre outras foram normalizadas pela sociedade como nada de mais, mas no fundo carregam muita bagagem para a reprodução da masculinidade tóxica.

O que chamamos de masculinidade tóxica é uma construção social muito antiga que definiu um conjunto de regras para o comportamento esperado de homens e que desde então impacta negativamente a saúde geral e dia a dia de todas as pessoas.

De forma mais direta possível, o psicólogo Rodrigo Serrão (CRP 20/08117), especialista em vivência como LGBTQIA+ acolhida, ouvida e fortalecida informa porquê falar sobre a pauta é tão necessária e urgente. Para ele:

“Ajuda a melhor identificar a masculinidade tóxica e os estereótipos machistas quando eles acontecem, pois muitos desses padrões de comportamento são naturalizados e até ‘aceitos’ na nossa cultura e na sociedade, são considerados normais, mas não são, causam sofrimentos e prejudicam muitas pessoas e até causam mortes, como no caso do feminicídio e de pessoas LGBTQIA+.”

Falar sobre essa pauta em questão também requer amadurecimento sobre, pois para alguns ainda pode ser entendido como algo feminino e “sensível” demais para ser conversado por homens. Para Serrão, isso se dá porque a sociedade atual se formou com base no patriarcado muito reforçado pelo poder da igreja católica.

“Hoje, falar sobre masculinidade tóxica passou a ser assunto de vários grupos sociais que militam a favor de mais direitos, como a população LGBTQIA+, as próprias mulheres, pessoas negras e, cada vez mais homens estão se propondo a conversar e entender mais sobre a masculinidade como um todo com o objetivo de evitar a toxicidade.”

Masculinidade tóxica para os homens

É claro que tais comportamentos tóxicos afetam a sociedade num todo, mas vamos diferenciar como eles afetam cada público específico.

Para os meninos em formação e homens adultos, essa referência de ser masculino  os prejudica nos cuidados básicos da saúde corporal e mental. Isso porque fica o pensamento de que procurar ajuda médica anual ou fazer check-ups são cuidados de mulheres. O mesmo é voltado para procura de ajuda psicológica.

“Dentro da masculinidade tóxica, um homem pode desejar uma mulher a ponto de objetifica-la, mas de forma alguma poderia desejar se equivaler a ela, ou seja, dividir papéis iguais e que são associados à uma mulher, como cuidar da casa, da educação da criança, falar sobre e expressar sentimentos, entre outros”, explica Tainá Conde (CRP 20/09229), psicóloga especialista em saúde mental e atenção psicossocial.

Com isso, Conde afirma que existe uma exigência desumana para que os homens sempre sejam autossuficientes e impede que grande parte deles desenvolvam de forma consciente e saudável o autocuidado fisiológico e psicológico.

Há uma grande dificuldade de várias pessoas desconectarem o “masculino” do machismo. É sobre isso que a pauta se refere, é necessário lembrar que para ser homem, não é preciso compactuar com atitudes machistas. Um homem pode ser “masculino” sem ser tóxico.

Masculinidade tóxica para as mulheres

O público que sofre constantemente com a reprodução dessa toxicidade é o da mulher. Isso porque os comportamentos machistas causam agressões, violência e feminicídio que afeta todos os dias a vivência dela na sociedade, sendo muitas vezes fatal.

Essa violência contra a mulher não se apresenta já com os ataques físicos explícitos, muitas vezes eles começam com atitudes de controle que às vezes também são ensinadas às mulheres como uma forma de cuidado que o homem tem. Novamente, uma masculinidade tóxica disfarçada de zelo e ciúmes “amoroso”.

Tainá Conde explica que existe um movimento crescente de mulheres que também são mães e buscam desde cedo trabalhar a desconstrução dessa toxicidade ainda nos primeiros anos da criança.

“Tendo em vista que a masculinidade se ensina e se constrói, logo pode ser desconstruída. Importante frisar que não deve se tornar responsabilidade exclusiva das mães, é um dever de ‘todes’ que zelam pela educação da criança”, afirma Conde.

Masculinidade tóxica para a sociedade

Tendo em vista que todos fazem parte da sociedade, podemos dizer que a masculinidade tóxica é um problema de saúde pública, pois afeta as pessoas no geral e as aproxima da violência em todos os âmbitos.

A toxicidade é ensinada, partilhada e pode ser desconstruída pela sociedade. Então é necessário se perguntar da onde estão vindo nossos pensamentos e preconceitos e então desfazê-los, afirmando que todas as pessoas, sem distinção de gênero, possuem fragilidades e necessitam de cuidados.

Rodrigo explicita bem esse ponto quando fala que:

“Todos estamos sujeitos a uma masculinidade tóxica, seja em casa, com a família, namorados ou amigos. Mas, a nível de saúde pública, torna importante a discussão e a identificação de como a masculinidade tóxica pode prejudicar a saúde, seja física ou mental.”

Ele também informa que é preciso que profissionais de saúde saibam atender vítimas de violência doméstica, reconhecer de maneira eficaz quando alguém está passando por uma violência psicológica ou emocional, ter o cuidado de abordar o comportamento de quem tem esse padrão tóxico e principalmente elaborar políticas públicas que visam discussão da temática e intervenções que amenizem os efeitos nocivos.

Conde complementa bem essa fala quando diz que “um ângulo importante a ser considerado é que existem homens que não querem participar/compactuar com as atitudes nocivas mencionadas anteriormente, contudo a intimidação ou pressão social é constante. Homens que não reproduzem os estereótipos de comportamentos esperados também podem sofrer consequências não saudáveis”.

Atitudes para desconstruir a masculinidade tóxica

Questione atitudes machistas de amigos(as);

– Dialogue: meninos e homens podem e devem falar sobre os sentimentos;

– Informe-se sobre o tema com quem tem voz de fala;

– Machismo é diferente de masculinidade, para ser homem você não precisa ser machista;

– Não questione, duvide ou suponha a sexualidade de alguém pela forma da pessoa de se portar, vestir ou falar;

– Não fale ou compactue com pressão para que homens tenham “atitudes masculinas”.

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