A pornografia como conhecemos atualmente iniciou-se no século 17, por meio dos contos eróticos do escritor francês Marquês de Sade. Na época, ele foi considerado um dos principais responsáveis por disseminar esse tipo de conteúdo. Além disso, seus escritos defendiam a ideia de que o homem era mais forte que a mulher e, por isso, poderia fazer o que quisesse com ela.
Ao longo dos anos, os contos viraram obras de arte e, com a descoberta da fotografia, imagens pornográficas. Pouco tempo depois, surgiram as revistas, as fitas VHS e, a partir delas, um novo momento para esse tipo de produção. Com a chegada dos computadores, Internet e smartphones, sem dúvidas, a pornografia atingiu seu ápice, tornando-se acessível e gratuita.
No Brasil, a TV aberta contribuiu para disseminação da pornografia. Nos anos 90, por exemplo, um programa de determinada emissora popular possuía uma competição em que mulheres de biquínis deveriam impedir homens de sair de uma banheira. Durante toda a exibição, os corpos femininos eram o destaque das câmeras.
Apesar de parecer inofensiva, a pornografia é uma das principais expressões do sexismo e alimenta a cultura de objetifcação da mulher, chegando a afetar a conduta sexual dos indivíduos. De acordo com o levantamento ‘Quantas Pesquisas e Estudos de Mercado para o canal Sexy Hot’, no Brasil, 22 milhões de pessoas assumiram consumir pornografia, 76% delas são homens e 24% são mulheres.
Abaixo listamos 5 problemas de consumir pornografia:
- Pornografia também é prostituição
Assim como na prostituição, a maioria dos consumidores de pornografia são do sexo masculino. Em ambos os serviços dessa indústria, mulheres são vendidas como objetos e possuem um histórico comum: pertencem às classes mais populares da sociedade e com recorte racial também definido.
Segundo a professora inglesa, emérita de sociologia, Gail Dines que pesquisa e escreve há mais de 25 anos sobre a indústria pornô e afirma em seu livro Pornland: como a pornografia sequestrou nossa sexualidade: “Toda pornografia usa o sexo como um veículo para transmitir mensagens sobre a legitimidade do racismo e do sexismo. Escondendo-se atrás da fachada de fantasia e diversão inofensiva, a pornografia oferece estereótipos racistas reacionários que seriam considerados inaceitáveis se estivessem em qualquer outro tipo de mídia produzida em massa. No entanto, o poder da pornografia é que essas mensagens têm uma longa história e… continuam a informar políticas que discriminam econômica, política e socialmente as pessoas que não são brancas”.
Além disso, em entrevista a revista Trip, a escritora apontou: “Pornografia é prostituição com a câmera ligada. As mulheres dessa indústria são de classe baixa e estão aceitando empregos que pagem pouco, não são advogadas ou médicas”.
- Afeta o desenvolvimento sexual
Em relação à vida sexual, a pornografia rouba a descoberta da própria sexualidade, cria padrões e fantasias de uma super performance que não condizem com a realidade. Vale lembrar que filmes pornôs não são aulas de sexo e, na vida real, as coisas são bem diferentes.
A terapeuta psicossexual e de relacionamento, Clare Faulkner, em entrevista ao The Guardian, apontou: “Indivíduos acostumados a se masturbar sozinhos com conteúdo pornográfico estão habituados a ter o controle total da própria experiência sexual, portanto, não estão adaptados a variáveis importantes no no sexo a dois, como as necessidades de um parceiro na vida real e o próprio papel dentro da relação sexual”.
- Favorece a violência contra mulheres
A pornografia constantemente é associada à violência contra mulheres. Inclusive, a natureza desse tipo de produção se baseia na premissa de que o homem pode fazer o que quiser com a mulher. Dessa forma, o estereótipo vendido nessas produções ensina que mulheres estão sempre disponíveis para o sexo, o que não é verdade. Além disso, a exploração e violência presentes nessa indústria também incentivam culturas como a do estupro.
O estudo ‘Efeitos da Pornografia nos Relacionamentos Interpessoais’, relizado na Universidade do Arkansas, apontou que homens que viram qualquer amostra de pornô são mais inclinados a demonstrar falta de empatia por vítimas de estupro, acreditar que mulheres que se vestem “provocativamente” merecem ser estupradas, mostrar raiva contra uma mulher que flerta, mas não quer fazer sexo, experimentar queda substancial no desejo por suas parceiras, demonstra interesse crescente em coagir parceiros em algum tipo de sexo não desejado.
- Pornografia também vicia
Assim como uma droga, a pornografia satisfaz um desejo imediato e o excesso pode trazer danos à saúde. Seja no desempenho sexual, no tempo perdido, no distanciamento da realidade ou até mesmo agravando quadros depressivos.
Estudos mostram que as alterações na transmissão da dopamina podem contribuir para a depressão e a ansiedade. Os resultados indicam que consumidores de pornografia apresentam mais sintomas depressivos, menor qualidade de vida e pior saúde mental.
- Contribui para exploração e exposição indevida
Quando você consome um conteúdo e não paga por ele, alguém está pagando por você e, nesses casos, ocorre a exploração das atrizes e atores dessas produções. Além disso, em muitos casos de gravações caseiras, mulheres são filmadas e seus vídeos são publicados em sites pornográficos sem que elas tenham conhecimento disso.
Um estudo divulgado pela organização Treasures, voltada ao resgate de pessoas do tráfico sexual, trouxe números impressionantes da indústria pornô: o mercado movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano. Estima-se que já tenha ultrapassado o tráfico de drogas e alcançado a 2ª posição no ranking de lucratividade do crime organizado, ficando apenas atrás do tráfico de armas. Ainda de acordo com o estudo, as vítimas de 94% desse mercado são mulheres. Já em relação a exposição indevida ou por vingança, de acordo com pesquisa realizada pela Safernet, essa modalidade de crime já ultrapassa a faixa de crescimento de 120% por ano, sendo que 81% das vítimas são mulheres, e no Brasil, é considerado o crime virtual “mais comum”.
Vale ressaltar que consumir pornografia é incentivar essa industria, contribuir para os crimes e problemas sociais causados por ela. Dessa maneira, optar por não consumir esse tipo de conteúdo é, sobretudo, um ato político.
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