Tuane Silva; 27/07/2022 às 16:00

Novo relatório da Organização Meteorológica Mundial indica que regiões da América Latina estão próximas a um ponto irreversível

Um estudo publicado no periódico Nature Climate Change já havia mostrado que a Floresta Amazônia está perdendo a capacidade de se recuperar

Eventos climáticos extremos atingiram praticamente todas as regiões da América Latina ao longo de 2021. Enquanto a Floresta Amazônia sofreu um aumento de 22% na perda de vegetação no último ano, as geleiras andinas consolidaram uma perda de mais de 30% de sua superfície em menos de 50 anos, e a “megaseca” que atinge o centro do Chile foi classificada como a mais persistente do último milênio. Essas são algumas das preocupantes conclusões do mais recente relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre a situação do clima na América Latina e no Caribe, lançado na última semana.

“Se continuarmos neste ritmo, vamos chegar a um ponto irreversível em alguns locais. A preocupação com a Amazônia é grande, não só com o ecossistema como também com o fato de ela ser uma fonte de umidade para outras regiões. Com menos chuvas e mais desmatamento, temos uma situação que pode, por exemplo, afetar a segurança alimentar em vários locais”, alerta o climatologista José Marengo, principal autor do relatório.

Foto: Bruno Kelly

Em março deste ano, um estudo publicado no periódico Nature Climate Change já havia mostrado que a floresta amazônica está perdendo a capacidade de se recuperar de períodos de seca cada vez mais longos por causa das mudanças climáticas e do desmatamento. Como resultado, o bioma estaria cada vez mais próximo de seu “ponto de virada” (tipping point), após o qual a floresta começa a morrer maciçamente. No relatório da OMM, especialistas afirmam que a degradação da Floresta Amazônia é uma grande preocupação para todo o mundo também pelo seu papel no ciclo do carbono.

O documento destacou ainda que chuvas extremas também atingiram níveis históricos em várias regiões, causando centenas de mortes e obrigando milhares de pessoas a abandonarem suas casas. No Brasil, foram citadas a cheia do Rio Negro, em Manaus, que atingiu o maior nível em mais de 100 anos em 2021, e as inundações na Bahia e em Minas Gerais devido às fortes chuvas de dezembro, que deixaram um prejuízo de U$ 3,1 bilhões.

A seca que atinge há anos a bacia do rio da Prata, que se estende pelo Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, e que está levando os níveis das águas para os mais baixos desde 1944 também se intensificou no último ano, “prejudicando a produção agrícola, reduzindo a produção de soja e milho e impactando os mercados globais de alimentos”, afirma o relatório.

Regiões da América do Sul também ficaram em alerta devido ao encolhimento das geleiras, que estão perdendo gelo de forma mais acelerada por conta do aquecimento global, ameaçando a segurança hídrica de milhões de sul-americanos. Em comparação com 1980, foi registrada uma perda total de mais de 30% de área glacial nos Andes tropicais e de 50% no Peru.

“Extremos que eram esperados para as próximas décadas estão acontecendo agora. As mudanças estão acontecendo muito rápido”, alerta Marengo. De acordo com o climatologista, o relatório aponta para a necessidade de medidas urgentes tanto de mitigação como de adaptação ao clima atual. “Se nada for feito nos próximos anos, a mitigação vai chegar tarde demais, a adaptação não será mais possível e as cidades não alcançarão o grau de resiliência que todos gostaríamos de ter”, concluiu Jaqueline Sordi.

 

Fonte: Observatório do Clima 

*O Mercadizar não se responsabiliza pelos comentários postados nas plataformas digitais. Qualquer comentário considerado ofensivo ou que falte com respeito a outras pessoas poderá ser retirado do ar sem prévio aviso.