Meio AmbienteSociedade

Manaus sediará o primeiro Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha

Entre os dias 7 e 9 de março acontece em Manaus o Primeiro Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha. O evento é realizado no âmbito da iniciativa “Juntos pelo Extrativismo da Borracha Amazônica”, que tem o objetivo de fortalecer a cadeia de borracha nativa da Amazônia. No encontro, participantes vão avaliar o trabalho nesse primeiro ano de implementação da iniciativa e planejar as atividades para a próxima safra.

As atividades reúnem seringueiros de sete associações com produção na última safra dos municípios amazonenses de Pauini, Canutama, Eirunepé, Manicoré e Itacoatiara. Além desses, também foram convidados extrativistas de outros municípios interessados em ingressar na iniciativa (Apuí, Boca do Acre, Santarém e Tefé).

O evento contará com a presença de representantes dos governos municipais, do governo do estado do Amazonas e de instituições que atuam na iniciativa, como Memorial Chico Mendes, Conselho Nacional das Populações Extrativista (CNS), Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Michelin Brasil e Singapura, e WWF-Brasil e WWF-França.

“Juntas, essas instituições têm atuado no Amazonas com foco na reativação da cadeia da borracha no estado. Nosso objetivo é desenvolver uma relação comercial justa, responsável e inclusiva, justamente porque acreditamos no potencial do extrativismo para a conservação da floresta em pé e para a valorização da cultura dos povos e populações tradicionais”, explica Adevaldo Costa, presidente do Memorial Chico Mendes, responsável pela implementação do projeto no território.

Resultados da safra 2022

O primeiro ano da iniciativa já acumula resultados de impacto em comunidades que até então não atuavam mais no extrativismo da borracha. Desde então, essas comunidades puderam retomar a produção e alcançar mais 60 toneladas de borracha comercializadas na safra 2022.

O projeto nasceu de uma parceria entre a Fundação Michelin e a Rede WWF. A partir do início das atividades da iniciativa, o escritório brasileiro da Michelin se integra a esse processo para a compra da borracha extraída de seringueiras nativas. Aproximadamente 250 famílias de seringueiros trabalharam diretamente na produção, gerando renda para essas famílias em uma transação que movimentou mais de R$ 700 mil.

“São iniciativas como esta, ambientalmente responsáveis, socialmente equilibradas e financeiramente viáveis, que colaboram e nos guiam em direção a um futuro a cada dia mais sustentável”, afirma Bruna Mesquita, especialista em Desenvolvimento Sustentável da Michelin.

Para fortalecer as sete associações, a iniciativa conseguiu viabilizar uma porcentagem por quilo de borracha produzida para cada associação, que nessa safra chegou a mais de R$ 100 mil, além do apoio com suporte jurídico, contábil, logístico e de compras no relacionamento entre associações, seringueiros e organizações privadas.

“A iniciativa gerou renda para as famílias da região e contribuiu de forma positiva para a valorização da floresta como um dos pilares de uma nova economia amazônica baseada no uso e na preservação da sociobiodiversidade. Esperamos que esse encontro seja um marco no estado na consolidação da cadeia da borracha”, ressalta Ricardo Mello, gerente de Conservação do WWF-Brasil. A remuneração diária dessas famílias foi de aproximadamente R$ 70. A expectativa é de que no próximo ano esse valor chegue a R$ 90, com o aumento da produtividade por árvore e investimentos em implementos necessários à produção de borracha.

Em 2023, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID Brasil) e a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) também somam esforços como parceiros estratégicos da iniciativa. Além disso, as instituições públicas também têm sido fortemente envolvidas nesse processo, como no apoio para a realização das operações logísticas nas comunidades, na regularização fiscal para acesso ao subsídio estadual de R$ 2 por cada quilo de borracha produzida e na aquisição de kits para extração. Além disso, instituições públicas assumiram o compromisso de participar do encontro em Manaus e recalcular o apoio para a safra de 2023.

Força do extrativismo

A extração do látex é feita no segundo semestre, na temporada seca. Já a safra da castanha ocorre no período chuvoso.

“Muitos extrativistas não têm noção da importância do que eles fazem ao manter a floresta de pé”, frisa Francisco Leandro do Nascimento Araújo, presidente da Associação dos Produtores Agroextrativistas de Canutama (ASPAC). “Hoje, com essa retomada, a borracha é o produto mais rentável. Tem seringueiro que tira dois salários-mínimos por mês”, valor maior do que a renda média dos trabalhadores formais de Canutama, que é de 1,4 salário-mínimo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Meu sonho é alavancar a cada dia mais a produção, porque a vida dos nossos extrativistas melhorou”, salienta Francisco Leandro. “Com o primeiro adiantamento que receberam da borracha, alguns seringueiros já adquiriram motor rabeta, canoa nova, bote de alumínio e equipamentos eletrônicos que não tinham em casa, como televisão e antena SKY. Eles fazem questão de vir contar na associação. Isso mexe com a autoestima deles e com a minha também, porque até os 15 anos eu vivi no seringal. Meu pai, que completou 70 em outubro, era seringueiro. Ele diz que se na época dele a borracha fosse valorizada como agora, dava para enricar.”

Processo de produção de borracha natural nativa

A produção da borracha envolve o manejo de seringueiras de ocorrência nativa nas florestas amazônicas. O processo de manipulação e a produção envolvem atividades com baixo impacto ambiental, contendo uma floresta intacta e sem degradação, utilizando apenas pequenas aberturas de trilha na mata adensada. Uma família normalmente maneja uma área de 400 a 800 hectares de floresta para a produção média de 700 kg por safra de borracha. Como as atividades extrativistas se intercalam ao longo do ano, o produtor costuma trabalhar (comercialmente) com três até seis cadeias produtivas (concomitantemente com atividades de subsistência), sendo cada uma delas de grande importância para a composição de sua renda. A renda desse produto, somada a outros produtos da sociobiodiversidade em uma mesma área (castanha-do-brasil, pescados, óleos de copaíba, entre outros), fornece o meio de vida e renda para milhares de famílias que vivem em reservas extrativistas (RESEX) e demais áreas protegidas de uso direto, além de território indígenas e ribeirinhos.

Se a economia local é beneficiada, há possibilidade de redução da pobreza, acesso a serviços básicos e melhoria na qualidade de vida. Com a criação de arranjos financeiros, as associações de produtores passam a ter participação ativa e outras cadeias produtivas também acabam sendo beneficiadas. Além dos impactos sociais, a extração de látex nativo incentiva que a Floresta Amazônica fique em pé, trazendo valor para a seringueira, o que pode diminuir as pressões de desmatamento que o bioma Amazônia sofre.

Os desafios a serem superados

O devido aproveitamento do potencial da borracha nativa exige a superação de alguns gargalos, como a necessidade de técnicas de aprimoramento da qualidade do produto oferecido e modelos de produção que considerem o ciclo natural da borracha, as grandes distâncias percorridas para poder comercializar o produto e a fragmentação e demora no receber dos recursos de subvenção, além da necessidade de apoio para a manutenção da regularidade fiscal das organizações de apoio local do produtor. Para superar tais obstáculos e destravar o potencial desta cadeia, novos arranjos produtivos e financeiros entre organizações extrativistas, empresas e governos já estão sendo estabelecidos.

Um dos principais desafios é reverter a tendência de redução no número de seringueiros por causa do êxodo do público mais jovem. Essa diminuição está associada à falta de estímulo junto aos produtores, incluindo o baixo preço pago ao produto, a insegurança de mercado nas safras, a ausência de políticas públicas efetivas de melhorias e o baixo uso de tecnologias. Essas questões refletem nas famílias extrativistas, pois geram desmotivação para o envolvimento de novos membros com a atividade, sendo esta muitas vezes encarada pelos familiares como uma atividade ultrapassada.

Serviço

Evento: Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha

Data: de 7 a 9 de março de 2023

Horário: das 8h30 às 18h

Local: Inspetoria Missionário Laura Vicuna – Av. André Araújo, 2230, Petrópolis, Manaus (AM)

Mais recentes

Sem categoria

Prática de remo cresce no Amazonas e personal orienta a necessidade de preparo físico e acompanhamento

Selda Andrade, profissional de Educação Física da Fórmula Academia, destaca os benefícios do esporte e recomendações de exercícios
Sociedade

FAS recebe Prêmio de Excelência Francisco Gros 2025, em reconhecimento a iniciativas sociais positivas

Desde 2017, o prêmio reconhece instituições que promovem o diálogo, respeito e compromisso com um futuro mais justo e desenvolvido
zaynara
AmazôniaEntretenimento

Zaynara estreia campanha ‘Juntos Pela Natureza’ em defesa do clima

Artista amazônida abre campanha global da CI-Brasil que mobiliza influenciadores na defesa da natureza e das soluções climáticas
ponta negra
EntretenimentoMúsica

Ponta Negra recebe Concerto de Natal com repertório especial no feriado de 8 de dezembro

Espetáculo com Miqueias William, Orquestra Passione e artistas locais promete emocionar o público manauara
Sem categoria

Prática de remo cresce no Amazonas e personal orienta a necessidade de preparo físico e acompanhamento

Selda Andrade, profissional de Educação Física da Fórmula Academia, destaca os benefícios do esporte e recomendações de exercícios
Sociedade

FAS recebe Prêmio de Excelência Francisco Gros 2025, em reconhecimento a iniciativas sociais positivas

Desde 2017, o prêmio reconhece instituições que promovem o diálogo, respeito e compromisso com um futuro mais justo e desenvolvido
AmazôniaEntretenimento

Zaynara estreia campanha ‘Juntos Pela Natureza’ em defesa do clima

Artista amazônida abre campanha global da CI-Brasil que mobiliza influenciadores na defesa da natureza e das soluções climáticas
EntretenimentoMúsica

Ponta Negra recebe Concerto de Natal com repertório especial no feriado de 8 de dezembro

Espetáculo com Miqueias William, Orquestra Passione e artistas locais promete emocionar o público manauara

Relacionadas

ComunicaçãoEntretenimento

37º Troféu HQMIX abre inscrições para premiar o melhor dos quadrinhos em 2025

O Troféu HQMIX iniciou as inscrições para sua 37ª edição, que premiará produções nacionais e estrangeiras publicadas no Brasil, ao longo de 2024. As inscrições devem ser realizadas exclusivamente pelo site do HQMIX, até 15 de março de 2025.  Entre as categorias contempladas estão publicações em quadrinhos, eventos, trabalhos acadêmicos e adaptações, entre outras. Cada […]

ComunicaçãoEntretenimento

Felca, Feh Dubs, Bruno Playhard, Bruno Clash e CPM 22 serão atrações do Amazon Tecnogame AGON BY AOC em novembro

O Amazon Tecnogame AGON BY AOC já tem data marcada para acontecer: de 6 a 9 de novembro, no Centro de Convenções Vasco Vasques (CCVV). Além disso, cinco das 40 atrações já foram anunciadas: o youtber Felca, a dupla Bruno Clash e Decoh, Feh Dubs, uma das maiores dubladoras do país; Bruno Playhard e a […]

Filmes, séries e TVSociedade

Com cenas gravadas no Musa, documentário ‘Amazônia em todas as cores’ finaliza etapas de gravações

A produção inédita do documentário “Amazônia em todas as cores” encerrou as fases de gravações e agora segue para uma nova etapa.  Tendo como cenário de gravação o Museu da Amazônia (Musa), na zona norte de Manaus, os sete artistas visuais homenageados gravaram suas participações no projeto de audiovisual produzido pela ArtBrasil. Agora, o projeto […]

Acessar o conteúdo