A cerimônia de entrega do Troféu HQMIX 2025, realizada ontem (10) em São Paulo, entrou para a história dos quadrinhos brasileiros ao consagrar, pela primeira vez em mais de 30 anos, quatro premiações para artistas da região Norte em uma mesma edição. Em um auditório lotado, sob aplausos e grande vibração do público, os quadrinistas nortistas subiram ao palco, imagem que já circula nas redes e simboliza a força e o novo protagonismo da produção amazônica no país.
Imagem: Norte Em Quadrinhos
Um dos grandes destaques da noite foi a HQ “Onde Habita o Medo”, criação conjunta da roteirista paraense TAI e do desenhista amazonense Nilberto Jorge. A obra conquistou três troféus, incluindo o de Novo Talento Roteirista para TAI. Além disso, a publicação levou os prêmios de Melhor Publicação Independente de Edição Única e Melhor Publicação de Aventura/Terror/Fantasia, consolidando o trabalho como um dos mais celebrados desta edição do HQMIX. O impacto do quadrinho, que une estética autoral, cenário amazônico e narrativa ancestral, foi reconhecido tanto pela crítica quanto pelo público presente.
Em seu discurso, a artista indígena TAI deixou uma mensagem para os artistas da região e para o público presente: “A gente luta pra conquistar espaços nos mercados não pensando no nosso sucesso pessoal, mas pensando que queremos deixar um legado para os nossos territórios de que nossas histórias importam. E eu acredito, que assim como essas quatro crianças (da história) conseguiram esse feito, meu povo do Norte continuará sua jornada de brilhar em novos espaços, vocês já são os sonhos dos seus ancestrais.”
Tai. Imagem: Norte Em Quadrinhos
Nilberto também exalta a região em sua fala: “Espero muito que, com esse prêmio, tenham mais portas sendo abertas para o quadrinho nortista. Espero muito que nosso trabalho seja mais reconhecido e valorizado e espero muito que o quadrinista nortista possa ter orgulho de dizer que faz quadrinhos e que é do norte.”
Nilberto Jorge. Imagem: Norte Em Quadrinhos
Outro momento marcante da noite foi a premiação do amazonense Luiz Andrade, que subiu ao palco para receber o troféu de Melhor Exposição pela mostra “Sangue, Suor e Nanquim – O Novo Quadrinho Nortista”. A exposição percorre os últimos 10 anos da produção de quadrinhos do norte e foi um projeto contemplado no edital da Lei Paulo Gustavo e fez parte da programação oficial da Semana do Quadrinho Nacional de Manaus 2024. O troféu reafirma a importância dessas iniciativas para aproximar o público do quadrinho nortista e ampliar sua presença no circuito cultural brasileiro.
“Este prêmio não é apenas meu. Aliás, ele é muito mais de outros do que meu. Ele é de todos que, há décadas, produziam seus quadrinhos sem participar de premiações como essa, sem aparecer em listas de recomendação de leitura, sem serem publicados ou sequer enxergados por editores e editoras. Esse projeto sempre foi sobre luta, identidade e sobre um legado artístico, construído com sangue, suor e nanquim”, discursou Luiz.
Luiz Andrade. Imagem: Norte Em Quadrinhos
A presença dos artistas no palco, recebendo reconhecimento nacional em quatro categorias distintas, representou um marco histórico não apenas para os premiados, mas para toda a cadeia criativa de quadrinhos da Amazônia. O feito traz visibilidade inédita na produção norte e reforça a relevância das narrativas que surgem da região: diversas, plurais e marcadas por identidades próprias.
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