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Famoso pelas suas threads no Twitter que contam a história do povo negro, Ale Santos é formado em Publicidade e Propaganda, é especialista em storytelling e professor de Gamificação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). O escritor é colunista de sites como The Intercept Brasil e Vice Brasil e, recentemente, narrou a série “Sangue Azul” do BuzzFeed Brasil além de ter sido escolhido como um dos Top Voices 2019 do LinkedIn.
Este ano Ale publicou o livro “Rastros de Resistência” pela editora Panda Books, no qual ele apresenta para o leitor histórias reais da luta do povo negro, como a do líder quilombola Benedito Meia-Légua. “As emoções são a minha bússola para contar uma história, seja ela realista ou ficcional. Eu sempre me pergunto o que eu posso despertar nas pessoas e fico atento quando eu estou lendo uma história, vejo se ela desperta uma emoção em mim, seja de fúria, orgulho ou poder, por exemplo. Isso forma a bússola para o que eu quero contar.”, disse.
Em entrevista ao Portal Mercadizar, Ale falou sobre o ‘Rastros de Resistência’ e contou em primeira mão o nome do seu próximo livro, denominado ‘O Último Ancestral’. Veja a entrevista completa abaixo:
Mercadizar: Você ficou conhecido após as threads no Twitter. Como as histórias que você conta saiu da internet e foi para o livro?
Ale: Eu não esperava que isso acontecesse, foi muito rápido. Depois de quatro meses que as minhas histórias estavam sendo compartilhadas no Twitter, eu comecei a receber propostas e convites para fazer algumas reuniões com editoras.
Isso também veio depois que as minhas threads ganharam força fora do Twitter, eu comecei a dar entrevistas para veículos como Folha de São Paulo, Buzzfeed e Hypeness. Essas entrevistas que eu dei chamaram atenção das editoras. Tem vários editores que também são jornalistas, depois viraram meus seguidores e através deles as editoras também viram o que eu fazia e me convidaram.
Mercadizar: Você tem dito no Twitter que está escrevendo um livro novo. Quais são as novidades e diferenças do livro anterior para esse?
Ale: ‘Rastros de resistência’ são narrativas de personagens que existiram no nosso mundo. Ele é da história como ramo de conhecimento humano mesmo, como é ensinado nas escolas ou como deveria ser.
Agora o meu novo livro já tem um nome, acho que não divulguei ainda em nenhum lugar, além do meu Twitter, mas o nome é “O Último Ancestral”. Nele eu vou desenvolver, uma das coisas que eu mais gosto de escrever que é ficção e afrofuturismo. Eu já representei o Brasil numa antologia mundial de ficção científica em 2013, com um conto chamado “A cor dos seus olhos”. Então, eu quero resgatar esse meu lado de escritor de fantasia e de ficção. O “O Último Ancestral” é uma expansão da história do conto “Cangoma”, que foi lançado em 2019 por meio da plataforma “21” na coletânea “Todo mundo tem uma primeira vez”.
Em 2020 essa história vai ser expandida com meu romance afrofuturista inspirado no Brasil, com muita ficção e personagens históricos. O Último Ancestral 👊🏾
— Ale Santos (@Savagefiction) December 10, 2019
Threads, internet, comunicação e pautas raciais
Mercadizar: Para você, o que é uma thread perfeita?
Ale: Então, isso é uma coisa muito louca porque eu tenho isso com tudo o que eu escrevo, eu nunca acho que tá perfeito. Com relação a minha escrita eu sou bem crítico, mas acredito que uma boa thread não tem a ver com a técnica do escritor mas sim com a sensibilidade dele, o quanto ele consegue conectar imaginário coletivo com o sentimento que ele empregou na thread e com o sentimento que as pessoas tem nas redes sociais. Acho que essa conexão que faz uma thread acontecer.
Mercadizar: Como você avalia o papel da internet e das redes sociais na difusão das narrativas do povo negro?
Ale: A internet é um espaço de debate público, no qual a gente pode participar e se apropriar desse debate com todas as suas particularidades, coisas negativas e complexibilidades que esse espaço promove, porque ele também reproduz a estrutura racial brasileira. Isso faz com que algumas discussões negras sejam silenciadas, mas a gente tem a possibilidade de romper o silêncio e atingir a massa dentro da internet. Por isso, nós temos que ocupar esse espaço para conectar cada vez mais pessoas.
Mercadizar: Como comunicador e professor, como você avalia o mercado da comunicação e as questões raciais?
Ale: O mercado ainda não tá disposto a discutir representatividade de modo sério. Tem poucas iniciativas e tem gente que gosta de fazer propaganda sobre negros, mas quando você olha para dentro das empresas eles tem diversas desculpas como “Ah, mas tem que ser devagar. A gente ainda não consegue achar tantos negros para trabalhar com a gente”, além de não quererem investir na capacitação de negros para trabalhar na plataforma ou instituição. É um mercado que vive de falácia e de imagens. Está na hora de eles deixarem a imagem de lado e abaixar um pouco a voz, falar mais alto com ações e com a realidade. Eu quero ver a estrutura ser alterada de verdade. Não existe inovação se essa inovação não vier de pessoas diferentes, pois homens brancos dentro de uma sala não inovam mais. A gente precisa de mulheres e homens negros, de pessoas lgbts e indígenas…isso é uma verdadeira inovação, ela tem que está conectada com a inovação social.
Para acompanhar as threads do escritor, acesse o seu perfil no Twitter @Savagefiction. Além de “O Último Ancestral”, que tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2020, Ale promete outras novidades. “Eu tenho dado consultorias para alguns roteiristas, inclusive de cinema. Tenho conversado com alguns produtores de conteúdo para áudio e vídeo e também tenho conversado sobre a possibilidade de fazer um podcast”, contou.
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