Ariel Bentes; 18/12/2019 às 08:00

‘O Último Ancestral’ é o próximo livro do escritor Ale Santos

Em entrevista ao Mercadizar, o escritor contou em primeira mão qual o nome do seu próximo livro, falou sobre comunicação e pautas raciais e suas threads no Twitter

(Foto: Divulgação)

Famoso pelas suas threads no Twitter que contam a história do povo negro, Ale Santos é formado em Publicidade e Propaganda, é especialista em storytelling e professor de Gamificação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).  O escritor é colunista de sites como The Intercept Brasil e Vice Brasil e, recentemente, narrou a série “Sangue Azul” do BuzzFeed Brasil além de ter sido escolhido como um dos Top Voices 2019 do LinkedIn.

Este ano Ale publicou o livro “Rastros de Resistência” pela editora Panda Books, no qual ele apresenta para o leitor histórias reais da luta do povo negro, como a do líder quilombola Benedito Meia-Légua. “As emoções são a minha bússola para contar uma história, seja ela realista ou ficcional. Eu sempre me pergunto o que eu posso despertar nas pessoas e fico atento quando eu estou lendo uma história, vejo se ela desperta uma emoção em mim, seja de fúria, orgulho ou poder, por exemplo. Isso forma a bússola para o que eu quero contar.”, disse.

Em entrevista ao Portal Mercadizar, Ale falou sobre o ‘Rastros de Resistência’ e contou em primeira mão o nome do seu próximo livro, denominado ‘O Último Ancestral’. Veja a entrevista completa abaixo:

Mercadizar: Você ficou conhecido após as threads no Twitter. Como as histórias que você conta saiu da internet e foi para o livro?

Ale: Eu não esperava que isso acontecesse, foi muito rápido. Depois de quatro meses que as minhas histórias estavam sendo compartilhadas no Twitter, eu comecei a receber propostas e convites para fazer algumas reuniões com editoras. 

Isso também veio depois que as minhas threads ganharam força fora do Twitter, eu comecei a dar entrevistas para veículos como Folha de São Paulo, Buzzfeed e Hypeness. Essas entrevistas que eu dei chamaram atenção das editoras. Tem vários editores que também são jornalistas, depois viraram meus seguidores e através deles as editoras também viram o que eu fazia e me convidaram.

Mercadizar: Você tem dito no Twitter que está escrevendo um livro novo. Quais são as novidades e diferenças do livro anterior para esse?

Ale: ‘Rastros de resistência’ são narrativas de personagens que existiram no nosso mundo. Ele é da história como ramo de conhecimento humano mesmo, como é ensinado nas escolas ou como deveria ser. 

Agora o meu novo livro já tem um nome, acho que não divulguei ainda em nenhum lugar, além do meu Twitter, mas o nome é “O Último Ancestral”. Nele eu vou desenvolver, uma das coisas que eu mais gosto de escrever que é ficção e afrofuturismo. Eu  já representei o Brasil numa antologia mundial de ficção científica em 2013, com um conto chamado “A cor dos seus olhos”. Então, eu quero resgatar esse meu lado de escritor de fantasia e de ficção. O “O Último Ancestral” é uma expansão da história do conto “Cangoma”, que foi lançado em 2019 por meio da plataforma “21” na coletânea “Todo mundo tem uma primeira vez”.

Threads, internet, comunicação e pautas raciais

Mercadizar: Para você, o que é uma thread perfeita?

Ale: Então, isso é uma coisa muito louca porque eu tenho isso com tudo o que eu escrevo, eu nunca acho que tá perfeito. Com relação a minha escrita eu sou bem crítico, mas acredito que uma boa thread não tem a ver com a técnica do escritor mas sim com a sensibilidade dele, o quanto ele consegue conectar imaginário coletivo com o sentimento que ele empregou na thread e com o sentimento que as pessoas tem nas redes sociais. Acho que essa conexão que faz uma thread acontecer.

Mercadizar: Como você avalia o papel da internet e das redes sociais na difusão das narrativas do povo negro?

Ale: A internet é um espaço de debate público, no qual a gente pode participar e se apropriar desse debate com todas as suas particularidades, coisas negativas e complexibilidades que esse espaço promove, porque ele também reproduz a estrutura racial brasileira. Isso faz com que algumas discussões negras sejam silenciadas, mas a gente tem a possibilidade de romper o silêncio e atingir a massa dentro da internet. Por isso, nós temos que ocupar esse espaço para conectar cada vez mais pessoas.

Mercadizar: Como comunicador e professor, como você avalia o mercado da comunicação e as questões raciais?

Ale: O mercado ainda não tá disposto a discutir representatividade de modo sério. Tem poucas iniciativas e tem gente que gosta de fazer propaganda sobre negros, mas quando você olha para dentro das empresas eles tem diversas desculpas como “Ah, mas tem que ser devagar. A gente ainda não consegue achar tantos negros para trabalhar com a gente”, além de não quererem investir na capacitação de negros para trabalhar na plataforma ou instituição. É um mercado que vive de falácia e de imagens. Está na hora de eles deixarem a imagem de lado e abaixar um pouco a voz, falar mais alto com ações e com a realidade. Eu quero ver a estrutura ser alterada de verdade. Não existe inovação se essa inovação não vier de pessoas diferentes, pois homens brancos dentro de uma sala não inovam mais. A gente precisa de mulheres e homens negros, de pessoas lgbts e indígenas…isso é uma verdadeira inovação, ela tem que está conectada com a inovação social.

Para acompanhar as threads do escritor, acesse o seu perfil no Twitter @Savagefiction. Além de “O Último Ancestral”, que tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2020, Ale promete outras novidades. “Eu tenho dado consultorias para alguns roteiristas, inclusive de cinema. Tenho conversado com alguns produtores de conteúdo para áudio e vídeo e também tenho conversado sobre a possibilidade de fazer um podcast”, contou. 

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