Patrícia Patrocínio; 17/12/2021 às 17:00

Espetáculo on-line reúne textos de escritoras latino-americanas

Idealizado por Paula Cohen e Bruno Guida, o evento mescla cenas da uruguaia Luciana Lagisquet e outras

“Mulheres que inspiram mulheres”: Com esse mote nasceu a experiência audiovisual-teatral Nosotras, idealizada por Paula Cohen e Bruno Guida e dirigida por Gabriela Brites, que estreia on-line de 21 a 30 de dezembro, com transmissão gratuita pelo Youtube da Contorno Produções.  

O trabalho é uma reunião dos textos de três dramaturgas A Garota Comum Abre um Livro de Marosa, se Molha e Perde a Virgindade do Cérebro, da uruguaia Luciana Lagisquet; Ramona, da argentina Mariela Asensio; e Dura na Queda, da paulistana Marina Filizola. Em 2021, foi incluído o texto de A Travessia no Barco da Coragem, da mineira Cidinha da Silva. Essas histórias são interpretadas por Paula Cohen, Shilrley Cruz e Luisa Micheletti, que se dividem nas cenas.

A ideia de criar esse projeto surgiu há alguns anos, quando Bruno Guida apresentou à Paula Cohen um escrito de Luciana Lagisquet sobre a poeta uruguaia Marosa Di Giorgio (1932-2004). “A partir dessa obra, que entrou para o espetáculo, tivemos a ideia de fazer uma provocação para mais autoras latino-americanas com essa proposta, ou seja, que elas escrevessem inspiradas, atravessadas por outras artistas de seus próprios países. É uma espécie de polifonia feminina de histórias contemporâneas”, conta a atriz e idealizadora do trabalho. Dessa forma, nasceram os textos da argentina Mariela Asensio, a partir da cantora folclórica Ramona Galarza, conhecida como “La noiva del Paraná”; da paulistana Marina Filizola (também autora do livro Leite em Pó), inspirado na diva Elza Soares; e da mineira Cidinha Silva, que é uma carta para Carolina Maria de Jesus (1914-1977), uma das primeiras escritoras negras brasileiras.

A experiência audiovisual-teatral é encenada em espécies de instalações criadas pelo cenógrafo André Cortez, a partir de várias referências das artes plásticas, como o trabalho da escultora cubana Ana Mandieta (1948-1985). Outra referência trazida pela diretora Gabriela Brites é a Natureza, como uma alusão à Pachamama, uma deidade que representa a figura da “Mãe Terra”, cultuada por vários povos latino-americanos que tiveram herança da civilização inca – sobretudo na região dos Andes.

Além de falar sobre essas potentes figuras que inspiram as escritoras, a missão de Nosotras é estabelecer uma espécie de diálogo entre as artistas latino-americanas e a experiência feminina, pautada pela realidade sociopolítica e histórica do continente. “São textos que carregam em si um pensamento crítico sobre diversos assuntos, especialmente sobre as estruturas perversas que nos condicionam e oprimem. Os textos encontram esse diálogo, mesmo sendo histórias bem diferentes”, explica Paula Cohen. 

“A questão da língua [já que somos o único país do continente que fala português] nos afasta, mas temos muito mais em comum do que parece. As nossas colonizações – ou melhor, invasões – foram muito parecidas, sanguinárias, violentas, dizimando povos nativos e escravizando povos africanos. As mesmas bases perversas criam as estruturas destes países e seus abismos de desigualdades, suas violências. Ainda vivemos as ditaduras de maneira muito parecida, em que muita gente foi morta e desaparecida”, acrescenta a atriz. 

O nome do projeto foi batizado de Nosotras como uma referência à primeira revista feminista do Brasil. O folhetim era escrito nos anos de 1970, por mulheres artistas latinas que estavam exiladas em Paris, na França, por conta da ditadura militar, e discutiam questões referentes às condições das mulheres.

E, embora assuma essa forma de experiência audiovisual-teatral, o projeto, que foi concebido inicialmente para o teatro presencial, pode ganhar novos formatos no futuro. “A minha vontade é que Nosotras vire uma espécie de mostra de novos textos de diferentes autoras de países latinos. Atualmente, o que mais me interessa é produzir histórias contadas por mulheres”, antecipa Paula. 

Este projeto foi contemplado pelo EDITAL PROAC EXPRESSO LEI ALDIR BLANC Nº 47/2020 “PRÊMIO POR HISTÓRICO DE REALIZAÇÃO EM TEATRO”. 

Ficha Técnica:

Idealização do projeto: Paula Cohen e Bruno Guida. Dramaturgia: Marina Filizola, Mariela Asensio, Luciana Lagisquet e Cidinha da Silva. Roteiro: Paula Cohen. Direção: Gabriela Brites.  

Elenco: Luisa Micheletti, Paula Cohen e Shirley Cruz. Direção de Arte/ Cenografia: André Cortez. Figurino: Paula Cohen. Visagista: Khatê Portillo. Coordenação de Pós: Bruna Veber. Fotografia: Luiz Maximiano. Montador/Colorista: Junior Vieira. Mixagem e design de som: Joana Cid. Finalizador: Lucas Marini. Assistente de Finalização: Santiago Acosta Cis. Assistente de Direção: Camila Maluhy. Assistente de câmera e logger: Danilo Saraiva. Assistente de direção de Arte: Carol Buček. Assistente de cenário: Ariel Rodrigues. Captação de som: Uirá de Oliveira. Alimentação: Delícias Da Ma da Lê. Apoio operacional: Diacui ludiara da Sílvia. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Identidade Gráfica e Design: Lucas Sancho. Consultoria: Carla Cristina Garcia, Estella Maris S. Franco, Célia Almeida. Co-Produção: Contorno Produções e Lady Bird. Direção de Produção: Jessica Rodrigues e Victória Martinez.  

Produção Audiovisual: Gabriela Mangieri. Produtora Executiva: Beatriz Silveira. Assistente de Produção: Laura La Padula e Giovanna Rege. Assistente de Comunicação: Carolina Henriques. Assistente de Projetos: Bianca Bertolotto.

Fonte: Assessoria 

 

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