Gabriela Auzier; 07/08/2024 às 15:00

Com estreia nesta quinta, espetáculo gratuito dá visibilidade para realidade de mulheres trans em Manaus

‘Viper Paradise: O Amor é Tão Longe’ é o primeiro espetáculo escrito, atuado e produzido por mulheres transgênero na capital amazonense

Imagem: Divulgação

O Teatro da Instalação será palco do primeiro espetáculo escrito, atuado e produzido integralmente por travestis em Manaus, “Viper Paradise: O Amor é Tão Longe”, da Companhia Transversal de Artes Integradas (@ciatransversal). Com sessões gratuitas para quinta (8) e sexta-feira (9), a partir das 19h, a obra evidencia as dificuldades enfrentadas pela população trans no processo de construir e manter afetos.

Sob coordenação das artistas transgênero Nicka e Lenine Charles, a companhia monta a peça a partir de texto de Lenine, vencedor do Concurso de Dramaturgia do XVII Festival de Teatro da Amazônia, em 2023. A classificação indicativa será de 14 anos. A direção do espetáculo é de Felipe Maya Jatobá.

A narrativa está centrada no diálogo entre duas travestis que comparam suas experiências afetivas dentro de relacionamentos, no ambiente familiar e na convivência social, questionando a marginalização e o isolamento que sofreram ao longo da vida.

Foto: Jane Uchôa

Influência oitentista

A estética da peça é construída nos anos 80, período conhecido por elementos icônicos como cores vibrantes neon, estampas chamativas, ombreiras estruturadas e cabelos volumosos.

“Viper Paradise em tradução literal é ‘Paraíso das Cobras’, nome que escolhi tendo como referências a boate Studio 54, de Nova York, que inspirou os mais diversos empreendimentos LGBTQIAPN+ daquela década. Foi nessa boate que muito ficou famosa a fabulosa entrada de Bianca Jagger sob o lombo de um cavalo. Essas e outras extravagâncias moldaram a década de 80 e seguem vivas no imaginário popular e influenciando também o mercado e a cultura pop contemporânea”, conta o diretor.

Foto: Jane Uchôa

Jatobá adianta ainda que a obra tem como base a autoficção, num jogo que se desenvolve através da troca entre atrizes e espectadores, sempre convidados para uma festa que parece não ter fim.

O espetáculo recebeu financiamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Amazonas (SEC-AM), após aprovação em edital da Lei Paulo Gustavo (LPG), em dezembro de 2023.

“É um movimento muito positivo em favor do protagonismo de pessoas que não costumam ter poder de voz em espaços culturais de Manaus”, define Lenine Charles.

Foto: Jane Uchôa

Visibilidade

Fundadora da companhia, Nicka, parceira de cena de Lenine Charles, afirma que a vontade de reverter o quadro de escassez de oportunidades de trabalho é o que a move como artista. 

“Tive a necessidade de olhar para essa roda de apagamento de vidas como a minha, de corpos como o meu, e pensar como isso poderia mudar”, conta.

A companhia Transversal surgiu em setembro de 2022 como resposta à pergunta em comum de Nicka e Lenine sobre como artistas transgênero poderiam mudar esse quadro com a própria força de trabalho ao mostrar sua arte e suas vivências.

Sinopse

Quando o amor bate à porta sem dizer quem é, você abre ou fecha? Duas mulheres de diferentes gerações compartilham suas histórias e desafios, refletem sobre a solidão, a busca por pertencimento e o desejo universal de ser amada. Antes da boate abrir, Rafaela faz de seu abraço uma casa para Manu entrar e, juntas, vão descobrindo um paraíso de possibilidades. Mas e o amor? O amor é tão longe…

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