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A pauta indígena também é uma pauta racial

Na mídia em geral, quando o assunto são pautas raciais, pouco se comenta sobre as questões indígenas, o que contribui não só para a invisibilização dos povos originários como assunto importante, mas também para a reprodução de comportamentos preconceituosos.

Assim como os negros, com a chegada dos europeus ao Brasil, os indígenas também sofreram com o processo de escravização, retirando deles qualquer direito a vida que tinham antes, assim como tentativas em apagar sua cultura, religiosidade, língua e até a autodeclaração de suas identidades.

E mesmo após oficialmente deixados de serem escravizados no Brasil, no século 18, sem acesso a terras, educação ou trabalho, não puderam ingressar como cidadãos plenos, comportamento que permanece e até hoje os impede de concorrer em condições de igualdade com os brancos.

Para o estudante de administração Joel Guedes, da etnia Desana, do Alto do Rio Negro, assim como a utilização de termos pejorativos como forma de tratamento, a invisibilidade com os povos originários é proposital.

“Há falta de interesse das pessoas em incluir e dar voz as pessoas e às lideranças indígenas. Há um comodismo ao se referir ao indígena de forma genérica, pois debater o tema de forma mais elaborada requer um cuidado e respeito que muitas pessoas não têm”, afirma.

Lutas diminuídas

Por ter o estilo de vida julgado como preguiçoso, a comunidade indígena possui muitas de suas lutas diminuídas, um exemplo diário é a utilização da forma de tratamento errada. A palavra “índio” utilizada para se referir a eles, mesmo que já explicada que homogeniza e apaga suas identidades, ainda é fortemente usada até em matérias jornalísticas, demonstrando a ausência, por parte dos veículos e profissionais, de apoio genuíno a causa.

Segundo o professor Daniel Munduruku, para fortalecer a luta em prol de direitos historicamente negados pelos brancos e não mais desvalidar as diferentes etnias, a comunidade utiliza o termo “indígena” como forma de referência que abarca diversos povos, como os Caiapós, Xavantes, Pataxós, entre muitos outros.

Outro exemplo, agora citado por Tayse Campos na live da TV 247, historiadora e líder indígena pertencente à etnia Potiguar, é o apagamento de suas identidades devido ao integralismo. De acordo com Tayse, milhares de indígenas são identificados como pardos ou preto no processo de heteroidentificação racial realizado pelos/as recenseadores/as do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Podemos perceber que se assemelha a mesma técnica utilizada antigamente para embranquecer as pessoas pretas que não nasciam tão retintas. Uma forma de preconceito que diminui, em dados, a quantidade de pessoas indígena e, consequentemente, retirá-las do foco de preocupações sobre políticas públicas.

Conhecido como um país mestiço, o Brasil possui pessoas que, devido aos relacionamentos inter-raciais, também se denominam mestiças, ou seja, são um pouco brancas, pretas e indígenas. O que em alguns casos é utilizado para disfarçar o preconceito com expressões do tipo “tenho um familiar negro, então não sou racista”.

Com os indígenas, a desculpa vem em forma de “mas eu também tenho sangue indígena, não estou sendo preconceituoso”. Outra relação é a permanência do evolucionismo positivo embranquecedor, quando um indígena caminha para “virar branco”, ao utilizar tecnologia digital ou itens considerados “da cidade”.

Racismo em forma de boa ação

Como diz o antropólogo e professor brasileiro-congolês Kabengele Munanga, muitas das dificuldades que os indígenas atualmente possuem estão ligadas a escravidão. Isso porque ela não ficou no passado e até hoje é possível se deparar com situações em que os povos originários estão em trabalho forçado em fronteiras agrícolas.

A segregação contra eles os penaliza e silencia de forma tão disfarçada que às vezes soa como um benefício quando lhes é preservado algum direito básico como acesso a educação ou terras que são suas desde sempre.

O mesmo vale para o Dia do “Índio”, comemorado em 19 de abril, que para muitas pessoas pode ser uma data que proporciona visibilidade e respeito, mas para eles por ser representada de forma estereotipadas com indígenas de cocais, todos com a mesma tonalidade de pele e seminuas em comunidades acaba apenas reforçando a exclusão sobre as comunidades.

Pode parecer coisa pequena, mas são esses pensamentos e apresentações que fazem muitas crianças crescerem com uma visão limitada sobre a comunidade indígena, reduzindo-os a pessoas de pele marrom, cabelos lisos pretos que não usam tecnologia e não vivem em cidade. Fatos prejudiciais a alguns originárois, pois por não atenderem aos estereótipos precisam ficar provando a própria identidade em diversos âmbitos da sociedade.

Até a data que deveria promover a real integração e conhecimento se torna uma apresentação arcaica, reprodutora de preconceitos. Como consequência, o indígena é visto como um ser imutável que quando visto usando celular ou graduado recebe comentários racistas, disfarçados de inocentes, como “não é mais índio” ou é “agora é um ex-índio”.

Falas e situações racistas para evitar

– Chamar o indígena de “índio” e igualar todas as etnias;

– Parodiar um indígena falando português errado;

– Usar trajes ou pinturas típicas como fantasia;

– Negar seus direitos básicos como cidadãos;

– Chamar de “ex-índio” por usar tecnologia e ter estudo;

– Não propor visibilidade e dar voz as autoridades indígenas;

– Inviabilizar seu movimento como pauta racial.

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