Thaís Andrade; 25/10/2022 às 17:00

‘Silêncio de Marias’: livro de contos retrata o machismo no cotidiano das mulheres

Utilizando o nome feminino mais comum no Brasil, Núbia Pimentel narra as nuances e os obstáculos do patriarcado no dia a dia de diferentes protagonistas

Maria Dolores, Maria Madalena, Maria do Socorro, Maria Aparecida, Maria das Graças, Maria Bonita, Maria Batista, Maria José, Maria do Carmo, Maria Edvirges, Maria Norma e Maria Flor. Mulheres com o nome mais comum do Brasil, de acordo com os 11,7 milhões de registros levantados pelo Censo de 2010 do IBGE, ganham voz no livro de contos “Silêncio de Marias”, de Núbia Pimentel. 

As histórias narradas pela escritora podem ser familiares para os brasileiros. Muitos já conheceram, ou pelo menos leram em uma matéria de jornal, casos de mulheres que sofreram violência doméstica. Também devem ter visto meninas que, com a vontade de se aventurar por um universo de brincadeiras considerado masculino, tiveram suas criatividades reprimidas. 

Nesta obra, o objetivo da autora é dar visibilidade àquelas situações que, de tão recorrentes, passam despercebidas por grande parte da sociedade. Uma das narradoras, por exemplo, relata a dura realidade de uma conhecida vizinha. No bairro, todos sabiam sobre o contexto violento em que a mulher estava inserida, mas ninguém fazia nada. O silêncio imperava. 

“Cresci em uma rua onde a maioria das mulheres apanhava dos seus maridos. Era uma rua de família. De família de mulheres que se calavam. Algumas delas ousavam expor seu penar e alimentar a falta de assunto do lugar. Certa vez, uma que sempre apanhava em público foi parar no hospital com quinze por cento do corpo queimado pela água fervendo que o marido atirara nela.” (Silêncio de Marias, pg. 8) 

“Silêncio de Marias” é composto por doze contos curtos que apresentam casos da vida de mulheres simples. São histórias singulares, mas com um fio condutor que as costuram compondo uma narrativa única. Maria é a personagem alegórica que tece as vidas de outras tantas Marias, e a voz do narrador se confunde com as dos outros personagens, revelando ciclos de silêncios peculiares ao universo feminino que, em certa medida, atravessam a existência de todos nós.

Escritora negra, Núbia Pimentel não se restringe à estrutura patriarcal do Brasil, e também demonstra os problemas do racismo em seus textos. Uma das personagens, ainda na juventude, descobre as diferenças nas relações entre pessoas pretas e brancas. São casos de vida como estes, com desfechos trágicos, outros felizes, alguns sem um ponto final, que são expostos em “Silêncio de Marias”.  

Nascida em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, a autora, que atualmente vive em Salvador, na Bahia, é pós-graduada em Literatura Brasileira pela UFRJ e formada em Arte Dramática pela Escola Técnica de Teatro Martins Pena. Há 20 anos, trabalha como professora de português para estrangeiros, além de atuar como atriz no circuito alternativo de teatro.  

Imagem: Divulgação

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