Em celebração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, o painel que homenageia o indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, assassinado em abril de 2020, será iluminado para chamar a atenção para os direitos dos indígenas e ambientalistas perseguidos e assassinados no Brasil. A obra, criada pelo artivista Mundano, será iluminada todas as noites pelo período de um ano.
No dia da inauguração da iluminação, 8 de dezembro, ocorrerá uma visita guiada do Pateo do Colégio até a Catedral da Sé, chegando, por fim, ao painel. O objetivo é engajar os guias turísticos para que passem a contar as histórias dos territórios indígenas em São Paulo. A iniciativa pretende inserir a obra no roteiro turístico da capital, em especial no percurso do Marco Zero, que historicamente limita a atuação indígena ao cacique Tibiriçá, que teria sido um colaborador fiel aos interesses dos jesuítas, silenciando vestígios históricos anteriores à chegada dos europeus.
O artivista Mundano ressalta a importância de rever a história e os seus personagens invisibilizados. “O Marco Zero tem uma história de disputa por território que aconteceu há quinhentos anos. Sangue indígena derramado aqui, e que continuou sendo derramado por todo o Brasil durante cinco séculos. Já passou do tempo dos direitos humanos serem respeitados no Brasil para todas as etnias. É necessário direcionar o olhar para as presenças invisibilizadas e recontar a história dessa cidade e do país”, afirma.
Mundano retratou Ari Uru-Eu-Wau-Wau, indígena assassinado em abril de 2020 em Rondônia, e escreveu os nomes de dezenas de defensores da floresta que também foram assassinados. A tinta usada na obra foi produzida com terra coletada no Marco Zero de São Paulo, na praça da Sé, e misturada a cinzas de queimadas da Amazônia coletadas por Mundano há dois anos.
O artivista já havia usado a técnica de produzir tintas com materiais resultantes de tragédias ambientais em 2020, quando usou lama tóxica resultante da tragédia de Brumadinho, e em 2021, com cinzas de queimadas na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal e na Mata Atlântica. Desta vez, Mundano agrega materiais que remetem a uma das maiores chagas sociais do país.
“Onde hoje temos o marco zero da maior cidade da América Latina era território indígena, que foi ocupado em um processo de expulsão e morte dos povos originários que persiste até hoje. É o que estamos vendo na Amazônia, mas também em todas as regiões onde os indígenas ainda mantêm parte de suas terras. Por isso Ari foi retratado com terra do Marco Zero e cinzas da Amazônia – ambos territórios indígenas”, explica Mundano.
A obra encerra um ciclo que o artivista chama de #releiturasmundanas, feitas no escopo do centenário da Semana de Arte Moderna e lançando as bases de uma nova modernidade, pautada pelo artivismo e pela arte pública. A produção do mural levou dez dias, foi realizada pela Parede Viva e contou com a assistência de mais quatro artistas: Everaldo Costa, Carolina Afolego, André Hulk e André Firmiano.
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