Isabella Botelho; 28/01/2022 às 11:30

#MercadizarExplica: Por que não é normal dizer que não gosta de crianças?

Nas últimas semanas, o debate em torno do ódio contra crianças movimentou as redes sociais

“Eu odeio crianças”. Essa frase parece normal pra você? 

No avião, no shopping ou no restaurante, alguma vez você já deve ter percebido uma pessoa incomodada pela presença de uma criança – da idade que for, desde bebês de colo até mais velhas. Olhares atravessados, falas ofensivas e em tom de repreensão, você nem precisa ser mãe ou pai para perceber como algumas pessoas se aborrecem com crianças em espaços públicos e de convivência social. Para muito além das reações e reclamações pontuais, movimentos, principalmente na internet, propagam a intolerância contra crianças. 

Ao redor do mundo, os movimentos denominados childfree (livre de crianças, na tradução para o português) pregam o direito de escolha de mulheres e homens de não terem filhos. Eles não se sentem confortáveis, prontos e não têm vontade de ser responsáveis por uma criança. No entanto, o que inicialmente surgiu como um movimento em apoio às pessoas que se sentem julgadas pela sociedade por não cumprirem esta expectativa, se transformou num movimento que defende até mesmo o banimento da presença de crianças em espaços diversos e incita o ódio às crianças (e aos pais) pelo simples fato de serem crianças (e serem pais). 

A verdade é que todos têm e devem exercer seu direito de escolha, mas muitos confundem o direito de não ter filhos com a normalização do não gostar de crianças. Mas qual é a diferença? Alguém pode optar por não ter filhos, mas isso não lhe dá o direito de escolher gostar de crianças ou não. Na verdade, não gostar de crianças não é uma opção, ainda mais quando a justificativa utilizada é que elas “fazem barulho”, “são inquietas” ou “não podem tudo”.

Realmente, crianças fazem barulho e são inquietas, mas elas podem. Crianças podem (e devem!) chorar, brincar, falar e gritar, pois isso faz parte do processo de desenvolvimento. Proferir frases como “essa criança não tem pais” ou “os pais não deram educação”, por exemplo, vai muito além de exercer um direito de escolha: afeta e prejudica o convívio social de pais e filhos, que não se sentem confortáveis para sair de casa. 

Ter aversão e não respeitar crianças é um ato de intolerância, assim como o ódio direcionado a qualquer outro grupo da sociedade (LGBTQIA+, mulheres, pretos, indígenas, portadores de deficiência, por exemplo). 

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