Envelhecer é um processo natural. Afinal de contas, todos nós estamos constantemente envelhecendo, não é mesmo?
Apesar disso, é muito comum em nossa sociedade pessoas sofrerem discriminação ou intolerância pela idade que têm. Este tipo de preconceito é chamado de etarismo, termo criado em 1969 pelo gerontologista Robert Butler, em inglês, como “ageism”. O preconceito pode ainda ser conhecido como “ageismo” ou “idadismo”.
Falas preconceituosas como “Você já está velha demais para isso”, “Isso não é mais para a sua idade”, “Lugar de velho é em casa” e até mesmo frases sutis como “Você não parece ter a idade que tem” partem do etarismo.
Enraizado em nossa sociedade, o etarismo pode afetar todas as faixas etárias, porém contribui principalmente para a exclusão social de pessoas com idade avançada a partir de estereótipos.
Exemplos de consequências do etarismo são a maneira como o mercado de trabalho limita idades de contratação, os maus tratos contra idosos, a dificuldade de acesso a tratamentos de saúde, a infantilização de idosos, a juventude como padrão de beleza, entre outros.
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), “uma metanálise que resumiu quantitativamente o efeito do etarismo sobre os trabalhadores idosos no local de trabalho concluiu que o processo de contratação de profissionais com idade avançada, seu progresso na carreira, suas avaliações de desempenho e suas avaliações de habilidades interpessoais foram todos afetados pelo preconceito relacionado à idade”.
O preconceito de idade influencia generalizações que consideram que todas as pessoas de uma só faixa etária são iguais e apresentam características tidas como negativas, afetando também aspectos como sexualidade e vida reprodutiva, estereótipos sobre as capacidades físicas e mentais de pessoas de idade avançada, entre outros.
Em diversos países, o etarismo impacta a saúde física e mental de idosos. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), 96% dos estudos que investigaram o impacto do etarismo sobre doenças físicas encontraram vínculos entre estes.
O relatório mostra também outras consequências para a saúde, contribuindo para uso e prescrição inadequados de medicamentos, assim como o fato de pessoas idosas correrem maior risco de contraírem doenças sexualmente transmissíveis devido à falta de informações e de campanhas voltadas para esse público.
No campo da saúde mental, de acordo com a OMS, cerca de 96% dos estudos que examinaram a relação entre etarismo e saúde mental encontraram evidências da sua influência sobre condições psiquiátricas. Depressão, deficiência cognitiva, problemas de bem-estar, isolamento social, solidão, entre outros, estão associados ao etarismo.
Padrões sociais também são influenciados pela discriminação etária, afetando principalmente mulheres que, desde cedo, passam por pressão estética em relação aos cabelos brancos e rugas e ao modo de se vestir, preconceito com maternidade em idade avançada, e outros.
É necessário deixarmos de lado o olhar negativo sobre o envelhecimento. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2060, 25,5% da população brasileira deverá ter mais de 65 anos. A chegada à velhice deveria ser considerada uma conquista. Um dia, espera-se, todos passaremos a fazer parte do grupo da chamada terceira idade.
Mas o que fazer para evitar o problema?
O etarismo, assim como diversos outros problemas socialmente enraizados, é complexo quando o assunto é a sua eliminação, pois há diversos aspectos sociais, culturais e políticos a serem levados em consideração.
Políticas públicas, leis, intervenções educacionais, campanhas e intervenções de contato intergeracionais (consideradas bastante eficazes) são algumas das estratégias recomendadas pela OMS para reduzir ou eliminar o etarismo.
Aumentar a discussão e o compartilhamento de informações sobre o assunto é uma estratégia indicada pela SBGG. “Uma das formas mais adequadas de combater o etarismo é disseminar informações pertinentes ao tema, a fim de oportunizar que a população de maneira geral tenha conhecimento sobre a velhice”, afirma o órgão.
Experimentar a senioridade de maneira plena, saudável e prazerosa é um direito de todos. Qualquer tipo de violência contra idosos deve ser denunciada pelo Disque 100.
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