Formar profissionais de comunicação, mais especificamente de Relações Públicas, para trabalhar na área de comunicação e saúde tem sido um processo desafiador e de grande aprendizado para mim. Inicialmente, me aproximei desta área graças ao Trabalho de Conclusão de Curso (o tão temido TCC) de uma orientanda, a qual desejava trabalhar com uma campanha de prevenção ao câncer. Sem leituras sobre isso, precisei começar a pesquisar e eis que de lá pra cá, posso dizer com toda convicção que tal TCC mudou a vida da aluna, aprovada com excelência, e a minha área de pesquisa. Dos aprendizados que já tive, apresento alguns que espero que inquietem também outras pessoas, sejam professores, pesquisadores, profissionais e alunos.
Primeiro: falar de comunicação e saúde é trazer inicialmente a ideia de promover a saúde através de práticas da comunicação social. No entanto, ao adentrar no ambiente que une essas duas áreas, é preciso perceber que as práticas de comunicação precisam ser feitas em um viés dialógico e educativo, bem distante dos modelos informacionais e unilaterais que ainda se fazem presentes em muitas práticas, trazendo sempre à memória a ideia de que o público da campanha é formado por pessoas sem informação sobre o objeto divulgado. Mas não é assim que funciona já que ele, o público, sempre traz uma informação inicial sobre a doença, ainda que seja equivocada.
Segundo: uma grande parte dos trabalhos que encontrei em minhas pesquisas bibliográficas dentro da área de Relações Públicas no que se refere à Comunicação e Saúde está voltada para práticas institucionais, não necessariamente trabalhos voltados para o aspecto educativo das campanhas de saúde.
Terceiro: há muitas vozes da saúde, como médicos e enfermeiros, que têm pesquisa voltadas para a área da comunicação e saúde, adentrando em espaços que deveriam ser ocupados pelos profissionais da comunicação. Há pesquisas que estão voltadas, inclusive, para investigar a qualidade das informações e alcance dos materiais impressos que são entregues por órgãos de saúde. Se eles estão estudando, por que não devemos nós estudar essa área também?!
Quarto: por causa das campanhas sazonais, como Setembro Amarelo, Outubro Rosa, Novembro Azul, Dezembro Vermelho, por exemplo, é fundamental formar profissionais que percebam a responsabilidade que eles têm ao pensarem nas campanhas de promoção da saúde, ainda que a organização em que trabalham não seja uma instituição de saúde. Por exemplo, um profissional pode trabalhar em uma organização do varejo e ali necessitar realizar a Campanha do Outubro Rosa, situação essa bem comum; e antes de sair separando a paleta de cores, precisa entender o objetivo da campanha, coletar informações sobre a doença, como sintomas, prevenção, tratamento, cura, para somente depois começar a planejar a campanha.
Quinto: o profissional de relações públicas pode fazer a imersão nessa área e contribuir grandemente com suas funções e técnicas, fazendo um trabalho que vá além do institucional, criando estratégias que alcancem os públicos que precisam ser alcançados pelas campanhas de saúde. E isso tudo com criatividade.
E, por fim, o sexto: é preciso investir em pesquisa científica na área. Em minha prática como professora e pesquisadora, tenho orientado 08 alunos que estão como pesquisadores em comunicação e saúde ou desenvolvendo o TCC dentro da temática. Os trabalhos envolvem investigação voltada para avaliar qualidade de informações específicas de campanhas, como prevenção ao HIV, de câncer de mama e próstata, de suicídio; e ainda, elaboração de jogos educativos para uso em campanhas preventivas e realização de evento que fale da necessidade da mulher cuidar do próprio corpo.
Espero que isso seja só o começo!
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