Isabella Botelho; 19/03/2020 às 17:30

O papel da comunicação durante pandemias 

Em tempos de crise como a que vivemos, devemos ficar atentos às informações

O mundo está em alerta com o avanço do novo coronavírus que surgiu em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China. A doença, causada por uma mutação do vírus, foi batizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como Covid-19. O primeiro alerta da OMS para a doença foi feito em 31 de dezembro de 2019, após autoridades chinesas notificarem casos de uma misteriosa pneumonia na cidade chinesa, metrópole com 11 milhões de habitantes e sétima maior cidade da China. 

Cerca de dois meses depois, a OMS declarou, no dia 11 de março, a pandemia de Covid-19. “Nas últimas duas semanas, o número de casos de Covid-19 fora da China aumentou 13 vezes e a quantidade de países afetados triplicou. Temos mais de 118 mil infecções em 114 nações, sendo que 4.291 pessoas morreram”, afirmou Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Mas, afinal, o que é uma pandemia? Segundo a OMS, uma pandemia é a disseminação mundial de uma nova doença. O termo é utilizado quando uma epidemia – grande surto que afeta uma região – se espalha por diferentes continentes com a transmissão sustentada de pessoa para pessoa. Atualmente, há mais de 115 países com casos declarados da infecção. Apesar do que pensamos quando imaginamos os níveis de classificação das doenças, a gravidade não entra nas definições da OMS, levando em conta apenas a disseminação da doença.

Entenda os níveis de alerta da OMS

  1. O micro-organismo do vírus influenza está circulando entre animais, mas não afeta seres humanos 
  2. A gripe animal infecciona homens e mulheres e é uma ameaça em potencial

  3. A doença aparece em casos esparsos, mas não é transmitida com facilidade entre pessoas 

  4. Já causa crises em comunidades. Esse estágio revela que a situação é grave

  5. Afeta grupos de 2 ou mais países. A pandemia é questão de tempo

  6. O problema é detectado em mais de um continente. É o nível máximo de alerta

As pandemias são eventos raros que se repetem com uma frequência aproximada de três vezes por século. No século passado, por exemplo, foram registradas três pandemias de gripe. A mais grave delas, a gripe espanhola, aconteceu entre 1918 e 1919, deixando até 100 milhões de mortos e afetando diretamente a economia e o funcionamento social de todo o mundo. E a última pandemia foi declarada em 2009, para o H1N1, que infectou cerca de 1 bilhão de pessoas no primeiro ano de detecção. 

As experiências passadas com os últimos casos de pandemia demonstram o potencial que têm de causar alarme na população e sérias alterações no funcionamento do conjunto da sociedade. As reações do público diante de uma situação de ameaça podem ser intensas e complexas, afetando suas emoções e comportamentos. Em uma situação de crise, as pessoas recebem e processam uma informação de modo diferente e, sobretudo, agem de maneira diferente. Nesse sentido, cada palavra e cada movimento são muito importantes para um público que pode estar desesperado. Há uma unanimidade entre os especialistas de saúde pública de que, sem informação, é praticamente impossível superar a pandemia de coronavírus. Isso coloca a imprensa no centro da crise e aumenta o papel da comunicação. Além disso, jornais e canais de televisão precisam se preocupar, essencial e primeiramente, em não gerar pânico. 

Uma comunicação eficaz pode ajudar as pessoas a tomarem decisões informadas, reduzir reações de ansiedade, apatia ou indignação, e minimizar o impacto negativo sobre a economia, sobre o bom funcionamento da sociedade e, em última análise, aliviar sofrimentos e salvar vidas. Por isso, é essencial que os meios de comunicação, principalmente os jornalísticos, se unam em prol de um único objetivo: a informação. 

O trabalho de um jornalista, essencialmente, vai muito além do que meramente informar. Em situações como esta, o jornalista precisa, de forma acessível, traduzir informações e contextualizar de forma que o público reflita sobre suas implicações. Ele vai fazer uma mediação, por exemplo, entre o especialista em saúde e a dona de casa que assiste ao jornal das 12h. O especialista falará sobre o avanço da pandemia nos critérios mais técnicos e, então, a função do jornalista será explicar de que modo isso interfere na realidade do seu cotidiano: seja sobre sintomas e prevenção ou sobre o número de afetados ao redor do mundo. 

Normas de comunicação de surtos epidêmicos da OMS

1. Confiança

Um dos objetivos da comunicação em situações de surtos e emergências é estabelecer uma relação de confiança entre o público e aqueles que gerenciam a situação. É fundamental comunicar-se com o público de modo a construir, manter ou recuperar a confiança.

2. Anúncio antecipado

É importante abrir fluxos de comunicação com antecedência. Isso evita declarações contraditórias. As informações devem sempre ser atualizadas à medida que haja novas notícias ou resultados. 

3. Transparência

A informação clara, de fácil compreensão, completa e fundamentada nos fatos contribui para ganhar a confiança do público. Ser transparente na hora de gerenciar cenários de incerteza ajuda a fazer com que o público entenda o processo de busca pela informação, avaliação e tomada de decisão durante uma emergência. A transparência exige trabalho de preparação por parte dos meios de comunicação, técnicos e responsáveis por responder em casos de emergência. Estes são os primeiros que devem compreender o processo. No entanto, trata-se de um grande desafio na gestão da comunicação e é preciso negociar conflitos devido a interesses econômicos e políticos que podem estar presentes.

4. Planejamento

Durante uma emergência, as atividades de comunicação tendem a ser elaborados de forma muito rápida e muito intuitiva, muitas vezes sobrepondo-se à necessidade de planejar. Antes, durante e depois de uma emergência, um planejamento prévio capacita as pessoas a responderem mais rápida e eficazmente a um desafio imediato.

5. Levar o público em consideração 

Entender o que o público pensa e deseja é indispensável para uma comunicação efetiva. As convicções e crenças do público devem ser consideradas e, mesmo que errôneas, não devem ser ignoradas e muito menos ridicularizadas. De superstições à evidências científicas, tudo deve ser objeto de consideração equilibrada para que se obtenha um melhor resultado dos objetivos de comunicação. 

Medidas dos veículos de comunicação brasileiros 

A aposta da Globo no jornalismo de serviço 

Na segunda-feira, 16, a Globo surpreendeu ao anunciar medidas nunca vistas antes a fim de ampliar o conteúdo jornalístico a respeito do Covid-19 e proteger seus funcionários da pandemia: a emissora irá interromper a gravação das novelas que estão no ar e terá 11h diárias de jornalismo.

Jornais derrubam paywall em matérias sobre coronavírus

Os principais jornais do país (Folha de S. Paulo, Nexo Jornal e Estadão, por exemplo) decidiram abrir gratuitamente suas matérias sobre o coronavírus para não-assinantes. Essa iniciativa em prol da cobertura ampla e responsável da imprensa é fundamental para barrar a disseminação de notícias falsas, que circulam nas redes sociais. 

Onde encontrar informações confiáveis? 

Nexo Jornal, O Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, Exame, Istoé, OMS e Ministério da Saúde

Transmissão, sintomas e prevenção do Covid-19

Transmissão 

A transmissão do coronavírus pode se dar através do ar, por contato, através de superfícies contaminadas e do consumo de carnes de animais silvestres. 

Sintomas

Os sintomas mais comuns são tosse (seca ou com secreção) e febre (acima de 37º). Em casos mais graves, os pacientes apresentam dificuldade respiratória aguda e insuficiência renal. Outros possíveis sintomas são: dores no corpo, congestionamento nasal, inflamação na garganta e diarreia. 

Prevenção

  • Lavar as mãos até a metade do pulso, esfregando também as partes internas das unhas;
  • Usar álcool 70% antes de encostar em áreas como olhos, boca e/ou nariz;
  • Levar o rosto à parte interna do cotovelo ao tossir e/ou espirrar;
  • Evitar multidões;
  • Usar máscara apenas se apresentar sintomas;
  • Manter distância de um metro de pessoas doentes;
  • Higienizar objetos e/ou superfícies tocados frequentemente;
  • Evitar cumprimentar com aperto de mãos, beijos e/ou abraços;
  • Se informar sobre os métodos de prevenção e sempre repassar informações corretas;
  • Ficar em casa para evitar o contato externo.

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