Isabella Botelho e Patrícia Patrocínio; 09/11/2020 às 10:00

O futuro da cultura: políticas públicas, reinvenção e novas tendências

O setor cultural foi o primeiro a paralisar e deve ser o último na retomada

A pandemia causada pelo coronavírus deixará cicatrizes, sobretudo nas inúmeras famílias que perderam seus parentes e amigos, e nenhuma esfera da sociedade sairá ilesa dos impactos gerados por essa crise. Nossos hábitos e rotinas foram adaptados e em termos de transformação digital, fizemos um avanço gigantesco. No entanto, vale ressaltar que um dos setores mais atingidos durante a pandemia foi o econômico, em especial o da indústria cultural.

O Brasil teve seu primeiro caso oficialmente confirmado em fevereiro e medidas como isolamento e lockdown foram decretados a partir de março. Com isso, eventos e espetáculos foram cancelados ou adiados, cinemas, teatros, museus, galerias, centros culturais, salas de shows, bares e livrarias foram fechados. A partir de então, a oferta cultural passou a se concentrar, basicamente, na Internet, na TV à cabo e na radiodifusão. Devido às medidas de distanciamento social adotadas para conter o avanço do vírus, as empresas de entretenimento foram as primeiras a terem suas atividades interrompidas e serão as últimas a retornar. 

A indústria cultural brasileira movimenta uma parte relevante da economia e seu faturamento médio é de R$ 209,2 bilhões ao ano, uma parcela significativa de 4,3% no PIB nacional, como aponta a pesquisa sobre o dimensionamento econômico dessa indústria, realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc); 51,9% dos eventos programados para este ano no Brasil foram cancelados, adiados ou estão em situação incerta segundo o estudo da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (ABRAPE) divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo em junho. A entidade calcula que as perdas somam cerca de R$ 90 bilhões quando a conta inclui o impacto indireto dos eventos. “Esse novo cenário, que a cadeia produtiva do setor de entretenimento está experimentando amargamente, é algo sem precedentes. Estamos falando de aproximadamente 300 mil eventos que deixarão de acontecer e milhares de empresas que apresentarão prejuízos financeiros”, ressalta o presidente da ABRAPE, Doreni Caramori.

No estudo realizado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado em abril, cujo objetivo era mensurar o efeito da pandemia de Covid-19 sobre as atividades culturais que normalmente são consumidas fora do domicílio, como cinema, teatro, museus, festivais e demais eventos a céu aberto, revelou que em três meses sem atividades desse segmento os prejuízos chegariam a R$11 milhões. O fechamento de teatros e espaços culturais afetou o ritmo das produções e suspendeu o andamento de projetos, como aconteceu com Otoni Moreira de Mesquita, artista plástico manauara: “Enquanto artista plástico, o Covid-19 foi realmente demasiado impactante, pois estava com uma exposição no Centro Cultural Palácio da Justiça que precisou ser fechada em pleno auge de visitação, contato e conversas, inclusive com a pretensão de prolongamento até o fim do ano”, afirmou em entrevista à Mercadizar. 

Este é apenas um dos milhares de exemplos espalhados pelo Brasil. Como os artistas sobreviverão nestes novos – e duros – tempos? Além da atual situação, há, ainda, outra preocupação: o futuro. Em meio a tantas incertezas, o que esperar daqui para frente? É possível que, mesmo ao fim das medidas restritivas, o público não consiga consumir o dobro de cultura (o que compensaria o período em que ela está estagnada), seja por seus orçamentos estarem mais limitados ou por hábito em si. 

O desamparo em cadeia

Os eventos funcionam em uma atuação em cadeia: fornecedores, produtores e prestadores de serviços trabalham juntos para criar experiências de interação, relacionamento e aproximação de pessoas com artistas e marcas. O setor cultural empregava, em 2018, mais de 5 milhões de pessoas, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Em comparação, no último trimestre de 2019, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) revelou que 73,2% do total desses trabalhadores são autônomos, o que demonstra um aspecto de informalidade presente no setor.

A pesquisa mais recente sobre impactos do coronavírus nos empreendedores ligados ao setor de negócios, eventos e turismo foi realizada pelo Sebrae e apresentou um dado alarmante: 98% das empresas desses segmentos foram impactadas pela crise. Em uma situação de isolamento, as ações essenciais para realização de eventos, a aglomeração e o deslocamento de pessoas, favorecem a transmissão do vírus, o que torna a atividade inviável. O Cedepar também observou a questão do desemprego em cadeia e conclui que para cada 5 profissionais que deixam de trabalhar em atividades culturais, um trabalhador de uma área relacionada é dispensado, somando 6 desempregados na economia geral.

O andamento das produções de evento é análogo a um ecossistema, portanto, quando há desequilíbrio ou interrupção em algum momento da trajetória do desenvolvimento dessa atividade, o problema se expande por toda a cadeia produtiva e coloca em risco o sustento desses trabalhadores e, como já mencionado, a maioria dos profissionais desse setor são autônomos, portanto não estão protegidos pelos direitos sociais trabalhistas e em momentos como esse se encontram desamparados.

Instabilidade na política cultural e seus reflexos na pandemia

A área cultural passa por ataque e turbulências desde a chegada de Jair Bolsonaro ao governo. Desde que assumiu o cargo, o Presidente já deu declarações de que, ao seu ver e durante seu mandato, a cultura não tem tanta importância assim. No entanto, não se conteve apenas às palavras: até agora, ao longo de quase 2 anos de mandato, foram promovidos diversos cortes no setor cultural, além do desmonte de órgãos e instituições, como o Ministério da Cultura, que foi transformado em Secretaria da Cultura e, ao longo do ano de 2019, a pasta foi alocada em Ministérios diferentes, passando do Ministério da Cidadania para o Ministério do Turismo.

Além das transferências de pasta e dos cortes realizados, ela também já foi coordenada por vários secretários. Inicialmente, por Henrique Pires, depois de Pires, o cargo foi assumido pelo economista Ricardo Braga, o economista foi, então, substituído pelo dramaturgo Roberto Alvim que após dois meses da sua nomeação, foi demitido por citar o discurso do ministro nazista Joseph Goebbels. Posterior a Alvim, a atriz Regina Duarte teve sua vez de comandar, e três meses depois de tomar posse do cargo foi exonerada e sua atuação, alvo de críticas, sobretudo, dos colegas de profissão. Desde junho, a pasta segue comandada pelo ator Mário Frias e a pergunta que fica é: até quando? 

“O ápice do desmonte é após as eleições de 2018, em que a ala reacionária da política brasileira construiu a imagem do artista como “vândalo”, “marginal” e “desrespeitoso”. Com a lista dos ministérios anunciadas, o Ministério da Cultura virou a Secretária Especial da Cultura, que teve como responsáveis Roberto Alvim, Regina Duarte e, agora, Mário Frias, nomes que vão de encontro com figuras como Gilberto Gil e Juca Ferreira que pensavam a Cultura como política pública”, analisa o gestor cultural Francis Madson em entrevista à Mercadizar.

A instabilidade na Secretaria Especial de Cultura expõe uma característica geral do atual governo que recai sobre as questões de amparo ao setor cultural, que passa por momentos delicados desde o início do isolamento social em março. As ações para tentar salvar o setor cultural foram poucas diante do tamanho da crise. Em entrevista à Folha de S. Paulo em maio, João Luiz Figueiredo, coordenador do mestrado profissional em gestão de economia criativa da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), afirmou que, para a economia criativa se recuperar do impacto do novo coronavírus, linhas de crédito subsidiados não seriam suficientes. Era necessário investir dinheiro público num plano específico para o setor

Ainda segundo Figueiredo, o prejuízo na área pode ultrapassar os R$ 100 bilhões. Agora, a maior preocupação deve ser impedir a falência das empresas do ramo. A solução esbarra, no entanto, na gestão do atual Governo Federal, que entrou em conflito público com a cultura diversas vezes e demorou a amparar a classe.

Mesmo que tardiamente, a resposta sensível à crescente mobilização dos setores culturais em todo o país veio através da aprovação da Lei 14.017/2020, também conhecida como Lei Aldir Blanc, homenageando o músico morto vítima do coronavírus em maio. O texto, sancionado em 29 de junho pelo Presidente, quatro meses após o poder legislativo declarar o estado de calamidade pública, prevê o pagamento de auxílio de R$ 600 mensais para artistas informais como parte de um pacote de R$ 3 bilhões para a área, que serão repassados da União para os estados, Distrito Federal e Municípios. 

Como refletir sobre o consumo de cultura no futuro? 

Em função da pandemia, a indústria do entretenimento encontrou nas lives uma alternativa para sua manutenção, nomes como Marília Mendonça, Gusttavo Lima e Luan Santana, por exemplo, realizaram megashows das suas próprias casas e alcançaram milhões de pessoas através das plataformas na Internet. É claro, a atividade online não dá conta de substituir os efeitos dos eventos presenciais e poucas vezes possibilita um retorno financeiro. No entanto, enquanto aguardavam as políticas públicas de amparo, os artistas e organizações desse setor buscaram maneiras criativas de continuar produzindo e arrecadando para que as pessoas continuassem a ter acesso à cultura, mesmo de casa. Visitas a museus, shows e festivais, foram disponibilizados de forma gratuita e online, grandes marcas se uniram à luta pela manutenção desse setor e passaram a patrocinar artistas independentes e segmentos diversos. As vaquinhas online se tornaram grandes correntes de arrecadação e possibilitaram a sobrevivência de inúmeros trabalhadores da área.

Outra alternativa adotada, um pouco menos democrática para o público, mas que mantém o distanciamento social e um retorno financeiro maior foram os shows em formato drive-in, evento da década de 30 que torna uma grande área aberta em um espaço de entretenimento com o uso de veículos por parte do público. Cantores como Mumuzinho, Belo e Luísa Sonza esgotaram os ingressos de seus shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Os festivais de música, por exemplo, não devem voltar a acontecer nos mesmos moldes de um ano atrás. Desde janeiro, grandes eventos como o Coachella e o Lollapalooza foram adiados e, posteriormente, cancelados. O Rock in Rio, marcado para acontecer em setembro de 2021, no Rio de Janeiro, mesmo confirmado até agora, poderá sofrer alterações no formato para adequá-lo à realidade que estaremos vivendo. Mas saindo do Brasil e voando direto para o Reino Unido, Em Newcastle,  o primeiro festival pensado para um mundo pós-pandemia foi realizado no dia 11 de agosto, na Virgin Money Unity Arena com um sistema de isolamento social inovador: a plateia de 2.500 pessoas foi acomodada em 500 plataformas de observação com capacidade de até 5 pessoas e a dois metros de distância entre elas. As plataformas foram gradualmente elevadas na parte traseira para que as pessoas pudessem ter uma vantagem de altura em relação ao palco. Os organizadores cumpriram rígidas medidas de segurança e o evento foi elogiado pelo público.

Sabemos que no campo da cultura, das artes e do entretenimento, a velocidade da retomada é diferente, mesmo em países como o Brasil que culturalmente valorizam o contato social. A vontade de sentir o calor humano e estar em interação com pessoas é realmente motivadora, na mesma medida que o medo também é. E o mínimo que o público deseja na retomada desses eventos é garantia ao máximo de sua saúde. Portanto, novas atitudes e procedimentos de atenção devem ser incluídos no momento de concepção e preparação dessas ações. E claro, sem descartar os novos conhecimentos que adquirimos neste período, principalmente, sobre o uso de ferramentas digitais. Tudo que apreendemos poderá servir inclusive para incrementar os eventos que virão. Em relação a experiência do público, o digital poderá ser um novo caminho para deixá-la ainda mais completa e diferenciada. E, no final do dia, a criatividade somada à experiência proporcionada ao consumidor se destacará.

Produção de conteúdo 

Na produção audiovisual e na literatura é muito comum que acontecimentos reais inspirem obras de ficção. Quando nossas vidas e rotinas mudaram, a produção cultural também mudou, precisando se adaptar e retratar as diversas novas realidades. O período de quarentena funcionou como uma gestação para escritores e produtores de conteúdo, que tiraram projetos do papel e até mesmo criaram outros do zero. Daí, surgiram livros, séries e podcasts sobre os mais diversos assuntos, mas principalmente sobre a pandemia.  

Para conferir algumas produções literárias e audiovisuais criadas na quarentena, acesse o QR CODE (incluir link)

Hoje, oito meses após o começo do isolamento social, as produtoras focam em retornar aos estúdios, com novos protocolos de segurança, para investir novamente em suas séries. Desta forma, um questionamento ronda a mente dos telespectadores: as tramas abordarão a pandemia?

Tema esperado principalmente em produções que acompanham rotinas médicas, como Grey’s Anatomy e The Good Doctor, produtores, diretores e executivos já adiantam que promoveram alterações nos roteiros para incluir a pandemia em suas obras. Outros apostam em novas produções voltadas especificamente para o tema, como a HBO, que anunciou que está preparando uma minissérie sobre a luta para encontrar a vacina contra a Covid-19. “A história da corrida global de vacinas contra o coronavírus: as empresas e os indivíduos colocando tudo em risco para salvar vidas, a ciência fascinante e surpreendente em que se baseia e os desafios que se colocam em torno da política, acesso e segurança”, descreve a emissora. Ainda não há previsão de lançamento para o projeto nem informações sobre o elenco.

Já a showrunner Krista Vernoff garantiu que o Covid-19 será assunto constante em sua próxima temporada de Grey’s Anatomy. A 17ª temporada da trama será como uma homenagem aos funcionários reais da linha de frente, que relatarão suas histórias para ajudar os roteiristas da série.

O mesmo acontecerá com a série The Morning Show, original da AppleTV+, que terá os roteiros de sua segunda temporada reescritos com intenção de abordar a pandemia. “Nós já gravamos dois episódios [do segundo ano] antes da paralisação causada pelo coronavírus, mas sei que estão reescrevendo os textos”, afirmou o produtor Mark Duplass ao Deadline.

No Brasil, a Rede Globo montou um hospital de campanha fictício para usar como cenário na série médica Sob Pressão. O roteiro, escrito por Lucas Paraizo, abordou a situação de quem recorreu ao sistema público de saúde durante a pandemia. Novelas da emissora também abordarão o tema, como é o caso de Amor de Mãe e Salve-se Quem Puder, que estavam no ar e tiveram as gravações suspensas até agosto.

Além do conteúdo em si, outras mudanças importantes serão vistas daqui para frente nas produções televisivas. Estúdios de todo o mundo definem rígidos protocolos de segurança para prevenção à contaminação, como higienização, testes constantes, distanciamento e até mesmo isolamento prévio das equipes.  

Situação do setor cultural do Amazonas

Em Manaus, os registros do primeiro cinema drive-in datam de 1975, com a inauguração do Auto-Cine Marrocos. Segundo o pesquisador Durango Duarte, no livro “A Sétima Arte em Manaus”, o espaço tinha capacidade para 300 carros. Quase 20 anos depois, a população manauara teve a sua disposição a experiência do formato, através de sessões de cinemas promovidas pelo Manauara Shopping e pela Pump Manaus, empresa de eventos que também realizou lives e shows drive-in.   

Logo no início das restrições, a Pump Manaus, que chegou a adiar cerca de 20 eventos planejados para o ano, entendeu que precisaria arranjar uma forma de continuar levando o seu principal produto, o entretenimento, ao público. A empresa passou a produzir apresentações ao vivo, transmitidas pela internet. Posteriormente, apostou nos eventos drive-in, buscando aproximar um pouco mais o público da experiência que se tinha antes das restrições. O palco foi adaptado e os estacionamentos viraram plateias. Segundo o empresário Bernard Teixeira, foram realizados 10 eventos neste formato em apenas um mês. 

O setor cultural do Amazonas deixou de arrecadar cerca de R$ 20,7 milhões durante os primeiros 30 dias de vigência dos decretos que proíbem aglomerações. O levantamento, feito pelo Mercadizar, leva em consideração duas bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):  A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que aponta 1,100 milhões de domicílios no estado e também o Sistema de Informações e Indicadores Culturais, que revela o gasto médio mensal das famílias amazonenses com atividades de cultura, lazer e festas de R$ 18,89.

Desde que foram decretadas as medidas de isolamento social, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa lançou a campanha “Cultura Sem Sair de Casa”, que oferece ao público aulas virtuais, com professores do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro. Outra medida também adotada pela secretaria foi a publicação do edital ‘Fica na Rede, Maninho’, com o objetivo de estimular produções artísticas e ações de capacitação durante o período de quarentena.  O edital foi apresentado como umas das ações imediatas do Governo Estadual para minimizar o impacto na cultura e foram selecionados 300 projetos de conteúdo digital com o valor individual de R$ 1.000,00. Paralisado há dez anos, o FEC (Fundo Estadual de Cultura) também foi reativado pelo Governo do Amazonas e mesmo sem estimativa de valor para receita, o dinheiro obtido de oito fontes de arrecadação deve ser destinado ao financiamento de projetos e eventos culturais, a reativação do financiamento faz parte do Plano Estadual de Cultura e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

Parintins

Para Parintins, onde a cultura é o seu oxigênio e todos os setores da cidade funcionam com uma grande cadeia produtiva que dá suporte a realização do evento cultural que ocorre tradicionalmente nos últimos três dias de junho, o adiamento do festival folclórico e cancelamento da temporada de navios turísticos deixou o município em uma grave situação econômica.

É a primeira vez em 55 anos que o maior festival folclórico do País não é realizado. Sendo o turismo e a cultura as principais fontes de renda do município, a paralisação dessas atividades deixam sequelas enormes, o dinheiro arrecadado durante o período festivo é capaz de impulsionar a economia da cidade durante o ano todo e sem a sua realização, o ecossistema de trabalhadores e empresas que garantem o funcionamento do evento é afetado.

Conforme levantamento do Departamento de Estatística da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), o Festival Folclórico de Parintins foi responsável por injetar aproximadamente R$ 426 milhões entre os anos de 2005 e 2018 na economia do Amazonas. O ano com o maior ganho registrou a movimentação R$ 46,5 milhões e o menor de R$ 19 milhões. 

O Governo do Amazonas, em uma tentativa de minimizar os impactos da pandemia na economia de Parintins, realizou a “Parintins Live”, que reuniu os itens oficiais dos bumbás Garantido e Caprichoso, em uma apresentação especial no Bumbódromo, com transmissão ao vivo em TV aberta. O dinheiro arrecadado foi direcionado para os artistas das duas associações folclóricas. No entanto, se olharmos para o contexto da cidade, os artistas dos dois bois representam apenas uma parcela dos trabalhadores que dependem do festival para sobreviver.

O que esperar do futuro?

Ao perguntarmos o que os artistas imaginam para o pós-pandemia, a resposta é quase sempre a mesma: ninguém sabe o que esperar. No entanto, por mais difícil que seja, todos concordam que o momento é de estudo, autoanálise, criatividade e, sobretudo, reflexão para novas possibilidades. Destas novas possibilidades, sem dúvidas, surgirão novas tendências culturais. Não é segredo que a cultura é um retrato da sociedade. Enquanto nos adaptávamos às nossas novas vidas, a produção cultural também buscava um novo recomeço. Se, num primeiro momento, o isolamento promoveu uma paralisia social e cultural, com o tempo, surgiram boas e grandes ideias.. 

É um momento difícil para uma área que estava em pleno crescimento e ainda é cedo para saber como será a realidade após uma possível vacina. No entanto, há certa esperança em ver a produção artística continuando mesmo em um momento tão difícil e não há dúvidas de que, presencialmente ou a distância, não perdemos a capacidade de criar obras que nos fazem pensar, sorrir, chorar e, quem sabe, imaginar dias melhores.

A cultura é considerada essencial para a vida em muitos países mais desenvolvidos. No Brasil, isso não deveria ser diferente. A área tem uma enorme importância social e econômica e, em razão disso, capacidade de gerar riqueza financeira e empregos. O investimento na cultura contribuirá para a retomada do crescimento econômico do país. Diante de uma crise como essa, percebemos ainda mais a necessidade do apoio e valorização a esse setor. Sendo assim, nossos governantes precisam fazer desse momento objeto de estudo e reflexão para gerar meios mais eficientes e modernos para fomento e incentivo.

Diante da incerteza e da dificuldade de adaptação aos novos tempos, a cultura vem ocupando espaço e cumprindo um papel ainda mais importante em nossas vidas. Ela vincula, reflete e preenche o espaço vazio deixado pelo isolamento social e serve de companhia dia após dia. Num momento de rupturas sociais e culturais como o que vivemos, percebemos que a arte sempre foi e será mais do que apenas possibilidade. Ela é necessária.

“A Cultura é intrínseca ao ser humano. Atua no próprio corpo de cada indivíduo, reverbera sua forma e função internamente produzindo bens culturais significativos que perpassam valores éticos, políticos, sociais, religiosos pela força de ser por si. A cultura será objeto e objetivo fundante de um novo período social e econômico, mas, para isso, é necessário entendermos, indivíduo como extensão da política, pois só com essa força que poderemos estimular a expressão de bens culturais de uma sociedade sem censura, inclusiva, participativa, democrática. A Arte é livre!”, reflete Madson. 

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