Sabemos pouco, ou quase nada, sobre a história e atuação de homens e mulheres africanos na construção do Brasil. Isso porque, além de grande parte de sua ancestralidade ter sido apagada durante a colonização, o pouco que se tem noção raramente é abordado na formação e educação dos jovens.
O racismo estrutural presente se dá, entre outras coisas, devido à “normalização” de diversas falas e práticas racistas que são reproduzidas em diversos ambientes, até mesmo os que deveriam educar as pessoas para se tornarem mais respeitosas.
Pensando nisso, surgiu o letramento racial. A antropóloga afro-americana France Winddance Twine, criadora da idealizadora do termo, o tem como estratégia para responder individualmente às tensões raciais, lado a lado com respostas coletivas, por meio de políticas públicas.
De forma ampla, o letramento racial busca por conhecimento sobre a temática racial com a finalidade de desenvolver a capacidade de interpretação de falas e práticas racistas que estão no nosso cotidiano a fim de banir tais ações e substituí-las por outras que promovam o antirracismo.
Sabemos que ler, escrever e criticar são práticas ensinadas e aprendidas nas escolas e com a linguagem também são passadas falas repletas de racismo e vários outros preconceitos. Pois bem, é justamente com a educação que o termo toma forma para desconstruir atitudes tão arcaicas que nem mesmo deveriam ter existido um dia.
Letramento racial nas escolas
De acordo com a lei 10.639/03, é obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas do país. Essa foi uma forma de trazer inclusão e conhecimento sobre nossos antepassados tirados de suas terras para construir o Brasil.
O principal e talvez primeiro contato com o letramento racial é na escola, onde a criança aprende sobre questões sociais na presença de outras realidades. A prática da lei é essencial na luta contra o racismo, porém quem ainda estuda ou já finalizou o ensino médio, sabe que raramente se vê sobre isso durante a vida escolar.
Ainda que escassa na escola, o ensinamento do letramento racial é apresentado aos estudantes não apenas em textos, mas também com práticas de mundo, observando a representatividade dos negros em outros ambientes, assim ofertado aos docentes que façam abordagens étcnico-raciais durante as aulas, exemplificando como lidar com manifestações racistas que ocorrem no espaço escolar.
Propostas na prática no letramento racial
– Reconhecimento que ser branco lhe proporciona privilégios e reafirmar que o racismo como um problema atual e não apenas um legado histórico;
– Entender que identidades raciais são aprendidas, resultados de práticas sociais e que podem ser desconstruídas:
– Identificar, contextualizar e excluir do vocabulário expressões racistas;
– Saber como identificar atitudes preconceituosas e bani-las;
– Conhecer e ensinar as histórias e culturas africana e afro-brasileira, mas não apenas por obrigação imposta por lei.
Para que o tema vire pauta diária na vida de todos, é necessário que envolva não somente os negros, mas principalmente os brancos. Não se trata de uma questão “politicamente correta”, o propósito do letramento racial é banir o racismo por meio da reeducação.
É preciso que as pessoas tomem também a iniciativa de buscar informações, ler, assistir e ouvir sobre a temática produzida por pessoas negras. Lhes dar ouvido, pois essa é a vez e voz de fala deles sobre o assunto.
Se questionar frequentemente sobre quantos negros há na sua sala de escola, faculdade ou trabalho, bem como quantos professores negros ou livros escritos por eles você tem. É preciso romper as barreiras do pensamento e educação tradicional branca que foi ensinada.
A educação, além de histórica e cultural, deve ser descolonizadora e antirracista. Ensinada com esses pilares, ela formará não só estudantes mais conscientes, mas familiares, educadores e uma sociedade mais respeitosa.
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