Hilana Rodrigues; 21/07/2021 às 16:00

Entendendo o que é ansiedade social

A ansiedade generalizada é bastante conhecida, mas você sabia que há uma classificação dela que faz com que a pessoa tenha medo excessivo de interagir com outras pessoas?

Não é tão incomum se perceber ou ouvir que alguém está ansioso ao ter que interagir com novas pessoas ou até sair da zona de conforto com o que diz respeito a interação no meio social. O que para alguns pode ser apenas um leve nervosismo por fazer algo em público, para outros trata-se de uma ansiedade social.

O transtorno de ansiedade social (TAS) é uma condição de medo excessivo a situações que envolvam contato social, seja para ações eventuais ou situações corriqueiras. Já de início é bom deixar claro que a ansiedade social não se compara a uma timidez ou introspecção.

A psicóloga Virginia Karla (CRP 20/10.969) alerta sobre a importância de diferenciar esses pontos visto que a ansiedade social é um medo enraizado de ser avaliado negativamente pelas pessoas, desde conversas comuns, a comer algo ou até situações que envolvam desempenho frente a outros.

“Diferente da timidez em que as pessoas mesmo com vergonha ainda socializam e depois fica tudo certo, no TAS existe um sofrimento intenso, não é algo que aparece em alguns dias. É preciso compreender quando isso começou, em que situações acontecem, como acontece para assim poder diferenciar dos demais tipos de ansiedade, por isso a importância de ir até um profissional capacitado para tal avaliação”.

Autodiagnostico e tratamento

As causas desse transtorno ainda não estão 100% estabelecidas, mas assim como na ansiedade “comum” e em diversos outros transtornos ou doenças, é de suma importância que o indivíduo procure ajuda médica em vez de se autodiagnosticar.

No caso da ansiedade social, o diagnóstico é necessário para que o transtorno não se agrave e atrapalhe outros momentos da vida adulta. Porém, para a realização do diagnóstico e o tratamento adequado também é necessário um desafio já implícito no transtorno: ter a conversa e ser avaliado por um profissional, justamente o medo que quem sofre dessa condição evita.

Um ponto importante para que possa ser tratado no início é a observação de crianças muito tímidas, seja ao falar com adultos ou outras crianças, ou procurar ajuda profissional nos primeiros sintomas de ansiedade que a pessoa sentir, visto que a ansiedade em si pode se dividir em outros tipos, como neste caso a ansiedade social.

“E digamos que seja o caso de essa pessoa ter, ela não vai saber dizer se é uma ansiedade generalizada, social, agorafóbica ou de pânico, então ela vai pegar dicas na internet de como melhorar. Acontece que a dica que vale pra um, nem sempre vale ao outro e se não der certo a pessoa vai se frustrar e acabar adiando mais a procura de ajuda psicológica, e se for dando certo ela vai continuar adiando, porque vai achar que só isso basta, o que acaba de todo jeito se tornando uma bola de neve no final”, afirma Virginia.

Sobre as pesquisas na internet para entender se pode ter ou não ansiedade social, Virginia alerta para que a pessoa não se prenda aos sintomas que são citados em sites. Para a produção desta matéria, por exemplo, a especialista se absteve em citar alguns dos sintomas justamente para que o leitor não se autodiagnosticar e dispensar ajuda profissional.

“A primeira coisa a se fazer é procurar um profissional para que seja feita uma avaliação e compreensão sobre o caso. Seria irresponsável da minha parte dizer alguns sintomas no qual as pessoas possam se identificar. Somente o profissional poderá fazer a distinção da ansiedade social da ansiedade generalizada, compreender como ela começou e receitar maneiras eficazes de tratamento”.

No tratamento, são receitados desde mudança do estilo de vida com hábitos saudáveis como cuidados com sono, alimentação balanceada, meditação e exercícios físicos e até a utilização de medicamentos prescritos por um médico.

Há pessoas predispostas a ter ansiedade social?

Seguindo de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V 2014), as pessoas mais propensas a terem o TAS são indivíduos do sexo feminino. O manual é responsável apenas por apresentar os dados e não analisá-los, mas a psicóloga abre um parêntese que pode ser debatido.

“Se pararmos para analisar que mulheres, desde jovens, são ensinadas a serem quietas, caladas e julgadas a todo momento por erros mínimos, torna-se ‘compreensível’ que exista essa prevalência atrelada às mulheres. Que exista esse medo de ser avaliada negativamente frente aos demais. E quando são mulheres pretas a discussão precisaria ir muito mais a fundo, se pensarmos que carregam dois demarcadores que silenciam e adoecem que é o de gênero e o de raça”, afirma.

Um passo importante para quem sofre dessa condição é o tratamento específico, que varia conforme o quadro de cada paciente, assim como a intensidade dos sintomas. “A intensidade com que eles aparecem vai variar de acordo com a experiência e vivência de cada sujeito, assim como se esse paciente é resistente a terapia ou não, a forma como ele aceita o diagnóstico”. 

Virgina ressalta para a importância de seguir o tratamento até o fim, visto que em alguns casos, quando a pessoa consegue estabelecer um relacionamento, acredita finalmente estar “curada”, mas se caso rompida a relação pode acontecer de voltar ao quadro de fobia social.

Ansiedade social na pandemia

A ansiedade social é associada não só nos momentos presenciais, mas também percebida nas situações virtuais em que vivemos devido a pandemia de Covid-19.

Ainda não há pesquisas que retratam algum aumento nos casos de TAS com a presença do isolamento social, muito menos uma suposição de uma situação pós-pandemia. Para Virgina, o que pode-se supor é que alguns casos tenham se intensificado neste momento estressante.

“O transtorno de ansiedade social geralmente é desenvolvido na infância e adolescência, segundo o DSM V (2014) é raro que aconteça na fase adulta, e quando acontece, geralmente ocorre após um evento estressante, humilhante ou mudanças na vida que exijam novos papéis sociais.”

Mesmo que a pandemia seja um evento estressante, a profissional não acredita que ela se encaixe nos quesitos do TAS, e que talvez seja preciso, após a pandemia, reavaliar todos os transtornos psicológicos tendo em vista que muitas coisas mudaram o trabalho, estudo e relações sociais.

A grande recomendação neste momento, ainda durante a pandemia, é que quem já sofria de ansiedade, procure ajuda psicológica. “Se você percebeu que a ansiedade vem lhe impedindo de realizar seus sonhos, carreira, relacionamentos, é importante procurar ajuda para entender o que de fato está acontecendo e ter ajuda de alguém capacitado para isso”, recomenda Virginia.

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