Isabella Botelho e Patrícia Patrocínio; 18/11/2020 às 18:00

16 dias na escuridão: a população amapaense está sem luz, água, energia e informação

Conversamos com moradores de Macapá, capital do estado, que revelaram a situação da população após dois apagões em apenas um mês

O Amapá registrou um novo apagão na noite da última terça-feira, 17, por volta das 20h30. 13 das 16 cidades do estado que já estavam com fornecimento racionado por causa do blecaute ocorrido em 3 de novembro voltaram a ficar no escuro. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), o sistema elétrico apresentou uma instabilidade e as causas ainda estão sendo investigadas. Já o Operador Nacional do Sistema (ONS), confirmou que houve novo desligamento no Amapá às 20h30.

“O transformador da subestação Macapá não apresentou problema, a UHE Coaracy Nunes está gerando energia e a CEA, distribuidora local, está inspecionando as linhas e subestações para identificar a causa da ocorrência”, informou em nota.

Em entrevista ao Mercadizar, Leonilda Silva, que reside no município de  Macapá, capital do estado do Amapá, moradora do bairro Muca, um dos principais bairros afetados pela instabilidade elétrica, relatou: “Aqui a situação é triste, infelizmente a gente vem passando por dificuldades que antes a gente não vivia, como estávamos vivendo a pandemia nós já vínhamos enfrentando problemas, a cidade estava começando a reabrir; durante a pandemia eu fiquei desempregada, não conseguia trabalho e estava sobrevivendo com a venda de máscaras, quando as coisas estavam começando a andar veio o apagão.”

Dona Leonilda é costureira há mais de 30 anos e nos contou que, com a pandemia, tornou-se um hábito fazer ranchos para o mês inteiro, devido às dificuldades de deslocamento por conta das medidas de segurança adotadas pelo município. 

“Eu e muitos fazíamos compras no supermercado para o mês todo, então, quando o apagão veio, para não termos que jogar tudo que foi comprado no lixo nós tivemos que preparar e comer o que foi comprado para 15 dias em 3”.

Perguntada sobre o que as autoridades do município estão fazendo a respeito, ela afirma: Eu não recebi visita de autoridade nenhuma. Se a gente liga,  ninguém atende, se a gente vai atrás de algum órgão para saber de alguma coisa sobre a nossa situação, a gente não tem isso”.

Buscando pelo suporte que lhes foi negado, ela e outros moradores do estado se reuniram e criaram um grupo em um aplicativo de mensagem que serve como uma rede de apoio onde eles se mantêm atualizados. Nós criamos um grupo no whatsapp onde tem várias pessoas do estado inteiro e que a gente pergunta um do outro o que tá acontecendo e como tá a situação de cada um, o que um sabe informa os outros.”

Desde o suposto incêndio ocorrido no dia 3 de novembro que atingiu a principal subestação de abastecimento do Amapá, causando problemas no fornecimento de energia em todo o estado, todos os municípios estão vivendo um sistema de rodízio elétrico. “No início era de 6 em 6 horas, mas aí mudaram e passou a durar de 3 a 4 horas, mas nada é certo,  a gente não pode se programar para fazer as coisas por que não sabemos ao certo que horas vai ter energia”.

A  instabilidade da energia e a falta do cumprimento dos horários estabelecidos pela companhia elétrica está deixando prejuízos sem tamanho na vida dos trabalhadores, como afirma a costureira. “Meu vizinho trabalha com pães caseiros e ele já perdeu várias produções, o apagão veio levou o resto do dinheiro que se tinha. Ontem à noite aconteceu outro apagão, a energia era para ter voltado às 19h e deveria  ir embora às 11h, mas ela funcionou só até às 20h e o meu vizinho me perguntou e agora? será que a energia volta em tempo de assar o pão? a gente tem vivido assim, um dia atrás do outro sem ter expectativa do que vai acontecer.”

Segundo dona Leonilda, não há esclarecimentos e informações: “No dia da eleição, a energia funcionou quase o dia inteiro de 7h da manhã às 22h, enquanto estava sendo apurado os votos, nem parecia que o estado estava enfrentando esses problemas de energia, mas infelizmente a eleição só dura um dia e no dia seguinte voltamos para a mesma situação”. 

Além do descaso das autoridades públicas tanto a nível regional quanto nacional, a costureira também citou a desatenção da mídia com o que está acontecendo no estado. “Pra ser sincera, não sei se a mídia tá escondendo ou é porque a gente não consegue nem assistir jornal. Eu não sei se eu tô sendo injusta nesse ponto de dizer que tá escondendo, mas quando a gente consegue assistir o jornal, a gente vê pouca coisa falando sobre o que está acontecendo”. 

O abastecimento de água também continua comprometido devido o problema elétrico. “Os hospitais aqui estão lotados, não só o índice de Covid aumentou muito no estado e nos municípios também e, como se não bastasse, tem mais o problema que a maioria das crianças que estão no hospital da criança daqui de Macapá está com problemas de diarreia e vômito provocado pela falta de água potável. O preço da água subiu imensamente e, como não tem energia, não tem água na maioria das casas. O povo ia lá para o Rio Amazonas tomar banho, fazer necessidades e as crianças, infelizmente, bebiam a água do rio, que não é potável. A gente está em frente ao maior rio do mundo e não temos água potável na cidade para tomar”. 

Como se não bastasse todas as dificuldades que a população Amapaense está enfrentando, dona Leonilda revelou que ela e inúmeras  pessoas do estado foram surpreendidas esta semana com uma fatura de energia maior que o normal. “Hoje pra ser sincera eu nem consigo expressar como eu me sinto, nem revolta e nem indignação, eu recebi a fatura de energia deste mês com um valor superior ao do mês passado. Sinceramente, ninguém aqui sabe dizer quando isso vai se resolver ou se vai se resolver.”

Hoje, 18 de novembro, faz 16 dias que os municípios do Amapá estão sem o fornecimento regular de água e energia. Com uma população com aproximadamente 862 mil pessoas, esse estado da região Norte vem sofrendo com o descaso das autoridades públicas e com a negação aos cidadãos de direitos básicos presentes na Constituição.

E o questionamento fica: E SE NÃO FOSSE O AMAPÁ?

 

*O Mercadizar não se responsabiliza pelos comentários postados nas plataformas digitais. Qualquer comentário considerado ofensivo ou que falte com respeito a outras pessoas poderá ser retirado do ar sem prévio aviso.