Isabella Botelho e Patrícia Patrocínio; 08/06/2022 às 12:00

Proteger os rios da Amazônia é preservar os oceanos

Tão importante quanto falar sobre a preservação de florestas e oceanos é discutir a proteção dos rios amazônicos

Frequentemente a discussão sobre a preservação do meio ambiente,  é associada a questões como desmatamento, queimadas, proteção das florestas, mares e oceanos. No entanto, tão importante quanto falar sobre a preservação de florestas e oceanos é discutir a proteção dos rios amazônicos.

A Bacia Amazônica é o maior sistema hidrográfico do planeta. Abrangendo oito países, incluindo o Brasil, sua área é equivalente ao território continental da América do Norte. Além disso, são cerca de 25 mil quilômetros de rios navegáveis, distribuídos em mais de 6 milhões de quilômetros quadrados, dos quais, aproximadamente, 4 milhões estão somente no Brasil. 

O principal rio da Bacia Amazônica é o Rio Amazonas, composto por mais de mil afluentes. Ele nasce na Cordilheira dos Andes, no Peru, e entra em território brasileiro em Tabatinga, município do Amazonas, como Rio Solimões. Este, ao se encontrar com o Rio Negro, forma o Rio Amazonas. Com uma extensão de 6.992 quilômetros e uma vazão média de 210 mil litros de água por segundo, ele deságua direto no Oceano Atlântico, o segundo maior do mundo, na ilha do Marajó, no Pará. 

Segundo a WCS Brasil, uma organização brasileira sem fins lucrativos dedicada à conservação das regiões amazônicas, as águas da Amazônia são responsáveis por aproximadamente 16% de toda água doce que chega aos oceanos, transportando, assim, toda a matéria depositada pelas regiões que são alcançadas pelo Rio Amazonas e seus afluentes.

Em 2019, a Expedição Silent Amazon percorreu 1,5 mil quilômetros de rios, entre o Amazonas e seus afluentes, para coletar amostras das águas. O levantamento identificou que, além da poluição por resíduos sólidos, as águas do rio Amazonas estão contaminadas por uma variedade de compostos químicos, entre microplásticos, agrotóxicos e outras substâncias. Além do problema visível, o rio Amazonas lida ainda com a contaminação silenciosa causada por atividades ilegais de exploração. 

Por outro lado, a Rede Ambiental Mídia, formada por cientistas e jornalistas, revelou, a partir de dados públicos, que 20% da Bacia Amazônica já está altamente impactada por atividades de mineração e geração de energia. Além disso, o levantamento aponta para a importância das terras indígenas na proteção dos rios. De acordo com o estudo, em mais de 80% dos territórios protegidos pelos povos originários o impacto sobre as bacias foi considerado médio ou baixo. No entanto, tal proteção não é capaz de impedir o avanço dos garimpos ilegais e a degradação. 

Segundo a pesquisa “Mercury Contamination: A Growing Threat to Riverine and Urban Communities in the Brazilian Amazon”, mais da metade dos moradores da zona urbana de Santarém, no Pará, apresentam níveis de contaminação por mercúrio até quatro vezes superior ao limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, a pesquisa aponta que mesmo quem vive a 300 quilômetros de distância dos garimpos ilegais está exposto aos malefícios do mercúrio. 

Ainda em relação à poluição das águas amazônicas por resíduos sólidos, de acordo com a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana de Manaus (Semulsp), em média 35 toneladas de lixo são retiradas das águas da cidade diariamente. Além de vegetação, são retirados também resíduos como garrafas PET, plásticos, papéis, metais, materiais diversos e dejetos residenciais que são jogados em igarapés ou que chegam à orla. Questões como essas são uma clara consequência da falta de saneamento básico, do descarte irregular de materiais e da exploração ilegal das águas. 

Tratando-se especificamente do saneamento básico, que abrange serviços essenciais como abastecimento de água potável, coleta e tratamento correto de esgoto e resíduos sólidos de drenagem urbana, a Região Norte, que abriga grande parte da Bacia Amazônica, possui a pior média nacional, segundo estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil em 2020. Já de acordo com o Ranking ABES da Universalização do Saneamento, divulgado em 2019, apenas 8,67% dos municípios e 43,04% da população da Região Norte têm acesso a saneamento básico. 

Em síntese, o lixo e a contaminação produzidos se misturam a todo segundo, às águas dos oceanos e mares. E, apesar da abundância, os recursos naturais são finitos e, a longo prazo, os efeitos dessa degradação começarão a se apresentar em larga escala. Embora vivamos numa sociedade que entende pouco ou quase nada sobre como cuidar da terra e preservar seus recursos naturais, ainda podemos mudar esse cenário e a mentalidade da população por meio da propagação do conhecimento. 

Essa transformação, é claro, começa de cima para baixo. Precisamos aprender a cobrar de nossas autoridades a fiscalização, execução e elaboração de Leis que sejam suficientes e que sejam cumpridas com rigor, para manter a integridade não só das florestas, como dos rios da Amazônia. Sem a proteção dos rios amazônicos, não existe preservação dos oceanos. 

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