Durante o verão de 2024, os amazonenses vivem um cenário alarmante marcado por olhos irritados, dificuldade para respirar e um clima seco extremo. Moradores de cidades e zonas rurais, especialmente nos municípios do sul do Amazonas, enfrentam desafios diários que ameaçam sua sobrevivência.
A combinação de crimes ambientais e mudanças climáticas intensifica os problemas, com um aumento preocupante dos focos de calor na Amazônia Legal, apesar da redução no desmatamento.
Pedro Geraldo, orientador educacional e residente de Lábrea, compartilha seu sofrimento em meio à fumaça que permeia a cidade. “Acordar com fumaça é insuportável, e para minha família, que já tem problemas respiratórios, a situação é crítica. Precisamos ir ao hospital frequentemente para tratar asma e outras complicações”, desabafa.
Seu relato é um dos muitos que compõem a série “Entre a fumaça e a seca: vozes do sul do Amazonas”, uma iniciativa do Coletivo Jovens Comunicadores do Sul do Amazonas (Jocsam), que visa dar voz às dificuldades enfrentadas pelos habitantes da região.
As dificuldades não se restringem apenas à saúde. Em Humaitá, a fumaça compromete a rotina dos moradores, com muitos precisando de atendimento médico.
Del Belfort de Moraes, membro de uma rede de desenvolvimento sustentável, explica que as queimadas dificultam o escoamento da produção agrícola e o acesso a serviços essenciais, como escolas. “Os preços dos alimentos estão subindo e muitos produtores têm dificuldade em levar suas mercadorias ao mercado”, destaca.
A expansão da fronteira agrícola, principalmente na região conhecida como Arco do Desmatamento, é um dos principais motores das queimadas. Segundo Hildeberto F. Macedo Filho, especialista em Ciências Ambientais, as queimadas são frequentemente utilizadas para abrir áreas para o agronegócio.
“Observamos que as queimadas estão mais intensas nas proximidades das rodovias, onde o desmatamento avança”, aponta. A rodovia BR-319, em particular, tem sido um catalisador para a degradação florestal na Amazônia.
Apesar de uma leve redução nos focos de calor no estado do Amazonas, a situação permanece alarmante. De setembro de 2023 a setembro de 2024, a região ainda enfrenta um número elevado de focos, o que indica a continuidade das práticas de queima, muitas vezes associadas ao manejo inadequado de áreas já desmatadas.
“Embora tenhamos visto uma redução, o número de focos ainda é preocupante, especialmente devido ao impacto na saúde da população”, ressalta Heitor Paulo Pinheiro, especialista em geoprocessamento.
Em resposta a essa crise, a comunidade indígena Apurinã criou a Brigada Indígena de Incêndio na Terra Indígena Caititu, um esforço para proteger seu território das queimadas. Com 23 brigadistas treinados, a brigada tem se mostrado essencial na prevenção e combate a incêndios florestais, garantindo a segurança alimentar da comunidade.
“Estamos lutando para preservar nossos sistemas agroflorestais que são vitais para nossa subsistência”, afirma Tata Apurinã, membro da comunidade.
Com uma situação crítica que exige atenção imediata, a série “Entre a fumaça e a seca” busca conscientizar a população e influenciar políticas públicas eficazes.
“Queremos dar voz às comunidades que muitas vezes são ignoradas, destacando a importância de ações efetivas para enfrentar os desafios impostos pelas queimadas e pela seca”, concluem os jovens comunicadores.
O futuro da Amazônia depende de medidas que garantam a justiça social e a preservação ambiental, refletindo um compromisso com a vida das comunidades que habitam essa rica e ameaçada região.
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