Sofia Lourenço; 22/03/2025 às 11:32

Dia Mundial da Água: Seca histórica na Amazônia expõe desafios da gestão hídrica no Brasil

A crise hídrica na Amazônia e os desafios do Brasil na preservação da água evidenciam a urgência de políticas sustentáveis para garantir esse recurso essencial

Arte: Mercadizar

No Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, a crise hídrica na Amazônia levanta um alerta sobre a necessidade de políticas sustentáveis para a preservação dos recursos naturais. Em 2024, a região amazônica enfrentou uma das piores secas da história, com rios atingindo níveis críticos, dificultando o abastecimento de comunidades ribeirinhas e comprometendo a biodiversidade local. Especialistas apontam que eventos extremos como esse podem se tornar mais frequentes devido às mudanças climáticas e ao desmatamento.

Imagem: Reprodução/Luiz Claudio Marigo

A estiagem severa registrada no ano passado impactou diretamente a navegação nos principais rios amazônicos, isolando cidades e dificultando o transporte de alimentos e medicamentos. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o fenômeno foi agravado pelo El Niño, que altera os padrões climáticos globais, reduzindo o volume de chuvas na região Norte do Brasil. Além disso, a destruição da floresta contribuiu para a diminuição da umidade no ar, tornando os períodos de seca ainda mais intensos.

Imagem: Alex Pazuelo/ Secom

Os impactos da escassez de água vão além da dificuldade de transporte. Em Manaus, o Rio Negro registrou a maior vazante da história em outubro de 2024, atingindo 12,11 metros, enquanto outros rios apresentaram redução drástica no volume. A baixa nos níveis fluviais afetou a pesca, fonte de sustento para milhares de famílias, e colocou em risco espécies aquáticas fundamentais para o equilíbrio ecológico. Além disso, comunidades indígenas e ribeirinhas tiveram que recorrer a soluções emergenciais para garantir o acesso à água potável.

No Acre, o impacto das mudanças climáticas e da degradação ambiental também se manifestou de forma alarmante em 2025, quando fortes chuvas provocaram inundações históricas. O transbordamento dos rios Acre, Juruá e Purus desalojou milhares de famílias e contaminou fontes de água potável, intensificando a crise sanitária.

Diante desse cenário, pesquisadores e ambientalistas reforçam a necessidade de medidas urgentes para preservar os recursos hídricos da Amazônia. A restauração florestal e a criação de políticas públicas voltadas para o uso sustentável da água são algumas das soluções apontadas para mitigar os efeitos da crise hídrica.

Imagem: Arquivo Pessoal

“A floresta tem um papel fundamental no ciclo da água, e sua degradação impacta diretamente o regime de chuvas. Precisamos repensar o modelo de desenvolvimento na região”, afirma o pesquisador Ingo Daniel Wahnfried, doutor em hidrologia.

A crise na Amazônia reflete um problema que atinge todo o Brasil. Dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) indicam que, apesar de 83,6% dos brasileiros possuírem acesso ao serviço de abastecimento de água, apenas 53,2% da população é atendida com coleta de esgoto, e 46,3% possui tratamento de esgoto.

Além disso, a falta de infraestrutura de saneamento básico contribui para a contaminação dos mananciais, afetando a qualidade da água disponível. No semiárido nordestino, comunidades ainda sofrem com períodos prolongados de seca e dependem de carros-pipa para suprir suas necessidades básicas. Atualmente, 344 municípios da região estão em situação de emergência ou calamidade pública, sendo atendidos pela Operação Carro-Pipa.

Imagem: Reprodução/ Planet / SCCON / Programa Brasil Mais

Neste Dia Mundial da Água, o debate sobre a preservação dos recursos hídricos se torna ainda mais urgente. Organizações ambientais e movimentos sociais reforçam a importância da conscientização e da cobrança por políticas públicas eficazes para garantir a segurança hídrica da população. Entre as iniciativas em andamento, destacam-se projetos de recuperação de nascentes e programas de educação ambiental voltados para o consumo responsável da água.

A crise hídrica na Amazônia serve como um alerta para o futuro. Se medidas concretas não forem adotadas, eventos extremos como a seca de 2024 e as enchentes de 2025 podem se tornar cada vez mais frequentes e severos, ameaçando não apenas o bioma amazônico, mas o equilíbrio ambiental do planeta.

Esses eventos extremos não apenas afetam o equilíbrio ambiental, mas também impactam diretamente a segurança hídrica e a saúde das populações locais, especialmente as mais vulneráveis. 

Em declaração à Secretaria de Saúde de Rondônia, do Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Edlei Timbó Passos diz que “a dificuldade no abastecimento de água gera estresse e prejuízos financeiros, especialmente entre as populações mais vulneráveis”.

Preservar a água é um compromisso coletivo, que exige ações imediatas e investimentos em infraestrutura, saneamento e conservação ambiental para garantir que o Brasil não enfrente um colapso hídrico nos próximos anos.

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