Comunicação

O impacto das fake news no cérebro e na formação de opinião

Em um mundo onde a informação circula em velocidade recorde, o cérebro humano enfrenta um desafio crescente: distinguir o que é real do que é falso. Estudos revelam que as chamadas fake news não apenas influenciam decisões e opiniões, mas também alteram o funcionamento da memória e da forma como processamos a realidade. Com apelos emocionais e estratégias que exploram vulnerabilidades cognitivas, a desinformação tem se espalhado com facilidade e deixado marcas profundas na mente humana.

De acordo com os estudos de Daniel Kahneman e de Amos Tversky, pioneiros na psicologia cognitiva, explorados no livro “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar (2011)”,  o nosso cérebro foi moldado para tomar decisões rápidas com base em informações limitadas, utilizando o que a psicologia chama de heurísticas, ou atalhos mentais. Esses mecanismos nos ajudam a lidar com o excesso de estímulos do dia a dia, mas também nos tornam mais suscetíveis a erros. É nesse contexto que surgem fenômenos como a “memória seletiva” e o “viés de confirmação”, tendências de lembrar e aceitar apenas o que reforça nossas crenças prévias. 

Imagem: Mercadizar

Outro fator é o viés de autoridade, que ocorre quando damos mais credibilidade a informações ditas por figuras influentes, como políticos ou líderes religiosos, ainda que sejam falsas.

O apelo emocional é outra principal ferramenta por trás da eficácia das fake news. Ao atrelar mentiras a sentimentos fortes como medo, raiva ou indignação, essas informações falsas ganham força e viralizam com mais facilidade. Temas moralmente sensíveis, como religião e política, tendem a provocar maior engajamento e menos questionamento. É nesse terreno emocional que a desinformação se fortalece.

As consequências aparecem na forma como tomamos decisões. Informações falsas podem criar falsas memórias, distorcendo fatos e levando pessoas a “lembrar” de eventos que nunca aconteceram. Essa manipulação da memória impacta escolhas importantes, de votos em eleições a recusas de vacinas. Quando as decisões se baseiam em dados errados, os efeitos se espalham da esfera individual para a coletiva, comprometendo políticas públicas, avanços científicos e o convívio social.

Bolhas de desinformação

A formação de opinião baseada em fake news e no consumo exclusivo de conteúdos que reafirmam crenças pessoais é um fenômeno cada vez mais comum e perigoso no ambiente digital. Em vez de buscar informações diversas e confiáveis para formar uma visão crítica e equilibrada, muitas pessoas se prendem a bolhas informacionais que apenas reforçam o que já acreditam. Isso é amplificado por algoritmos de redes sociais, que priorizam conteúdos similares aos que o usuário já interagiu, criando um ciclo de retroalimentação.

Esse comportamento está ligado ao viés de confirmação, um atalho mental (ou heurística) que leva o cérebro a dar mais atenção, importância e credibilidade a informações que confirmam ideias prévias, ignorando ou rejeitando dados que as contradizem. Quando fake news se encaixam nessas crenças pessoais, especialmente sobre política, religião ou saúde, elas não apenas são mais facilmente aceitas, mas também compartilhadas com convicção. O resultado é uma formação de opinião distorcida, baseada não em fatos, mas em narrativas fabricadas que reforçam identidades e convicções, o que dificulta o diálogo e agrava a polarização social.

Impactos na saúde mental e no tecido social

Segundo o artigo “Influência das fake news no Transtorno de Ansiedade Generalizada”, publicado na Brazilian Journal of Health Review, por Taís Lages do Nascimento, em 2024,  a exposição excessiva às fake news, especialmente aquelas com teor alarmante, pode desencadear diversos efeitos negativos na saúde mental. Temas sensíveis como segurança pública, política ou saúde costumam ativar respostas emocionais intensas, como medo, raiva e ansiedade. Essa sobrecarga emocional, aliada à dificuldade de distinguir o que é verdadeiro ou não, pode provocar sensação de impotência, insegurança e contribuir para o agravamento de transtornos como a ansiedade generalizada. 

A disseminação de fake news vai além dos danos individuais e compromete a confiança coletiva em instituições, na imprensa e até nas relações sociais. Quando diferentes grupos passam a acreditar em realidades paralelas, o diálogo se fragiliza, a polarização se intensifica e o consenso em decisões públicas torna-se cada vez mais difícil, minando a convivência democrática e o senso de comunidade.

Como identificar notícias falsas

Para enfrentar esse cenário, é essencial estimular o pensamento crítico e a educação midiática desde cedo, preparando as pessoas para questionar e checar informações. O cérebro pode ser enganado, mas também pode ser treinado: buscar fontes confiáveis e refletir antes de compartilhar informações é uma forma de proteção mental e um compromisso com uma sociedade mais informada e equilibrada.

Uma das maneiras mais eficazes de identificar fake news é observar algumas de suas características mais comuns: títulos sensacionalistas, falta de autoria ou fontes confiáveis, erros de ortografia e gramática, uso excessivo de letras maiúsculas e pontos de exclamação, além da ausência de dados verificáveis. Também é importante desconfiar de mensagens que apelam fortemente para emoções, como medo ou raiva. Diante de uma informação duvidosa, é recomendável consultar agências de checagem, como Lupa, Aos Fatos e Comprova, e verificar se a mesma notícia foi publicada por veículos jornalísticos reconhecidos. Desenvolver esse olhar crítico é fundamental para romper o ciclo de desinformação.

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