Thaís Andrade; 13/01/2023 às 11:00

Lenovo inclui idiomas indígenas Kaingang e Nheengatu em seus notebooks

Em risco de extinção, línguas estarão disponíveis em dispositivos voltados ao varejo com sistema operacional Linux

A Lenovo anunciou a integração de dois idiomas indígenas, Kaingang e Nheengatu, em seus notebooks voltados ao varejo (linhas IdeaPad e Yoga), embarcados com o sistema operacional Lux, novo software customizado pela empresa para seus dispositivos, desenvolvido sobre a plataforma Debian Linux. Os primeiros notebooks com as novas opções de idiomas já começaram a ser vendidos no final de dezembro de 2022.

A iniciativa faz parte do projeto de Revitalização de Línguas Indígenas Ameaçadas de Extinção lançado pela Motorola, empresa de mobilidade do Grupo Lenovo, que em 2021 incluiu os dois idiomas em modelos de smartphones com Android 11 vendidos em todo o mundo. O projeto foi realizado em parceria com Wilmar D’Angelis, doutor em Linguística, professor no Departamento de Linguística da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e especialista em línguas indígenas, além de tradutores nativos das línguas faladas nas regiões da Amazônia e do Rio Grande do Sul, que traduziram cerca de 85 mil expressões e 500 mil palavras nas duas línguas.

“Um dos elementos mais importantes para caracterizar a identidade cultural de um povo é o idioma. A inclusão do Kaingang e do Nheengatu em nossos dispositivos é parte de nossos esforços em contribuir com a preservação das línguas dos povos originários brasileiros, em linha com nossa missão de levar tecnologia inteligente para todas as pessoas”, afirma Ricardo Bloj, presidente da Lenovo.

De acordo com a Unesco, uma língua indígena pode desaparecer a cada duas semanas, o que resultaria no desaparecimento de aproximadamente 3 mil idiomas até o final do século. A Assembleia Geral das Nações Unidas, inclusive, declarou o período de 2022 a 2032 como a Década Internacional das Línguas Indígenas (IDIL 2022-2032), para mobilizar a sociedade em torno da preservação desses idiomas.

A língua Kaingang pertence à família linguística jê, a qual, por sua vez, pertence ao tronco linguístico macro-jê e é falada por mais de 30 mil pessoas distribuídas nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e região oeste do estado de São Paulo. Já a língua Nheengatu, também conhecida como língua geral amazônica ou tupi moderno, é uma língua que pertence à família tupi-guarani, sendo então derivada do tronco tupi, e é falada por cerca de 14 mil pessoas na região amazônica brasileira, colombiana e venezuelana.

O Lux e a inclusão do Kaingang e Nheengatu

O software Lux é fruto de um projeto que teve início há cerca de dois anos, desenvolvido pela Lenovo em parceria com profissionais do laboratório de pesquisa e desenvolvimento da companhia no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), inaugurado em 2021. Inicialmente, o projeto tinha o foco em conceber um sistema operacional com recursos específicos e desenvolvidos para os notebooks Lenovo, incluindo questões de conformidade de segurança e nova identidade visual, seguindo padrões da empresa, além de disponibilizar repositório para aplicar atualizações.

Ao longo do desenvolvimento do Lux, os profissionais da Lenovo discutiram com a equipe de globalização de software da Motorola a possibilidade de embarcar o Kaingang e o Nheengatu como opções entre os idiomas no novo software, uma vez que as línguas já faziam parte da iniciativa de revitalização das línguas indígenas. A escolha pelas duas línguas aconteceu, além do alto risco de extinção, pelo fato de serem idiomas com amplo material de pesquisa e publicações pelo centro especializado em estudos de línguas indígenas da Unicamp, parceira na iniciativa.

No total, cerca de 40 pessoas fizeram parte do desenvolvimento do Lux e da integração dos idiomas no sistema operacional, entre engenheiros e arquitetos da Lenovo, técnicos do IPT e pesquisadores e tradutores indígenas de Kaingang e Nheengatu.

Hildebrando Lima, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Lenovo, destaca o investimento da Lenovo em P&D e a possibilidade de contribuir com a comunidade local, a diversidade e a inclusão.

“A Lenovo investe cerca de R$ 200 milhões em P&D no Brasil, e parte desse investimento é destinado a pesquisas com foco em inclusão. Ainda que a quantidade de usuários que irão utilizar os idiomas não seja alta, o valor da conquista para ajudar a manter as línguas vivas é incalculável.”

Inclusão de outros idiomas ameaçados

Em 13 de dezembro de 2022, em evento na sede da UNESCO que teve como objetivo discutir como integrar e preservar línguas indígenas do mundo todo, a Motorola anunciou a próxima fase do projeto, além de comunicar uma parceria com a UNESCO para realizar mais pesquisas sobre o impacto e o potencial de digitalizar línguas indígenas em risco de extinção.

Junto à Motorola, a Lenovo espera em breve disponibilizar outros idiomas em seus PCs, como o Cherokee, falado por nativos da América do Norte, que foi incluído nos smartphones da empresa em 2022.

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