Antes de qualquer coisa, gostaria de começar com um questionamento: afinal, por que dançar?
Bem, a dança é uma das expressões humanas mais antigas e conhecidas desde os rituais aborígenes até aos saraus privados na corte do Rei Sol, o Luiz XIV. A história da dança se perpetua às diversas formas que temos hoje, como através das escolas, academias, cursos livres e as universidades. E por que não falarmos daquela que, eventualmente, fazemos nos nossos momentos de diversão? Na baladinha, na famosa valsa de casamento ou até mesmo com as quadrilhas de São João e em todas as suas demais pluralidades. São muitas as formas e eu posso garantir, estamos sempre rodeados delas!
Mas, hoje, no dia mundial da dança, pergunto novamente: por que dançamos? Eu diria que antes de ser uma linguagem artística e/ou científico a dança é, sobretudo, uma comunicação. Quando dançamos estamos comunicando tantas coisas, sabe? O nosso corpo é uma fonte de afetos, desejos, registros e códigos. São impressões que precisam ser expressas e ao dançarmos, imprimimos no espaço sentimentos e pensamentos através de uma linguagem não verbal que carrega consigo um papel fundamental na nossa sociedade e na nossa comunicação.
O corpo que dança, seja ele qual for, transmite antes de tudo, sua identidade.
A arte busca gerar reflexão, questionar e entender como você pode contribuir às questões que estamos inseridos. E nesse momento de distanciamento social – aproveitando para lembrar que, se puder, #fiqueemcasa – como a dança e a arte podem estar presentes? Como podemos estar interligados ainda? Bom, com toda certeza os seus maiores passatempos e distrações tem sido através das plataformas de streaming ou na internet com as redes sociais, né? Pois é, a dança tem se feito presente assim também!
Vemos diariamente dança naqueles vídeos do Instagram, no Tik Tok que o amigo compartilha no stories, nos filmes, séries ou musicais e a Netflix pode provar isso – risos, mas há também dança através da resistência, com luta e o fazer artístico contínuo daqueles que estavam nos palcos e que agora precisam se reinventar para que haja uma comunicação e um alcance ao seu público. É assim que companhias independentes de dança renomadas do Brasil assumiram um papel fundamental neste momento em que não podem continuar suas temporadas de espetáculos e sua devida manutenção e rentabilidade. A exemplo disso, temos a Focus Cia de Dança que realiza aulas de dança contemporânea de segunda a sexta-feira através de lives no seu Instagram (@focusciadedança) e a Cia de Dança Deborah Colker (@ciadedançadeborahcolker), que disponibilizou seus últimos espetáculos que estavam em temporada no seu canal do YouTube para livre acesso.
E aqui no Norte, temos o Balé Folclórico do Amazonas (@bfa.am) e o Corpo de Dança do Amazonas (@amigosdocda), ambas são companhias do Governo do Estado que seguem buscando possibilitar experiências e conhecimento com seu público através de aulas, challenges e compartilhamento de trechos dos seus espetáculos que há mais de 18 anos sempre tiveram o palco do Teatro Amazonas como sua morada e agora se recodificam através de uma necessidade social.
A arte modifica e reconfigura um ambiente. Não é preciso você estar num palco para dançar, mas uma vez que você dança, você consegue ficar sem dançar por muito tempo? Muito mais do que celebração da dança nessa data comemorativa, é podermos celebrar as suas possibilidades, os sentimentos que são expurgados através dela, os posicionamentos políticos/sociais que um espetáculo pode nos trazer, a reflexão acerca das relações humanas, a comunicação que acontece para além do visual. É uma conversa sem precisar dizer uma palavra. Quando os bailarinos dançam, nós dançamos juntos através do que eles nos envolvem.
Hoje, gostaria de poder celebrar o dia mundial da dança no Teatro Amazonas assistindo algum espetáculo ali, vivo, pulsante, que eu me sentisse feliz por ter vivido aquele momento, mas guardo essa sensação para um próximo momento onde os corpos de fato nos abracem antes, durante e depois da apresentação. Agora, sigo acompanhando os artistas e seus grupos em busca de outras formas para permanecerem dançando, acima de tudo, em nós.
Comecei perguntando por que dançar, né?
Mas queria finalizar perguntando: E por que não dançar?
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