Nayá Costa; 15/03/2020 às 18:30

Ladies That UX Manaus

O grupo promove a visibilidade do público feminino no universo do design

O setor de tecnologia gera mais de 1,3 milhões de empregos no Brasil, mas somente 20% dos profissionais que atuam no mercado são mulheres*. Ladies That UX é o nome de uma comunidade global formada por mulheres que tem como objetivo reunir e promover o público feminino que trabalha com tecnologia. O grupo surge nesse cenário dominado anteriormente por homens e se propõe a dar às mulheres a oportunidade de ampliar seus horizontes no universo T.I. Elas incentivam, capacitam e apoiam novos talentos.

Mas o que é UX? Segundo Jacob Nielsen e Don Norman, UX é a experiência do usuário, abrangendo toda e qualquer interação dele com a empresa, seus serviços e produtos. O UX trabalha para melhorar a experiência do usuário desde o primeiro contato até o uso diário de determinado produto ou serviço. O conceito é uma das tendências de mercado em 2020, onde a conexão entre cliente e empresa ganhou foco.

Apesar do mercado amazonense de tecnologia ser ocupado em larga escala por homens, são as mulheres quem mais fazem uso da tecnologia. Um estudo realizado pela PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) revelou que somente em 2018, as mulheres do Amazonas estiveram muito mais ligadas a tecnologias do que o sexo oposto*. Assim, o Ladies That UX age para incentivar estas mulheres a conquistarem espaço no mercado de trabalho.

*Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 

Ladies That UX em Manaus

A organização é dividida em capítulos que representam suas respectivas cidades, e Manaus é um deles. Segundo Thalita Torres, o grupo chegou na cidade em 2019. “Fiz um curso em São Paulo e me incluíram num grupo de WhatsApp, o Ladies That UX SP” conta Thalita, que preencheu um formulário demonstrando interesse em trazer o grupo para a cidade.

O primeiro evento que o Ladies That UX Manaus participou foi logo em 2019, durante o Jungle’s DevFest. Dayanne Brandão e Jessica Pinheiro, outras participantes do grupo, falaram em nome das Ladies. A partir daí, o grupo foi ganhando forças e conquistou outras mulheres através de eventos, palestras e mesas redondas em que toda a comunidade é convidada a participar. Segundo Thalita, a expectativa é grande para 2020, “estamos ansiosas para divulgar cada uma delas”. 

Hoje, a iniciativa busca dar visibilidade às profissionais da região por meio de eventos, onde elas podem mostrar seus trabalhos e assim, incentivar outras mulheres. Thalita destaca a importância de dar voz à essas profissionais e a importância de discutir a participação de mulheres no design. “Essas temáticas precisam de espaço para serem evidenciadas e esclarecidas” afirma Thalita. 

Entrevista com Thalita Torres 

Existe hoje, em Manaus, representatividade feminina no design?

Manaus é uma região em constante crescimento e que recebe bastante visibilidade por conta de tecnologias emergentes. Em meio a esse cenário é possível identificar a representatividade feminina no design acontecendo naturalmente nas empresas, com números cada vez mais significativos.

Atualmente, as mulheres são maioria no local onde trabalho e realizam projetos profissionais imensuráveis. No entanto, ainda há poucas mulheres em posição de liderança em comparação aos homens, por exemplo. É preciso que busquemos ocupar mais cargos de visibilidade, tornar essa conquista natural para nós, mulheres. 

Você já teve seu trabalho menosprezado (ou conhece alguém que teve) por ser mulher?

Ainda que a gente lute incisivamente contra o machismo e o patriarcado, é comum ouvir relatos de mulheres que se veem em meio a situações desse tipo e infelizmente não é incomum que esses relatos estejam próximos de nós.

Normalmente essas atitudes incluem a redução do papel de fala durante alguma reunião importante, em que definições de processos ou projetos são determinantes; ou a apropriação de alguma ideia já mencionada por uma mulher, mas só significativa quando algum homem a repete como se a ideia fosse original dele. São vários os relatos e tipos, e é primordial ressaltar a importância da nossa voz e lugar de fala, para reduzir essas distâncias cada vez mais.

Você já recebeu menos que um homem trabalhando no mesmo cargo?

Sim, e infelizmente é algo que podemos ver com frequência no mercado de trabalho. Existem mulheres em posições de liderança que o salário se iguala ou é inferior ao de homens que ela mesma gerencia ou coordena, o que é totalmente injustificável.

Às vezes há também o acúmulo de funções e o fato de que nós, mulheres, podemos usar de nosso direito de maternidade e nos afastar do cargo por um período maior. São questões levantadas por empresas (com pouca empatia) como algo a influenciar nas questões salariais mas que, na verdade, são unicamente de nosso direito. 

Uma maneira de começar a pensar na resolução dessa problemática, de acordo com minhas vivências e experiências, é que as pessoas e empresas sejam transparentes em relação à posição salarial, para que essas discrepâncias sejam cada vez menores. Um assunto apenas deixa de ser tabu e começa a ser ouvido quando falamos sobre ele.

*Essa e outras matérias da Revista Mercadizar você encontra neste link

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