Tuane Silva; 24/08/2022 às 09:30

Virada Cultural Amazônia de Pé lança programação em Santarém

Atrações musicais e teatrais chamam a atenção para a proteção da Amazônia

Entre os dias 3 e 10 de setembro acontecerá a Virada Cultural pela Amazônia de Pé, em alusão ao Dia da Amazônia, comemorado no dia 5. A cidade de Santarém, no Pará, receberá a programação que encerra a Virada no dia 10, a partir das 19h. Na Praça de Eventos da Anysio Chaves, o Palco Amazônia de Pé trará teatro infantil e carimbó, além de shows coletivos de trap e música popular paraense, e encerrará a noite com um encontro de mulheres no palco: as Suraras do Tapajós convidam Thaline Karajá e Maria Gadú. O evento será gratuito e terá atividades espalhadas pelo Brasil.

Realizado pela ONG NOSSAS em parceria com centenas de organizações, a Virada Cultural Amazônia de Pé é uma ação coletiva e em rede. O objetivo é fazer a maior mobilização nacional pela proteção da Amazônia, que, segundo o Imazon, nos últimos 12 meses teve o maior índice de desmatamento em 15 anos. Além das organizações que integram a Virada, centenas de escolas, aldeias, coletivos e movimentos estão organizando ações culturais como forma de conversar com os brasileiros sobre a urgência em salvar a floresta que ainda se mantém de pé.

Foto: Divulgação

Em Santarém, com o formato de shows coletivos, o Palco Amazônia de Pé busca ser um lugar de encontros e de celebração da cultura e dos povos originários. Além de apresentações teatrais para as crianças, com a Vaca Lusa e o Bailado de Carimbó, o festival recebe encontros de vários artistas amazônicos: o show Vozes da Amazônia reúne Mestre Chico Malta, Hermes Caldeira, Osmarino, Paulinho Barreto, Cristina Caetano, Adria Góes, Vitória Gato, Rawi, El Puxirum, Priscila Castro, Silvan Galvão, Nato Aguiar e Nilson Chaves. Apresentando a cena jovem de rap tapajônico, o show Coletivo de Trap de Santarém traz GP Rataria, Kovac, Kaus Mc, Prime, Iank Miller, Monaliza e AlterNativos. Finalizando a noite, o primeiro grupo de carimbó de mulheres indígenas do Brasil, as Suraras do Tapajós, recebem no palco a cantora e ativista que participou do The Voice Brasil, Thaline Karajá, e a cantora, compositora, instrumentista, produtora e ativista brasileira Maria Gadú.

“Nós, artistas que trazemos a Amazônia nas nossas letras, ritmos e trabalhos, vamos estar unidos em um coletivo cantando em defesa da Amazônia”, afirmou o cantor e compositor Silvan Galvão. Para ele, a cultura será a grande porta-voz em defesa da Amazônia, com seus artistas ecoando a necessidade da proteção da floresta. “A nossa expectativa é sensibilizar o público de uma maneira mais artística, chegando pelo entretenimento a uma conscientização. A gente não vai só cantar; vamos nos manifestar em defesa da Amazônia”, acrescentou Silvan.

 

Manifestar Amazônia

Em conexão com os coletivos e movimentos do Tapajós, a Virada Cultural Amazônia de Pé será realizada em Santarém ao lado do Festival ManíFestar, uma coalizão cultural e política em defesa da floresta e de seus povos. O evento terá atividades em Santarém, Alter do Chão e comunidades indígenas e quilombolas da região. Além de bate-papos e ações de ativismo, a programação integra o Grito Ancestral, uma grande assembleia do povo Tupinambá que discute políticas de sobrevivência e defesa de seus territórios.

“A cultura tem sido uma forte aliada para manter a Amazônia de pé. Cada vez mais, estamos vendo a bandeira de luta dos povos indígenas sendo levantada por artistas em shows, teatros, ruas e diversos outros espaços culturais. Essa forma de manifestação contribui para públicos diversos atentarem para essa pauta tão importante para nós”, explica a ativista indígena, artista e mobilizadora da campanha Amazônia de Pé, Leila Borari.

Foto: Divulgação

A campanha

A mobilização faz parte da campanha Amazônia de Pé, uma proposta de projeto de lei de iniciativa popular que pretende proteger a floresta através da destinação de mais de 57 milhões de terras públicas, que são o principal alvo do desmatamento e garimpo na região. A campanha foi lançada em maio e, em menos de dois meses, já conta com mais de 15 mil ativistas coletando 1,3 milhão assinaturas ao redor do Brasil e do mundo, com ativistas em todos os estados brasileiros e em países como Portugal, França, Alemanha e Estados Unidos. Para que o projeto chegue até o novo Congresso Nacional em 2023 e vire lei, são necessárias 1,5 milhão de assinaturas físicas. Se aprovado, grande parte de terras desprotegidas ficam aos cuidados de populações indígenas, quilombolas e comunidades de pequenos extrativistas, e viram unidades de conservação da natureza, como garantia de que, através de uma relação harmônica com a floresta, a Amazônia permaneça de pé.

Mais de 180 organizações, coletivos e movimentos já aderiram à campanha, assinando e levando o projeto aos territórios onde atuam. Entre essas centenas de instituições estão o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM, a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos – CONAQ, o Comitê Chico Mendes, o Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e o Movimento de Mulheres Camponesas – MMC, que assinaram e contribuíram na escrita da lei. Para que a campanha chegue, de fato, a todo o país, essas organizações fazem parte de uma grande mobilização que tem como objetivo fazer o Brasil parar na semana do Dia da Amazônia para ouvir e conversar sobre como o desmatamento na região impacta a vida de todos os brasileiros.

“O Dia da Amazônia já é um dia muito importante no Brasil, mas não é uma data que seja feriado no país inteiro. Ainda não é um dia em que todos os lugares pautam a Amazônia, como outras datas celebrativas no Brasil. A ideia é que, na semana do Dia da Amazônia, todos os equipamentos culturais, todos os artistas, onde quer que estejam, falem sobre a Amazônia. A gente acredita no poder da cultura de transformação social, de movimentar imaginários e atingir diversos territórios. A cultura tem poder de polifonia, de transformar algo que é duro em ação, em poesia, em coletividade. A cultura é capaz de ‘hackear’ os sistemas, e através da voz da cultura a gente pode falar coisas que muitas vezes são censuradas. Historicamente, a cultura tem um papel muito importante em movimentos sociais e políticos”, explica Helena Ramos, coordenadora de produção e cultura da Amazônia de Pé.

 

 

Como participar da Virada Cultural

Produtores culturais são convidados a realizarem eventos públicos que pautem a crise climática, mas também os cidadãos comuns podem se mobilizar, do seu jeito, e inscrever uma atividade que movimente seu bairro, família e amigos pela causa. Além de eventos públicos ou privados, de shows musicais a atividades infantis e de cine-debates a jantares privados, qualquer cidadão pode reunir grupos de amigos, de família, comunidades de bairro e produzir encontros privados para reverberar a campanha e chamar atenção para a situação crítica do desmatamento no Norte brasileiro.

O processo de inscrição pode ser feito através do site até o dia 3 de setembro, cadastrando informações sobre o evento e seu responsável. Para eventos públicos, é necessário adicionar informações sobre endereço, horários e programação. Eventos privados podem colaborar no mapa adicionando a natureza do evento e a cidade onde ele será realizado. O mapa no site já conta com mais de 100 eventos cadastrados, e o público pode conferir os eventos confirmados e se programar para participar desse movimento em defesa da Amazônia.

 

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