Thaís Andrade; 26/10/2023 às 12:00

Segundo estudo, poluição aumenta risco de câncer de mama

Primeiro estudo que analisa esta correlação foi apresentado no Congresso Europeu de Medicina Oncológica, que terminou na última terça-feira, 24, em Madri, na Espanha.

Mulheres que moram e trabalham em ambientes com altos níveis de poluição atmosférica por partículas finas têm maior risco de desenvolver câncer de mama, quando comparadas com aquelas que vivem e trabalham em locais com melhor qualidade do ar. A conclusão é do primeiro estudo que analisa o impacto da poluição residencial e no local de trabalho sobre o câncer de mama. O trabalho científico foi apresentado no Congresso Europeu de Oncologia Médica (ESMO), que terminou na última terça-feira, 24, em Madri, na Espanha.

O estudo foi realizado pelo Departamento de Prevenção do Câncer e Meio Ambiente do León Bérard Comprehensive Cancer Centre, na cidade de Lyon, no sul da França, sob coordenação da médica Beatrice Fevers. Os pesquisadores compararam a exposição à poluição residencial e no local de trabalho de 2.419 mulheres com o diagnóstico de câncer de mama com 2.984 mulheres sem o histórico da doença entre 1990-2011. Os resultados mostraram que o risco de câncer de mama foi 28% maior em locais que apresentavam níveis de 10 μg/m3 mais elevados de partículas finas. Essa diferença se assemelha à concentração de partículas (PM2,5) entre as áreas rurais e os centros urbanos. Mulheres expostas a partículas maiores apresentaram riscos menores à doença.

Segundo o médico oncologista da Oncologia D’Or, Gilberto Amorim, o risco ao câncer é maior em locais mais poluídos porque as micropartículas penetram profundamente nos pulmões, alcançam a corrente sanguínea e podem ser absorvidas por tecidos como os das mamas. Estudos prévios já haviam demonstrado mudanças na arquitetura da mama atribuíveis à poluição. 

“Ainda é preciso estudar se esses poluentes permitem que células do tecido mamário já predispostas a mutações carcinógenas se expandam promovendo o crescimento tumoral ou se causam um processo inflamatório crônico”, afirma o médico.

O especialista admite que até hoje os cientistas desconhecem o mecanismo que leva esses micropoluentes e micropartículas de plástico a provocar vários tipos de câncer. Com as crescentes evidências epidemiológicas e biológicas dessa ligação da exposição dessas nanopartículas como promotoras de câncer há fortes evidências clínicas para reduzir a poluição e, consequentemente, a incidência de câncer.

O estudo apresentado no ESMO 2023 está em linha com a proposta de Comissão Europeia de reduzir o limite da exposição das nanopartículas (PM2,5) de 25 para 10mcg/m3 até 2030.

“Nós médicos e cientistas devemos pressionar para que isso ocorra no mundo inteiro, não apenas na Europa. Esses dados não encerram o assunto, mas oferecem uma clara direção e uma nova dimensão de política pública em saúde” afirma Gilberto Amorim.

 

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