Thaís Andrade; 30/03/2023 às 13:00

Proteção da Amazônia e seus povos é destaque entre os finalistas do Prêmio Megafone de Ativismo

Objetivo do prêmio é mostrar as questões que mais movimentaram a sociedade no ano passado, por meio das ações escolhidas como finalistas em suas categorias

A projeção de obras de oito artistas amazonenses em copas de árvores à beira do Rio Negro (AM); o ato em defesa do rio Arapiuns (PA) feito nas águas, com pequenos barcos comuns na região; e o Guia Amazônia Legal e o Futuro do Brasil, que denuncia o impacto ambiental do último governo nos nove estados que compõem a região, estão entre os finalistas do Prêmio Megafone, primeira e única premiação do ativismo brasileiro.

Entre os trabalhos realizados no ano passado unindo arte e ativismo em prol da Amazônia estão também iniciativas denunciando a violência na região, tais como a série de manifestações em todo o Brasil por ocasião dos 26 anos do massacre em Eldorado dos Carajás, a manifestação contra o genocídio dos Yanomamis ocorrida em Boa Vista, Roraima, a denúncia contra assassinatos na Amazônia e o cartaz pedindo justiça para o assassinato do ambientalista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.  

A questão indígena se fez presente em finalistas, como a ocupação de lideranças indígenas pela demarcação de seus territórios no Acre, o ato em defesa dos povos da floresta no X Fórum Social Pan-amazônico e o filme “O Território“, sobre a invasão de terras indígenas em Rondônia. Já o filme “Agachados“, sobre as enchentes do rio Negro, promove uma reflexão sobre o racismo ambiental e a crise climática. Também concorre a música que denuncia a exclusão das populações locais dos planos para a Ilha de Marajó.

Entre os jovens ativistas que concorrem ao prêmio estão Bia Caminha, jovem negra, bissexual e feminista que foi a vereadora mais jovem eleita em Belém (PA); Beka Munduruku, ativista indígena que usa a comunicação para denunciar os impactos do garimpo; e e Raiara Barros, ativista de Xapuri, no Acre, cidade de Chico Mendes. Txai Suruí, fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e uma das mais influentes vozes do movimento indígena brasileiro, concorre ao Megafone do Ano.

Os premiados serão revelados a partir de 10 de abril pelas redes sociais em vídeos protagonizados pela atriz e humorista Nathalia Cruz, e receberão um troféu, que é também uma obra de arte feita pelo artivista Mundano.

Uma das características do Prêmio Megafone de Ativismo é mostrar quais foram as questões que mais movimentaram a sociedade no ano passado, por meio das ações escolhidas como finalistas em suas 14 categorias. Na primeira edição, os finalistas traduziam o cenário gerado pela pandemia da covid-19 e questões socioambientais. Nesta segunda edição, a democracia marcou presença, junto com temas relacionados a direitos humanos, tais como violência contra a mulher, discriminação racial, desigualdade social e justiça climática. Houve um aumento de 20% nas inscrições, que vieram de todas as regiões do Brasil, com destaque para Norte e Nordeste, que juntas representam 45% das inscrições.

“A segunda edição do Prêmio Megafone ampliou a diversidade de temas e impressiona pela qualidade e criatividade das ações. Também é marcante a maior presença de mulheres e jovens entre os inscritos e os finalistas”, detalha Digo Amazonas, do Megafone Ativismo, organização responsável pelo prêmio junto a uma coalizão formada por Greenpeace Brasil, Pimp My Carroça, WWF Brasil, Engajamundo, Instituto Socioambiental e Sumaúma.

Na categoria Cidadão Indignado, 80% dos finalistas são das regiões Norte e Nordeste, que respondem também por 60% dos finalistas nas categorias Ação Direta e Jovem Ativista. Nesta última, todas as finalistas são mulheres. Na categoria Cidadão Indignado, todos os finalistas são negros.

Confira a seguir as categorias e os finalistas

Megafone do Ano: esta categoria é de indicações diretas do júri, sem inscrições do público. Este ano, concorrem ao prêmio Txai Suruí, fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e uma das mais influentes vozes do movimento indígena brasileiro; Paulo Galo, fundador do movimento Entregadores Antifascistas, que teve papel determinante para dar visibilidade às condições degradantes de trabalho dos motoboys; Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial, diretora do Instituto Marielle Franco (de quem é irmã) e uma das mulheres do ano segundo a revista “Time”; Rita Von Hunty, persona criada por Guilherme Terreri Lima Pereira – professor, ator, influenciador e drag queen; e Richarlison, jogador de futebol profissional brasileiro engajado em diversas causas sociais e ambientais.

Ação direta: esta categoria destaca ações ativistas presenciais e diretas, ou seja, que ocupem algum espaço para uma denúncia ou para impedir uma injustiça, por exemplo. Mais da metade (60%) dos finalistas são das regiões Norte e Nordeste. Um deles é o ato em defesa do rio Arapiuns (PA), feito nas águas com pequenos barcos comuns na região, chamados de rabetas – uma iniciativa do coletivo de jovens do PAE Lago Grande. A série de manifestações em todo o Brasil por ocasião dos 26 anos do massacre em Eldorado dos Carajás, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), também concorre ao prêmio desta categoria, assim como a manifestação contra o genocídio dos Yanomamis ocorrida em Boa Vista, Roraima, do Levante Popular Roraima. Um memorial pelas vítimas da covid, instalado pela Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da covid-19, e uma intervenção artística em defesa da democracia, do Coletivo Nós Artivistas, ambos na cidade de São Paulo, também concorrem ao Megafone de Ação Direta.

Arte de rua: abrange grafite, lambe-lambe, intervenção, performance, projeção em vídeo ou qualquer outra linguagem artística que tenha acontecido na rua. Nesta categoria, 40% dos finalistas são mulheres e 50% são das regiões Norte e Nordeste. Entre eles está o Circuito Urbano de Arte, um dos maiores festivais de arte pública do Brasil. Outro finalista é o projeto Negro Muro, que visa transformar as ruas da cidade em uma galeria de arte a céu aberto para trazer representatividade e resistência a homens e mulheres negros e negras. Em Manaus, ativistas substituíram muros e paredes por árvores: percorrendo o rio Negro com um barco equipado com projetores, o Projeta Amazônia projetou nas copas algumas obras de artistas do Amazonas. Em Belém (PA), o destaque foi um grafite do artivista @euhgabz no muro de um canal em um bairro da periferia, mostrando um menino morador de rua dormindo ao relento e coberto por um farrapo do que foi a bandeira do Brasil.

Cartaz: 60% dos finalistas desta categoria são mulheres. Entre os temas abordados pelas obras estão o assassinato do ambientalista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, de Cristiano Siqueira; o pedido para derrubada do veto à Lei Paulo Gustavo, de Alex Frechette; a denúncia contra assassinatos na Amazônia, por Moyo Monifa e foto em ato de Rafael Fernando; e a denúncia dos índices de violência contra as mulheres, de Helenna Castro; além de uma performance protestando contra falas e posicionamentos do ex-presidente, do Extinction Rebellion.

Cidadão indignado: categoria criada para dar visibilidade a desabafos indignados abordando alguma realidade social ou socioambiental brasileira. Houve desabafos clássicos, poéticos e até silenciosos. Todos os finalistas desta categoria são negros, 80% são das regiões Norte e Nordeste e 80% são mulheres. Os desabafos abordam questões como racismo, por Laura Sito, primeira deputada negra do Rio Grande do Sul, e racismo ambiental, por Dona Lurdinha. Este último foi abordado também por Neide Vieira no Slam Do Gheto em seu desabafo. Outros temas abordados foram a desigualdade social no Diário De Um Favelado, Um Desabafo Poético, por Helton Borges, com produção audiovisual de Jasf; e a defesa da educação, por Leny Moraes, alquimistica_amazonica.

Documentário: categoria com 60% de mulheres entre os finalistas. Quase metade deles (40%) é das regiões Norte e Nordeste. Entre as obras que concorrem ao Prêmio Megafone de melhor documentário ativista estão “O território”, dirigido por Alex Pritz, sobre a invasão de terras indígenas em Rondônia; Onde aprendo a falar com o vento, dirigido por André Anastácio e Victor Dias, que mostra um grupo de jovens de Oliveira, MG, aprendendo sobre sua história e a história de seus antepassados a partir do Reinado, uma tradição afro-diaspórica; O formigueiro”, dirigido por Bruna Provazi e Tica Moreno, sobre o movimento feminista no Brasil; Agachados, produção da Amazônia Real sobre as enchentes do rio Negro, o racismo ambiental e a crise climática; e DAMAS.doc, dirigido por Carmen Lopes, que revela a história de quatro mulheres trans no país que mais mata pessoas LGBTQIAP+ no mundo.

Foto: pode ser jornalística ou amadora e deve retratar alguma realidade social ou socioambiental brasileira. Entre os finalistas está a imagem que retrata a indignação de passageiros do ônibus contra manifestantes do 7 de setembro, por Lola Ferreira; o registro, durante uma das manifestações políticas do ano passado, de um morador de rua segurando uma revista onde se lê “entre nós, você vem primeiro”, de alealexandrepg; também em uma manifestação – desta vez, contra o assassinato do congolês Moïse Kabagambe –, a frase escrita no dorso de um homem sobre a violência policial, por Cidade Cinza!; a imagem do cacique Urutau Guajajara, por A Margem, representando a luta pela demarcação da terra indígena da aldeia Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro; e as mãos estendidas de um animal em cativeiro, denunciando maus tratos aos animais no Parque 13 de Maio, em Recife, por Lucas Emanuel.

Jovem ativista: todas as finalistas desta categoria são mulheres: Vitória Rodrigues, mulher negra periférica; Bia Caminha, jovem negra, bissexual e feminista, vereadora mais jovem eleita em Belém (PA); Beka Munduruku, ativista indígena que usa a comunicação para denunciar os impactos do garimpo; Jahzara Oná, jovem ativista socioambiental da periferia de São Paulo; e Raiara Barros, ativista de Xapuri, no Acre, cidade de Chico Mendes.

Marcha ou manifestação de rua: democracia e direitos humanos dominaram esta categoria, da qual são finalistas a marcha contra o assassinato do congolês Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro; o bloco feminista no 8 de março, em São Paulo; a ocupação de lideranças indígenas pela demarcação de seus territórios, no Acre; e o ato em defesa dos povos indígenas no X Fórum Social Pan-amazônico, em Belém. Também concorre ao prêmio Megafone nesta categoria a “carrinhata” de mães em defesa da democracia em nome de seus filhos.

Música ou clipe: os finalistas desta categoria abordaram diversos temas, como as eleições (“Tá na hora do Jair”); a exclusão das populações locais dos planos para a Ilha de Marajó; a necessidade de ações contra-coloniais para valorizar a memória e a existência dos povos originários; uma suíte popular, divida em três parte (o samba, o transe e o jazz), sobre o êxodo rural e a violência urbana; e uma homenagem à Nossa Senhora de Nazaré que une cultura, ativismo e fé.

Meme: eleições e política são os temas da maioria dos memes selecionados como finalistas nesta categoria do Prêmio Megafone: a dublagem das bolsonaristas em jogral, o patriota do caminhão e a sátira política usando técnicas de tik-tokers. Mas a denúncia, pelo bom humor, da homofobia na Copa do Mundo também está entre os finalistas.

Perfil de rede social: entre as pessoas que melhor usarem seus perfis de redes sociais em defesa de causas no ano passado estão Felipe Neto, Samela Sateré Mawé, Thaís Trindade – a Artivistha, Thiago Ávila e Thallita Flor. De diferentes regiões, eles se dedicaram a expor temas distintos, como política, direitos indígenas, questões socioambientais e a arte como instrumento de transformação social e alimentação.

Reportagem: entre os finalistas estão duas reportagens que expõem questões ambientais: o Guia Amazônia Legal e o Futuro do Brasil, do Sinal de Fumaça, que denuncia o impacto ambiental do último governo nos 9 estados que compõem a região; e a série de quatro reportagens da Eco Nordeste que abordam impactos socioambientais causados por termelétricas fósseis nos estados do Maranhão, Sergipe e Ceará. Outra finalista é a reportagem em quadrinhos da Revista Badaró sobre as constantes violações de direitos do povo guarani-kaiowá em Mato Grosso do Sul. Também concorrem ao prêmio dois podcasts: Medo e Delírio em Brasília, que junta jornalismo e humor para comentar fatos políticos e o Radinho Brasil de Fato, podcast jornalístico voltado ao público infantil que trata temas da atualidade com foco em direitos humanos.

 

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