Tuane Silva; 28/06/2022 às 14:30

Jovens ribeirinhos da RDS Uatumã realizam intercâmbio no Inpa, em Manaus

O objetivo do projeto é construir um modelo de educação replicável e adequado para estudantes de áreas remotas da Amazônia

Estudantes dos ensino fundamental e médio da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uatumã, a 150 quilômetros de Manaus, participaram de um intercâmbio no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), situado na capital amazonense.

Os alunos visitaram o Bosque da Ciência, conheceram a estrutura do Inpa e o trabalho realizado pelos profissionais do instituto. Além disso, o grupo composto por dez jovens ribeirinhos deixou suas comunidades na RDS Uatumã rumo a Manaus para participar do I Seminário Técnico de Soluções Inovadoras para a Educação Ribeirinha.

Foto: Divulgação

A iniciativa, realizada em parceria com a instituição de pesquisa, aconteceu por meio do projeto Educação Ribeirinha, implementado pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e que realiza oficinas de ensino complementar com propostas de melhoria na educação em comunidades no interior da Amazônia.

De acordo com a supervisora pedagógica do projeto, Silvana Souza, o intercâmbio foi uma oportunidade para os alunos conhecerem experiências inovadoras em educação para multiplicação de saberes dentro das comunidades.

“Eles conheceram uma realidade diferente na capital e o convívio da vida ribeirinha, para que entendam que a zona urbana também tem os seus desafios a respeito da preservação do meio ambiente, da população e seus modos de vida; pensaram em formas de levar o conhecimento adquirido no intercâmbio para dentro das comunidades. Além disso, o seminário proporcionou a eles um momento para pensar em soluções inovadoras, para cuidar de suas escolas e comunidades, com oportunidade das partilhas, vivências, conexões, e dos sonhos trocados com os estudantes da zona urbana, sendo agentes transformadores do meio ambiente em que vivem”, afirma.

Um dos participantes do intercâmbio foi Eder Leite, de 14 anos, morador da comunidade São Francisco do Caribi, no município de Itapiranga. 

O aluno conta que a experiência despertou a vontade de ser também um pesquisador. “Essa viagem com certeza inspirou meus sonhos de ser pesquisador, porque tenho muita curiosidade, e esse trabalho nos ajuda a entender cada vez mais a natureza”, comenta. 

 

Foto: Divulgação

Educação ribeirinha

O projeto “Educação Ribeirinha” é executado pela FAS com apoio do Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Desporto (Seduc/AM) e com recursos de emendas parlamentares destinados pela deputada prof. Therezinha Ruiz.

O objetivo do projeto é construir um modelo de educação replicável e adequado para estudantes de áreas remotas da Amazônia. Para isso, busca unir esforços na superação de desafios e implementação de uma educação relevante, contextualizada e que valorize os saberes e fazeres das comunidades, assim como as tradições e vocações produtivas.

Fabiana Cunha, gerente do Programa de Educação para Sustentabilidade (PES) da FAS, explica que a iniciativa inclui oficinas sobre educomunicação, leitura e arte, e práticas agroecológicas.  

“A atividade acendeu muitos insights nesses jovens de como usar a ideia de um bosque ao redor da escola e na comunidade deles. E o seminário, realizado na sede da FAS, trouxe a oportunidade para refletir sobre as atividades, para que o processo de conhecimento seja um processo de vivência, não apenas de conteúdo, e como isso pode contribuir para o aprendizado na escola”, declara.

O intercâmbio também foi acompanhado por professores das comunidades. A professora Elizângela Conceição Cavalcante, da RDS Uatumã, afirma que são muitos os desafios na educação ribeirinha, e o apoio do projeto é valioso no trabalho de superação.

“Vamos tendo oportunidades para transformar o nosso ensino em algo mais valioso, pro nosso aluno que vai pra escola de rabetinha, que vai disposto a aprender”, disse.

A gestora do Núcleo de Educação e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável Uatumã (NIEDS Uatumã), Ana Laura Machado, avalia a importância do intercâmbio para a autopercepção dos estudantes.

“O intercâmbio é relevante para que os estudantes compreendam a força de ser ribeirinhos e ribeirinhas dentro de uma Unidade de Conservação na Amazônia, como protagonistas de suas histórias e realidades com atuação lá na ponta como agentes multiplicadores e mantenedores da floresta em pé, em defesa da biodiversidade, de seus povos e territórios”, diz.

São beneficiados aproximadamente 490 alunos dos ensinos fundamental e médio de escolas localizadas em Núcleos de Inovação e Educação para o Desenvolvimento Sustentável (Nieds) da FAS.

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