Estamos vivendo num momento melhor que o de nossas avós e mães. Bem, se estamos de direitos igualitários, precisamos conversar mais sobre isso. E se for sobre maternagem e mercado de trabalho, a conversa continua.
Minha avó tinha a costura como fonte de renda, trabalhava num expediente sem hora para começar, muito menos para terminar. Sustentou seus três filhos a partir de suas costuras, era a sua própria chefa. Uma rotina cansativa, mas sempre com o sorriso no rosto. Como a senhora conseguia, vovó?
Minha mãe tem a mesma força. Começou a trabalhar aos 14 anos para ajudar em casa (e continua até hoje). Mesmo sem formação profissional, se destacava em seus empregos. Encarava os desafios como combustível. “Se eu não sei, posso aprender”. Lembro que viajava bastante, eu ficava com papai. Nunca vi conflito, mas sempre a via numa encruzilhada: abro mão do trabalho ou de meus dias em família? Hoje entendo que não era fácil.
Quando pensamos no papel das mulheres para terem um espaço respeitado, seja na sociedade ou no mercado de trabalho, dá um frio na espinha. Hoje, mãe de duas meninas (uma no ventre), ainda me vejo na mesma encruzilhada. Um julgamento velado, consequente da dicotomia da sociedade: mulher que cuida dos filhos x mulher que trabalha, mãe que renuncia x mãe negligente.
Então, vou logo te contar uma coisa que não me falaram: quando você vira mãe, às vezes, o mercado vira as costas pra você. Mas eu digo: não deixe (m), resista (m), lute (mos).
Você engravida, entra a pauta: terei meu lugar de volta? Acabou a licença maternidade: quem vai cuidar do seu filho? Se você voltou a trabalhar: está sendo negligente com suas crias. Já no trabalho, o radar alheio questiona: será que ela vai dar conta? Achamos que não, ein.
Se a mulher luta pela valorização do trabalho, pelo pagamento igualitário, pela sororidade, avalie as mães. Vejo a maternagem e mercado de trabalho aparecem como opostos, água e óleo, que não se misturam.
Temos as mães que se dedicam ao empreendedorismo materno para terem uma carga horária flexível. As mães que precisam voltar para a rotina de 8h diárias de trabalho (nem estou contando com almoço e horas extras, viu?). Temos as mães que recebem e voltam da licença maternidade (que também deve ser reavaliada) e encontram um clima corporativo diferente. Temos as mães que temem a entrevista de emprego porque sabem que serão barradas ao mencionarem a cria, afinal, uma mãe vai precisar se ausentar. O filho vai ficar doente, a babá vai faltar, a mãe vai faltar para levar ao pediatra e assim segue uma lista extensa de atribuições da maternagem. Jesus, Maria, José!
Vamos mudar isso. Precisamos mudar.
Separar o lado profissional do pessoal? Não, a publicitária que trabalha o dia inteiro é a mesma que vai chegar em casa e fazer janta, acompanhar a tarefa da filha. Também não dá pra ficar mais de 10h longe da minha filha. Não dá pra se sentir ameaçada porque não tem disponibilidade full time (uó isso). A maternidade não pode ser opressora e conflituosa.
Esta seara não deve ser exclusivamente materna! Essa pauta deve ser de todos, não apenas das mães. Precisamos nos posicionar, discutir carga horárias, métodos de trabalho. Nossas mães também precisam ser acolhidas.
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