As videoconferências tem um cenário infantil e, normalmente, são acompanhadas de uma música de fundo, alegre e colorida. Os artifícios para conseguir realizar um simples trabalho de digitação, planejamento ou análise são muitos e vão desde ocupar uma terceira pessoa aos tão famosos e temidos desenhos do Youtube. Nesse período, vale tudo. Vale tudo o que não valia ou que era exceção. Recorrermos a todos os métodos que nos permitem sentar e escrever, mas mesmo assim, vez ou outra, ainda sentimos uma mãozinha encostando na cadeira, um chorinho leve que pede colo e umas manhas de quem quer atenção.
A mãe está ali como nunca esteve, mas a sua presença não é integral. Nem mães, nem filhos sabem das vantagens e desvantagens desse momento. Até que ponto minha presença parcial, apenas física, vale a pena? Até que ponto me entrego ao trabalho ou à maternidade? Antes, os dois universos que formam uma mulher eram bem divididos, no horário do expediente você é profissional, Relações Públicas, Social Media, tem uma filha e se preocupa com ela, mas não exerce as funções de maternidade no seu local de trabalho. Fora dele, você é mãe, sensível, dedicada e com atribuições diferentes. De um dia pro outro, a sua vida muda, sem planejamento ou auxílio, e esses dois Eus se unem, sem que haja tempo de se organizar. Agora, você precisa definir o que finaliza primeiro, um artigo ou o almoço da criança, trocar a fralda ou responder uma mensagem.
É maravilhoso ter mais tempo com a minha filha, acompanhar o seu crescimento e estimulá-lo, mas é preocupante a forma como isso acontece. Estaria mesmo eu acompanhando ou estaria aqui mais fisicamente? O home office se apresentou de forma muito vantajosa, a primeira delas, sem dúvida, é a segurança da saúde da minha filha neste momento, onde estar na rua significa um possível contágio de uma doença que ninguém sabe como vai reagir; a segunda, de ter mais tempo com ela, mas as desvantagens, assim como a falta de estrutura de home office, também são grandes. E quem nunca ouviu falar que a maternidade é feita de culpa? E aqui estou eu, aqui estamos nós, mães, em uma culpa eterna de: estou sendo suficiente? Este é o melhor que eu posso fazer? Não deveria estar fazendo mais?
As duas fases do meu eu são novas, me tornei mãe há um ano, há seis meses voltei ao mercado de trabalho. Ainda estava aprendendo que não sou só a “Mãe da Manuela” e também sou muito mais do que a “Gestora de mídias de uma instituição”. Se já é difícil lidar com todas as nossas construções com uma rotina bem definida, horários e locais, imaginem como está sendo colocar tudo isso dentro de casa, com uma família e ainda atribuições domésticas. Como crítica que sou de mim mesma, sei que preciso levar com leveza, como mãe e como profissional, pois sei também que em ambos não serei perfeita, mas nos dois, tentarei.
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