No final do ano passado e no início deste ano, diversas possíveis tendências para o mercado da comunicação foram especuladas. As principais delas se referiam ao uso de chats privados para comunicação, ampliação do investimento em inteligência artificial, aumento da personalização da experiência, valorização da transparência de empresas, expansão da busca visual e criação de conteúdos em áudio.
No entanto, o mundo e o mercado da comunicação foram surpreendidos pela pandemia do novo coronavírus, que mudou a maneira como as pessoas vivem, se relacionam e consomem. Além da transformação imediata na rotina da população, que se viu praticando o distanciamento social, a Covid-19 provocou impactos a longo prazo no comportamento das pessoas e, consequentemente, nas diversas formas de comunicação. Seja no Jornalismo, na Publicidade, nas Relações Públicas ou no Marketing, a comunicação passou por processos de adaptação e, sobretudo, reinvenção.
Para falar sobre as tendências iniciadas durante a pandemia e o futuro da comunicação, conversamos com sete profissionais de diferentes áreas. São eles: Ana Paula Wehba, Diretora de Negócios, Projetos Especiais e Eventos da Trip Editora; Cristiano Santos, jornalista, palestrante internacional, TEDx speaker, professor e consultor de marketing digital e mídias sociais; Gustavo Giglio, head of business & music da Omelete Company/CCXP, sócio do Update or Die e co-founder do Coffee Hunter; Vinícius Magalhães, gerente de estratégia de marca do Twitter Brasil, Lucas Schuch, doutorando em comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria e idealizador do projeto Propaganda Não É Só Isso Aí, Rafa Lotto, head de planejamento e sócia da YouPix, e Marcelo Gomes, vice-presidente do Grupo Meio & Mensagem.
Ana Paula Wehba, Diretora de Negócios, Projetos Especiais e Eventos da Trip Editora
“Nós criamos novos formatos e aceleramos a nossa presença no digital. Nós fomos obrigados a nos reinventar no digital, em todos os sentidos: desde a criação de novos formatos até convidar pessoas para refletir sobre esse momento. Ao invés de fugirmos do tema, nós fomos a fundo. Nós conseguimos fazer uma edição inteira da Casa TPM no digital e à distância”.
“Nós entendemos que a hora que as pessoas falam em tendência, a tendência já é uma realidade. Nós percebemos que é possível estar juntos mesmo estando distante. Por mais que estivéssemos distantes, nós estivemos muito unidos e conseguimos manter essa união. Além disso, nós conseguimos manter uma cultura de empresa forte, mesmo com a distância física, isso não é fácil. Percebemos também que criar novos hábitos é muito importante, passando por cuidar da nossa saúde física e mental. É fundamental que tenhamos empatia”.
Cristiano Santos, jornalista, palestrante internacional, TEDx speaker, professor e consultor de marketing digital e mídias sociais
“As tendências de comunicação pós-pandemia ainda são uma incógnita, mas já podemos dizer que mesmo com a volta da tal ‘normalidade’, muitos profissionais e empresas não abrirão mão do formato on-line como meio de comunicação rápida e eficaz, e por isso, seguir aprendendo, testando, e se familiarizando com ferramentas de transmissão on-line. A mensagem seguirá sendo passada, seja por qual canal for, e o comunicador precisa acompanhar essa evolução que a pandemia trouxe de maneira ‘forçada’, mas com mudanças significativas e permanentes”.
“Estar conectado às redes sociais, ter um perfil profissional em destaque na internet, um canal no Youtube, um podcast, ou qualquer outra ação que um comunicador tomar nesse momento visando ganhar visibilidade nesses canais pode colocá-lo em evidência para uma empresa que esteja precisando desse tipo de serviço. Além disso, manter um perfil no LinkedIn bem atualizado e preenchido pode ser um diferencial, visto que muitos processos seletivos que já aconteciam parte presencial e parte on-line, agora estão cada vez mais digitais”.
Gustavo Giglio, head of business & music da Omelete Company/CCXP, sócio do Update or Die e co-founder do Coffee Hunter
“Acredito que o primeiro desafio é exatamente entender que tudo é impermanente. Que não estamos caminhando para algo, que sempre tudo pode e vai mudar. O que estamos passando durante este ano acelerou muitas coisas que já vinham se transformando e ao mesmo tempo nos obrigou a pausar muitos projetos e vontades que também estavam em andamento. O que nos mostra que é preciso estar atento e, de alguma forma, o mais pronto possível para mudanças de rotas. Teoricamente é simples, na prática é preciso calma, objetividade e boas doses de coragem e tomadas de decisões”.
“Em relação às tendências, acredito que são várias:
Como estamos acompanhando, mudam as jornadas e demandas de consumo. Acelera-se a digitalização total das vendas, com o e-commerce crescendo e sendo o principal meio no mundo, o que faz todo o pensamento de comunicação e de produção das campanhas investir em criação de jornadas mais simples e com experiências melhores. Com novas necessidades que surgem mesmo dentro de casa (relacionadas ao trabalho ou lazer), chega a necessidade da criação de novos modelos de negócios capazes de atender às demandas que passam a existir de forma mais expressiva.
O entretenimento se transforma, a exemplo do que vimos com as Lives (tanto em redes sociais como canais maiores), o surgimento e crescimento de novas plataformas de autoexpressão para as novas gerações (a exemplo do Tik Tok e seus incentivos financeiros para a produção de conteúdo), as tentativas de experiências físicas mais seguras (como shows e exposições em Drive-Ins), o eSport segue ganhando novos e fiéis seguidores e avanços consideráveis na curva de adesão em tecnologias e formatos já bastante conhecidos com QR-Code, AR e VR”.
Vinícius Magalhães, gerente de estratégia de marca do Twitter Brasil
“O que eu destacaria como uma das principais mudanças é que as marcas passaram a pedir menos projetos e passaram a precisar mais de consultoria. A principal mudança foi a diferença no tipo de demanda que as marcas passaram a trazer. Nós saímos de coisas muito bem resolvidas, como campanhas, ações e iniciativas de marca, que já vinham de uma inércia do mercado, e passamos a ser demandados por conselhos e por situações inéditas. As respostas também passaram a ser mais complexas. É muito difícil porque você não tem precedentes e nem base para comparações, então você não sabe o que funciona e o que não funciona, você também não sabe como as pessoas vão reagir nesse contexto novo. Então, houve uma mudança no pedido e na entrega”.
“O que ficou claro para as marcas é a importância do senso de propósito, de que você é o que você faz. A pandemia passou a exigir das marcas legitimidade no discurso, então elas se pegaram no momento em que não fazia mais sentido vender. Aquelas marcas que já tinham um senso de propósito muito bem definido vão sair gigantescas dessa pandemia. As marcas que ainda não tinham, passaram a olhar para isso com mais cuidado e carinho. Nós percebemos que existe na sociedade uma cobrança para que as marcas tenham responsabilidade social, as pessoas querem e cobram isso. Chegou a hora das empresas mostrarem que as pessoas podem contar com elas. Nós fizemos várias pesquisas durante a quarentena que mostraram que a confiança das pessoas cresce a medida que a iniciativa privada trabalha em conjunto com a iniciativa pública. Existe nas pessoas a expectativa de que a iniciativa privada faça alguma coisa. Ou seja, mesmo que as marcas não queiram exercer o papel social, as pessoas esperam que elas exerçam. Esse foi o grande momento de epifania das marcas nessa quarentena, elas perceberam que elas precisavam fazer alguma coisa além de lucro”.
Lucas Schuch, doutorando em comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria e idealizador do projeto Propaganda Não É Só Isso Aí
“Num cenário pós-pandêmico, ter um mercado que olha de forma homogênea para todo mundo e continua fazendo isso será um dos grandes desafios da comunicação. O meu maior receio é que a gente continue olhando as pessoas à nossa volta como a gente sempre olhou, acho que isso não vai fazer mais sentido. A gente vai precisar olhar para individualidades e experiências de cada profissional da comunicação”.
“A indústria publicitária sempre teve dificuldades de reter talentos, especialmente as agências que tem uma rotatividade maluca e não conseguem manter talentos na empresa por muito tempo. Pensa assim, uma geração de pessoas está entrando no mercado de trabalho com um olhar muito mais crítico para o que elas vão fazer da vida. Após a pandemia, numa indústria que muitas vezes não cuidou dessas pessoas durante este período, essa geração vai entrar no mercado e pensar ‘É assim que a publicidade trata as pessoas? Então, talvez eu queira trabalhar com outra coisa ou abrir o meu próprio negócio’. Precisamos pensar em como atrair os olhares de uma juventude que está vindo cheia de ideias e com um senso crítico muito maior para a publicidade, pois são essas pessoas que renovam o olhar da propaganda”.
Rafa Lotto, head de planejamento e sócia da YouPix
“Acredito que o posicionamento de marcas e influenciadores é uma coisa que vai ser cada vez mais cobrada. Além disso durante a pandemia aconteceu tudo ao mesmo tempo, foi uma overdose de informações e posicionamentos, então por um outro lado também acho que vamos ter um movimento de pessoas que querem um espaço mais leve, tanto é que houve um crescimento nos programas de humor neste período. As pessoas também precisam de um momento para rir, de escapar da rotina e de notícias ruins o tempo inteiro e as marcas entram aqui se questionando ‘Como eu posso tornar o conteúdo mais leve para o meu público?’’’
“O futuro é os influenciadores e marcas cada vez mais se entendendo como parceiros na cocriação das ações. A YouPix já vem falando disso há um tempo, pois os influenciadores podem ajudar na produção de conteúdo, ajudam a humanizar a marca e a traduzir aquilo que vai além do produto. Os influenciadores são mais do que um espaço de mídia e as marcas precisam entender isso e que podem criar uma relação com eles além da publicidade”
Marcelo Gomes, vice-presidente do Grupo Meio & Mensagem
“A pandemia acelerou e tornaram maior as coisas que já estavam ali. A mudança estrutural na indústria da comunicação era uma coisa que já vinha sendo discutida antes e a pandemia tornou isso mais rápido. O que tínhamos para nos adaptar em três anos tivemos que nos adaptar em três meses”.
“Agora as agências tem oportunidade de olhar mais para o seu cliente e entender quais são as dores deles e como vão entregar um serviço que o ajude a resolver o seu problema. Dentro da empresa quem mais conhece o cliente é a área de marketing e aí eu vejo um futuro promissor para essa área voltar a ter uma voz mais ativa dentro das empresas. O profissional do futuro não vai ser mais aquele que fica fazendo atividades repetitivas que podem ser feitas por uma máquina. Agora temos que pensar em como agregar no trabalho buscando soluções criativas de negócios, ter propósitos e atrair para a empresa melhores talentos. São profissionais que vão precisar ter uma visão mais do todo. O que é mais específico a máquina vai conseguir resolver, mas quando colocamos inúmeras variáveis somente a visão humana vai ter grandes ideias revolucionárias para solucionar o problema. Ter essa visão mais holística e generalista vai ser cada vez mais importante”.
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