Isabella Botelho; 29/06/2021 às 12:00

Panorama da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho

Membros da comunidade LGBTQIA+ têm uma taxa de desocupação maior que a média nacional

Quando chega o mês de junho, dedicado ao Orgulho LGBTQIA+, as redes sociais são invadidas por posts e campanhas de posicionamento de marcas e empresas nacionais e internacionais em apoio à causa. De fato, esse apoio é fundamental, mas e o restante do ano? 

Muito mais do que celebrar vitórias, o mês do Orgulho LGBTQIA+ nos relembra que ainda há um longo caminho para se percorrer em prol da igualdade em nossa sociedade, desde o acesso aos direitos básicos, como a saúde, ao mercado de trabalho.

É de conhecimento geral que as taxas de desemprego no Brasil assustam cada vez mais e, ao mesmo tempo, nossa economia não dá sinais de melhorias num futuro tão próximo. Milhares de pessoas estão desempregadas e enfrentam dificuldades para ter acesso ao sustento básico. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), a taxa de desemprego no país atingiu recorde de 14,7% no primeiro trimestre deste ano. Essa realidade é ainda mais alarmante quando falamos na comunidade LGBTQIA+: a taxa de desocupação fica em 21,6%.

Pessoas LGBTQIA+, por exemplo, passam por inúmeras dificuldades quando o assunto é inserção no mercado de trabalho. Além da crise no mercado, enfrentada por todas as pessoas que tentam uma vaga, eles estão sujeitos a um pré-julgamento e, muitas vezes, têm menos chances de conseguir um emprego apenas por serem quem são. Apesar de nos últimos anos a comunidade ter conquistado mais espaço, voz e vitórias fundamentais como a criminalização da homofobia, eles continuam sofrendo preconceito, exclusão e violação de direitos, realidade que, inevitavelmente, chega ao ambiente de trabalho.

Reflexo disso é que, segundo uma pesquisa realizada pelo Center for Talent Innovation em janeiro de 2016, 61% dos funcionários LGBTQIA+ do Brasil optam por esconder sua orientação sexual no ambiente do trabalho. Este dado nos mostra que, apesar de terem um emprego, mais da metade destas pessoas prefere se esconder de seus gestores e colegas por medo de sofrer qualquer represália, ser alvo de piadas e até mesmo perder sua vaga. Além disso, o mesmo estudo aponta que 41% dos entrevistados afirmam já terem sofrido algum tipo de discriminação por sua orientação sexual ou de identidade de gênero.

Em relação ao cenário local, um levantamento estatístico e análise social da inclusão LGBTQIA+ no mercado de trabalho do polo industrial de Manaus, divulgado no Congresso Nacional de Engenharia de Produção, demonstrou que dos 94 mil funcionários desse setor, apenas 171 profissionais se consideram público LGBTQIA+. Ainda de acordo com o artigo, falta mão de obra LGBTQIA+ em cargos de gestão e as indústrias do polo metalúrgico são as que menos apresentam esse público no seu quadro funcional, o que é reflexo das condições nada favoráveis para contratação dessas pessoas.

Em entrevista ao Mercadizar, Karen Arruda, Presidenta da Associação Manifesta LGBT+ de Manaus, explica quais desafios que os profissionais LGBTQIA+ enfrentam:

“Depende muito de que letra da sigla você representa, mas de uma forma geral, para gays e lésbicas é um pouco diferente do que para pessoas trans. Por exemplo, eu sou uma mulher lésbica, então para mim é assim: você tem que trabalhar muito, porque as pessoas já te condenam por ser lésbica, então você não pode desempenhar um bom trabalho, você precisa desempenhar um excelente trabalho, sem nenhum erro, porque espaço e credibilidade não vem fácil pra gente. Já para pessoas trans ou travestis o problema é ainda maior, porque falta acesso a questões básicas, espaço para estudar e se capacitar é bem difícil, e depois disso ainda tem a questão da oportunidade de emprego para mostrar sua capacidade, o que é outro quesito. Nós temos algumas empresas parceiras que estão se abrindo para dar oportunidade para pessoas trans ou travestis, que é a questão mais difícil, sendo bem sincera. No cenário local, temos só temos a Flex”. 

Em Manaus, o Manifesta LGBT+ recolhe currículos para criar um banco que é enviado a empresas selecionadas e à Casa Miga, primeira casa de acolhimento para LGBTQIA+ da Região Norte, oferecendo cursos de capacitação aos acolhidos. Para apoiar, basta acessar link:  https://benfeitoria.com/casamigalgbt

Outro levantamento, desta vez divulgado pela consultoria Santo Caos, aponta que 38% das empresas afirmam que não contratariam pessoas LGBTQIA+, ou seja, as corporações não têm políticas ativas para a contratação de colaboradores membros da comunidade.

Diante deste cenário, ações efetivas são necessárias. Assim como qualquer ação de cultura organizacional, as práticas em prol da inclusão e da diversidade dentro das empresas devem ser permanentes, duradouras e, sobretudo, honestas. Atualmente, apenas posicionamentos para o público não são o suficiente, a sociedade quer ver estas ações serem colocadas em prática, começando de dentro para fora nas corporações.

Pesquisamos, estudamos e elencamos algumas sugestões que podem ser praticadas pelas empresas:

  • Criação de programas e políticas para diversidade

Primeiro de tudo, é necessário criar programas e políticas para a inclusão e a diversidade, de forma que caminhem em sintonia aos valores da empresa. Para isso, é importante contar com consultoria de especialistas ou até mesmo instalar um comitê interno dedicado exclusivamente a este planejamento. 

  • Educação e treinamento interno

Dentro deste planejamento, deve estar incluso o treinamento dos funcionários, através de palestras, encontros e compartilhamento de documentos educacionais para que entendam a importância das políticas de diversidade e, assim, sejam aliados nestas ações. Além disso, isso contribuirá para que os colaboradores tenham uma visão mais ampla e receptiva ao assunto.

  • Acompanhamento e monitoramento das ações

É essencial que uma equipe seja eleita para realizar o acompanhamento e monitoramento das ações e políticas para a diversidade e inclusão. 

Ao mesmo tempo, deve-se estabelecer regras claras sobre as condutas esperadas dos funcionários e, quando necessário, aplicar penalidades para quem desrespeitá-las. 

  • Comunicação assertiva e honesta

Assim como qualquer outra ação organizacional, estas políticas têm como base a comunicação. Somente através de um diálogo honesto e assertivo, como o compartilhamento das metas sobre diversidade, os colaboradores terão total ciência sobre onde a empresa pretende chegar.

Muito além das empresas e corporações, nós, enquanto sociedade, também podemos apoiar e incentivar membros da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho. Abaixo, nós te explicamos como:

  • Oferecendo oportunidades de trabalho iguais a todos;
  • Indicando e exaltando profissionais;
  • Apoiando associações que compartilham informações verdadeiras e promovem a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho;
  • Estudando e ajudando na promoção de programas e políticas para a diversidade.

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