De acordo com a plataforma R4V, mais de 5 milhões de venezuelanos já deixaram o seu país e o Brasil é uma das nações que mais os recebe, sendo cerca de 253 mil venezuelanos. Apesar disso, inúmeros deles que entram no país pela cidade de Pacaraima, município do estado de Roraima, relatam sofrer preconceito e agressões por parte dos brasileiros, como mostram as reportagens feitas pelo El País e The Intercept Brasil.
Com o objetivo de dar visibilidade aos venezuelanos e venezuelanas e combater a xenofobia na região, Fabricio Carrijo, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), criou o projeto “Estórias Migrantes”, que conta a história de migrantes e refugiados venezuelanos no Brasil através de textos e da fotografia. Com início em 2018, o “Estórias Migrantes” é um projeto de extensão da universidade e conta com uma equipe de nove pessoas, entre professores e estudantes do curso de Direito, Comunicação, Relações Internacionais e Arquitetura da UFRR.
“Eu percebi que existia uma necessidade de repensar a maneira como os refugiados são representados e de criar um mecanismo que desse visibilidade às histórias dessas pessoas, pois são muito mais que números estatísticos. O Estórias é uma ferramenta de promoção do diálogo intercultural, é um espaço de empoderamento e coexistência pacífica entre migrantes e refugiados com a população local de Roraima”, disse Fabricio, coordenador do projeto, ao Mercadizar.
Além disso, o coordenador comentou que observou que havia mais atenção dos meios e as pessoas pareciam se sensibilizar mais com histórias de juízes, médicos e outras profissões de grande prestígio, mas que ele e a equipe sempre buscaram levar para o projeto histórias que refletem a diversidade existente entre a população de refugiados e migrantes. “A sensibilização e empatia não podem ser baseadas exclusivamente em classe social ou notoriedade da profissão da pessoa refugiada, como se o sofrimento daquelas pessoas oriundas dos estratos sociais mais baixos tivesse menos importância. No projeto, as pessoas mais simples, cujas histórias são frequentemente invisibilizadas ou consideradas banais, são interlocutoras válidas e suas vozes ganham ressonância”, afirmou.
Segundo ele já foram realizadas exposições fotográficas, mais de 50 entrevistas e 16 relatos publicado no site, inaugurado em 2019. Entre as histórias contadas, Fabricio destacou algumas delas:
“São muitas as histórias e cada uma tem me tocado de uma forma diferente, mas posso destacar a história do Francisco, que era um pequeno agricultor e comerciante na Venezuela e nos disse que hoje um dos seus maiores objetivos é voltar a ver e cultivar a terra em seu país. Tem também a história da Ruth que estava grávida e chegou um momento em que ela precisou vender tudo o que tinha para poder vir para o Brasil. Já o Ali, apesar das situações de xenofobia vivenciada por ele e sua família, possui um otimismo contagiante. Percebemos entre as pessoas que entrevistamos uma grande esperança de ter uma vida melhor e um recomeço no Brasil”, contou.
Com a pandemia da Covid-19 as entrevistas e fotos estão paralisadas, mas Fabricio afirma que o projeto continua ocorrendo mas agora na fase de pós-produção. Para a equipe esse é momento de selecionar, editar, transcrever áudios, elaborar textos e traduzir o material que já foi coletado. “Assim que a pandemia passar, nós iremos a campo mas somente quando isso for seguro para todo mundo e tomando as devidas precauções”.
Para acompanhar o trabalho do “Estórias Migrantes”, confira o site e o seu perfil no Instagram.
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