Ariel Bentes; 21/07/2020 às 15:36

“Falta a imprensa perceber que as notícias do Nordeste e do Norte são também nacionais”, afirma Nayara Felizardo do Intercept Brasil

Em entrevista ao mercadizar, Nayara falou sobre a centralização da notícia no Sudeste do país e seu trabalho no Intercept

Nayara Felizardo é cearense, formada em jornalismo pela Universidade Estadual do Piauí e atua no jornalismo impresso e webjornalismo desde 2008. Correspondente das regiões Norte e Nordeste no site The Intercept Brasil há 2 anos, Nayara já fez reportagens sobre as crianças-soldado das facções do Ceará, vagas em concursos do Tribunal de Justiça do Amazonas, óleo nos mares do Nordeste, abuso sexual de mulheres, entre outras. 

Foto: Reprodução/Internet

Além disso, em suas redes sociais e eventos a jornalista costuma pautar a importância da diversidade regional na imprensa brasileira. Em entrevista ao Portal mercadizar.com, Nayara falou sobre a centralização do jornalismo no sudeste do Brasil, o seu trabalho no Intercept e indicou iniciativas de jornalismo do Norte e do Nordeste. Confira abaixo a entrevista completa:

mercadizar: Frequentemente, você tem falado em suas redes sociais sobre a diversidade regional na imprensa nacional. Como você vê essa centralização de notícias e de veículos jornalísticos no sudeste e sul do país?  

Nayara: Quando as notícias são consideradas a partir de um viés sudesticêntrico, ou seja, você tem o sudeste do Brasil como centro das notícias e o que acontece fora dali são notícias regionais, nós perdemos uma diversidade de um país que é tão grande e diferente. É por isso que eu digo que a imprensa que se diz nacional, ela é na verdade uma imprensa sudestina e que não reconhece a diversidade do Brasil

Um exemplo disso é quando uma pessoa se informa somente pelo Jornal Nacional, ela não está se informando sobre o que acontecesse no seu estado e na sua cidade. Falta a imprensa nacional perceber que as notícias do Nordeste e do Norte são também nacionais. O que acontece nessas regiões não devem ser vistas somente como locais. Por que eu que moro no Piauí tenho que ficar sabendo de um assalto que acontece em São Paulo, mas os paulistas não tem que ficar sabendo do assalto de um banco que ocorreu em Teresina? A partir do momento que tirarmos essa visão sudesticêntrica da imprensa, a gente vai ter maior diversidade. 

mercadizar: E de que formas isso pode ser combatido?

Nayara: Eu acredito que a forma de combater isso é discutir sobre o assunto dentro dos veículos de comunicação. Precisamos falar sobre a importância de ter repórteres e jornalistas que não tenham origem na região sul e sudeste, principalmente o sudeste, pois são elas que vão levar esse conhecimento, referências e as experiências delas para as empresas. A partir do momento que o veículo dá  essa missão para um profissional, já é algo importante e que outros veículos precisariam se atentar e também fazer. 

É preciso mostrar que notícias de outras regiões são nacionais tanto quanto as que acontecem em São Paulo. Um hospital que tem desvios de recursos é uma notícia nacional, assim como um hospital com o mesmo problema em Roraima. Essa é uma medida ainda é um pouco desigual mas é o nosso desafio enquanto jornalistas que são fora do eixo Rio, São Paulo e Brasília, e que estão em grandes veículos. 

mercadizar: Como funciona o seu trabalho como correspondente do Norte e Nordeste do Intercept?

Nayara: A minha função no Intercept é exatamente trazer um pouco mais desse olhar de fora do Sudeste. Eu sou Cearense, me formei no Piauí e meus pais são do Pernambuco…a minha base é do Nordeste. Nós temos uma redação de muitas pessoas do Sudeste e do Sul, mas eu estou lá exatamente para alertar e contribuir com esse outro olhar. 

Antes da pandemia eu viaja bastante. Mensalmente eu ia para alguma cidade dessas regiões, principalmente no Norte onde eu não tenho domínio, e ali eu busco conhecer pessoas, lugares e fazer fontes.  A minha última reportagem para o Intercept é sobre o fornecimento de quentinhas para presídios no Ceará. É um contrato do Governo do Estado com uma empresa local e que é cheio de aspectos estranhos e irregularidades. É a minha função dizer para a redação e para o público: ‘Olhem para isso que está ocorrendo no Ceará, olhem para isso que aconteceu no Amazonas e no Amapá’.

mercadizar: Quais iniciativas de jornalismo do nordeste você indicaria?

Nayara: Do Nordeste eu gosto muito do conteúdo do Marco Zero, que é um veículo de Recife, Pernambuco. Tem o Bodejo Podcast, o Jornal O Povo e a Agência Tambor. Já no Norte eu indico muito o Amazônia Real, uma iniciativa de jornalismo independente e investigativo que cobre a Amazônia como um todo.  

Para acompanhar o trabalho de Nayara, acesse o site do Intercept e o seu perfil no Twitter

 

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