Após um pouco mais de um mês da primeira pessoa confirmada com Covid-19 no Marajó, a região chegou aos mais de 1.000 casos na última terça-feira, 19, e 109 mortes, segundo levantamento do projeto “Observatório do Marajó” dos dados disponibilizados pelas prefeituras dos 16 municípios que compõe a maior ilha fluviomarítima do mundo. A pandemia se alastra pelo Marajó mais rápido do que na região metropolitana da capital paraense, que possui um quantitativo populacional quatro vezes maior que do arquipélago. Enquanto a região metropolitana, nos primeiros 35 dias de coronavírus, teve 1.006 pessoas confirmadas e o estado inteiro contabilizava 43 óbitos, o Marajó contabilizou 1.037 pessoas confirmadas e 109 mortas nos seus primeiros 35 dias.
Esses dados alarmantes mostram que a Covid-19 segue se alastrando pela região Norte, entranhando-se pelos interiores – de São Gabriel da Cachoeira (AM) ao Marajó (PA). A região foi de 28.051 casos confirmados no dia 11/05 para 47.319 no dia 18/05. A situação na Amazônia piora quando cruzamos com outros dados sobre a realidade da população residente neste território.
Nos boletins semanais que faz, o Observatório do Marajó destaca que, enquanto na região Norte do país, 2 a cada 4 mulheres não têm acesso regular à água – fundamental na prevenção à Covid-19, no Marajó, sobe para 71,44% a porcentagem da população que não tem banheiro e água encanada em casa. A dependência do sistema público de saúde é mais um complicador apontado: no Marajó, 12 dos 16 municípios da região dependem integralmente de estabelecimentos públicos de saúde e os 4 municípios restantes têm apenas 08 estabelecimentos particulares. Além de ser um território extremamente vulnerabilizado e precarizado, tendo, por exemplo, 8 dos seus 16 municípios entre os 50 piores no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país – incluindo o pior.
Desde que o primeiro caso foi confirmado no Marajó, no dia 15 de abril, nas cidades de Cachoeira do Arari, Curralinho e Muaná, o Observatório do Marajó realiza o acompanhamento e análise dos dados, além de lançar seu material “Égua do Corona, chegou no Marajó”, com instruções de cuidado e prevenção direcionadas para comunidades ribeirinhas e quilombolas. O conteúdo informativo tem sido compartilhado pelas redes sociais do projeto e em listas de transmissão para articuladores nos municípios de Breves, Cachoeira do Arari, Melgaço, Muaná e Portel.
Nesse sentido, o projeto vai lançar no próximo dia 26 uma edição especial dos seus “Cadernos do Marajó” sobre os primeiros 40 dias de coronavírus na região. São tecnologias sociais acessíveis que serão distribuídas para a população marajoara com o objetivo de munir com instrumentos de ação política e aumentar o espaço cívico da ilha, conforme explica o coordenador do projeto, Luti Guedes. “A gente percebe que a região, por uma série de fatores estruturais, está sofrendo com muita intensidade os efeitos não só da pandemia de Covid-19, mas também da falta de políticas públicas que garantam à população os direitos fundamentais de saúde e da vida. O caderno vai mostrar que o coronavírus aprofunda a violência das condições de vida a que a população do Marajó está exposta”.
Observatório do Marajó
O Observatório do Marajó é um projeto da ONG Lute Sem Fronteiras, uma organização sem fins lucrativos que desde 2009 tem trabalhos sociais no Marajó. A missão da LSF é promover o acesso a direitos e o desenvolvimento endógeno de comunidades tradicionais, ribeirinhas e quilombolas do Marajó. Em 2020, a LSF lança o Observatório do Marajó, um observatório de políticas públicas da região e seus 16 municípios, que busca aumentar e fortalecer o espaço cívico da Ilha organizando conhecimento de diferentes formatos em tecnologias sociais acessíveis para a população.
Fonte: Assessoria
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