Isabella Botelho; 26/10/2020 às 09:00

Cientistas lançam plataforma inédita para disseminar informações sobre botos

A iniciativa é fruto do trabalho de um colegiado de cientistas que reúne pesquisadores de cinco países da Amércia do Sul

Um grupo de pesquisadores de cinco países da América do Sul lança, neste mês de outubro, a plataforma Botos Amazônicos. Esta ferramenta tem o objetivo de disseminar informações sobre os “golfinhos de rio” da região amazônica – e traz diversos dados sobre as espécies como distribuição geográfica, estimativas populacionais, ameaças e barreiras naturais.  

O objetivo é que a plataforma ajude nos processos de tomada de decisão e no planejamento de ações para a conservação destes mamíferos. Botos Amazônicos está disponível em inglês com acesso gratuito. Versões em português e espanhol estão sendo produzidas; e um storymap com informações resumidas em português está disponível para consulta pública. 

(Foto: Fernando Trujillo/ Fundação Omacha)

A iniciativa é fruto do trabalho de um colegiado de cientistas chamado SARDI – South American River Dolphins Initiative, ou “Iniciativa Golfinhos de Rio da América do Sul” – que reúne pesquisadores de cinco países (Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia e Equador) para gerar novos conhecimentos sobre esses animais. O WWF-Brasil é um dos facilitadores deste coletivo desde o seu surgimento, em 2017. 

Pesquisa

Nos últimos anos, os cientistas de SARDI têm feito diversas expedições às bacias dos rios Amazonas e Tocantins-Araguaia, no Brasil; e Orinoco, na Colômbia. Eles compilaram resultados de expedições que percorreram cerca de 47 mil quilômetros de rios amazônicos, com 42 esforços de estimativas populacionais feitos em 45 rios, tributários e lagos.  

Botos Amazônicos está estruturado na forma de um mapa que traz diversas camadas (layers) de informação. Assim, é possível combinar essas camadas para fazer leituras mais detalhadas dos dados constantes na plataforma. 

Entre as camadas disponíveis, há uma que mostra todas as expedições feitas a campo para estudar botos na América do Sul; a localização de hidrelétricas previstas na Amazônia; a localização das Terras Indígenas dentro deste bioma; os locais onde já foram feitas colheitas de material genético dos botos; e onde esses animais têm sido contaminados com mercúrio. 

É possível fazer também buscas específicas pelas populações de botos existentes no continente: o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis); o boto-tucuxi (Sotalia fluviatilis); o boto-boliviano (Inia boliviensis) e o boto-do-Araguaia (Inia araguaiaensis). 

Compilação

A pesquisadora do Instituto Mamirauá Miriam Marmontel estuda os mamíferos aquáticos há quase 30 anos. Ela contou que a riqueza de informação na plataforma Botos Amazônicos é o grande diferencial deste produto.

“Sob esse ponto de vista, ela é uma plataforma poderosíssima. Ela compila tudo que sabemos sobre os botos amazônicos como distribuição, amostras de material genético, os conflitos, e as interações desta espécie com a pesca. Podemos analisar de diversas formas e tomar decisões mais embasadas para buscar a conservação destes animais”, descreveu.

Miriam contou ainda que as informações disponíveis na plataforma são fruto de um sério e dedicado trabalho de pesquisa, que podem ser usadas com critério, segurança e respaldo científico: “É bacana e surpreendente que um grupo grande de cientistas tenha resolvido compartilhar seus dados, para montamos esse cenário amplo sobre a situação de conservação dos botos da América do Sul. Nosso objetivo, no final das contas, é que as pessoas entendam quais são os problemas que as espécies estão enfrentando e quais questões precisamos endereçar para garantir a conservação delas”. 

Analista de conservação do WWF-Brasil, Marcelo Oliveira explicou o porquê da plataforma estar disponível inicialmente em inglês. “Nosso objetivo foi de que o maior número de pessoas, no mundo todo, pudesse ter acesso às valiosas informações que foram reunidas nesta ferramenta. Mas para não deixar o público latinoamericano sem acesso a essas informações, produzimos também o storymap”, explicou. 

Decisões de conservação

A doutora em Ecologia e pesquisadora do Instituto Aqualie Mariana Frias foi a responsável por compilar os dados e disponibilizá-los na plataforma. Ela contou que o trabalho envolveu muitas entrevistas com cientistas e levou cerca de seis meses. 

“O primeiro aspecto interessante dessa plataforma é que ela é muito visual. Com isso esperamos que ela leve informações ao público de maneira clara, didática e objetiva”, explicou Mariana, que também é vinculada a Universidade Federal de Juiz de Fora. 

Mariana declarou ainda que a quantidade de informações disponíveis em Botos Amazônicos permite que sejam tomadas decisões de conservação muito mais embasadas e consistentes do ponto de vista científico: “Conseguimos ver, por exemplo, onde estão os maiores grupos populacionais e onde estão as Unidades de Conservação. Com isso, temos uma ferramenta de manejo muito eficiente que pode servir para influenciar e pressionar autoridades”.

Diretor-executivo da Fundação Omacha, da Colômbia, Fernando Trujillo contou que os botos dependem de um ambiente equilibrado, que tenha boa qualidade de água e disponibilidade de alimento. “Garantir a qualidade das águas dos rios e o equilíbrio dos estoques pesqueiros não é vital apenas para os botos, mas também para os quase 34 milhões de habitantes da Amazônia”, disse o pesquisador.  

Fonte: WWF Brasil

*O Mercadizar não se responsabiliza pelos comentários postados nas plataformas digitais. Qualquer comentário considerado ofensivo ou que falte com respeito a outras pessoas poderá ser retirado do ar sem prévio aviso.