Patrícia Patrocínio; 09/12/2021 às 15:30

Arrastão Cultural pelo direito à água potável, saneamento básico e cultura

O objetivo é chamar atenção da sociedade e do poder público local para a situação social e ambiental precária que se encontra a comunidade do Lago Verde

Com o objetivo de chamar atenção da sociedade e do poder público local para a situação social e ambiental precária que se encontra a comunidade do Lago Verde, no bairro da Terra Firme, na capital paraense, que nasce o arrastão cultural pelo direito à água potável, saneamento básico e cultura promovido pelos moradores deste território. A manifestação ocorre no próximo sábado, 11/12, a partir das 8h30, com concentração na praça Olavo Bilac. 

O evento propõe um chamado a diversos coletivos culturais, artistas e movimentos que lutam por saneamento básico, meio ambiente e justiça social da própria comunidade para um grande manifesto, em formato de cortejo, pelas margens do Lago Verde até as margens do Rio Tucunduba, que contará com apresentações culturais, grafite, performances teatrais em fortalecimento à luta por esses direitos fundamentais na periferia e, principalmente, na Comunidade do Lago Verde, que se encontra severamente afetada pela falta de políticas públicas há décadas, conforme ressalta Jane Rebelo, 38, moradora da localidade e integrante do Movimento Tucunduba pró Lago Verde:

“A água é vida! E é muito difícil a gente fazer as tarefas do nosso dia a dia [sem acesso à água potável]. É como uma coisa simples: lavar uma louça, passar um pano na casa, as tarefas de dentro do lar para que a gente possa viver o nosso trabalho fora de casa, os nossos estudos, cuidar da nossa família e dos nossos filhos. A gente tem que estar ali preparado para pegar água na hora que ela chega e já com a expectativa de que em determinado momento ela vai faltar”.

De acordo com o Ranking do Saneamento Básico 2021, estudo promovido pelo Instituto Trata Brasil, o país mantém sem serviços de água tratada 35 milhões de habitantes, sendo 5,5 milhões nas 100 maiores cidades – equivalente à população da Noruega. Ainda segundo os dados do estudo, o Brasil joga todos os dias na natureza o equivalente a 5,3 mil piscinas olímpicas de esgotos sem tratamento. Nesta edição do ranking, Belém continua entre as cinco piores cidades nos indicadores de água e saneamento básico. 

Esses dados são reflexo da realidade vivida por pessoas como a professora de ciências da escola estadual Brigadeiro Fontenelle, Cacila Bastos, 50, também moradora do bairro da Terra Firme: “eu faço parte dessa campanha porque a água da Terra Firme é de péssima qualidade, suja. Para algumas pessoas no bairro a água só chega às nove horas da noite em suas casas. Então, quando eu falo de saneamento básico nas minhas aulas, eu vejo que ele não é teórico, ele está no nosso cotidiano. Portanto, para o aluno ser cidadão do amanhã ele precisa tomar um banho digno, no chuveiro, tomar uma água boa, ter acesso a esse direito básico a todo ser humano”. 

O arrastão cultural é promovido pela campanha “Tamuatás pelas Água do Lago Verde” que propõe unir a comunidade em prol do saneamento básico e, consequentemente, luta pela qualidade de vida e dignidade nas periferias, conforme explica o coordenador da campanha e músico do grupo de carimbó Os Tamuatás do Tucunduba, Cleyton Almeida: “tudo começou com uma visão nossa de dar um passo à frente do que já vínhamos construindo a partir da poética do nosso carimbó, que é uma poética de combate e de denúncia das mazelas e vulnerabilidades que nós temos em nosso território. Então chegou o momento de colocarmos a mão na massa em ações de base comunitária dentro das temáticas que mais afligem a nossa comunidade: falta de acesso à água e saneamento básico”. 

A partir da compreensão da arte e da cultura com forma de ativismo, o grupo foi aprovado no edital da aceleradora IARA (Inovação e Aceleração na Região Amazônica), uma plataforma que apoia organizações e coletivos a tirar seus projetos do papel e a mobilizar cidadãos para gerar mudanças. “A gente foi contemplado pela aceleradora IARA visando a questão da falta de acesso à água potável que é latente aqui no bairro da terra firme e, principalmente, na comunidade do Lago Verde, que chega a passar 12 horas sem água, um realidade que perdura em torno de 40 anos”, ressalta Cleyton.

Como ações de mobilização da campanha foram realizadas oficinas de elaboração de documentos para órgãos oficiais junto a comunidade para construção de ofício e abaixo-assinado visando pressionar os poderes locais e órgãos responsáveis pela fiscalização e solução das problemáticas sofridas pelos moradores do Lago Verde. Em paralelo às ações locais, está sendo promovida uma campanha nas redes sociais com relatos das pessoas atingidas por essas mazelas sociais. Além disso, está em curso uma oficina de produção de documentários para o ativismo comunitário, oportunizando ferramentas para o protagonismo e disputa de narrativas pelas pessoas da comunidade que terá sua culminância no arrastão cultural: 

“Agora, a gente chega no momento de realizar o arrastão cultural em torno da temática da campanha, chamando os olhares da sociedade e poder público para um lugar que é tão invisibilizado há tanto tempo, para que junto dessas ações de advocacy, com protocolos submetidos na câmara municipal de Belém – encaminhamento retirado das reuniões com a comunidade – que vamos realizar nesta semana, possamos por meio da cultura movimentar moradores para nossa causa”, finaliza Cleyton. 

Na sexta-feira, 10/12, ocorrerá uma oficina de construção de instrumentos para o carimbó com materiais reutilizáveis, ministrada pelo mestre Lourival Igarapé, das 8h30 às 12h e das 14h30 às 18h, no Chalé da Paz, localizado ao final da rua comissário, no bairro da Terra firme. Inscrições online neste link.

Fonte: Assessoria

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