Isabella Botelho; 15/02/2023 às 14:00

#MercadizarExplica: crédito de carbono

Entenda o que são e como funcionam os créditos de carbono

As atividades humanas têm um impacto direto no meio ambiente, e processos que antes eram naturais foram alterados por conta das ações do homem. Ao longo dos anos, a comunidade científica e a sociedade como um todo voltaram seus olhos e preocupações para a relação entre a industrialização, a emissão de gases do efeito estufa e o aumento da temperatura da Terra. 

A Revolução Industrial, que aconteceu na metade do século XVIII e foi iniciada na Inglaterra, marcou a substituição da mão de obra humana pelas máquinas, o que possibilitou produção em massa e benefícios econômicos, mas alterou para sempre a relação entre o homem e a natureza. Com máquinas que funcionam movidas por combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural), as indústrias se expandiram rapidamente por todo o mundo e, atualmente, são consideradas umas das principais contribuintes para o aquecimento global. Isso acontece porque a queima de combustíveis fósseis, necessária para que o maquinário funcione, gera gases poluentes, entre os quais está o dióxido de carbono (CO2), um dos gases do efeito estufa e causadores do aquecimento global. 

Fenômeno natural que acontece na atmosfera terrestre, o efeito estufa é responsável por regular as temperaturas no planeta de forma a torná-lo habitável. Diariamente, os raios solares atingem a Terra e, enquanto parte deles é refletida de volta ao espaço, outra fica presa nos gases do efeito estufa (dióxido de carbono, ozônio, metano, óxido nitroso). Esse calor é o que mantém a temperatura terrestre. No entanto, o processo tem sido agravado por conta do aumento da emissão de gases que, em excesso, absorvem ainda mais calor. Ou seja, quanto maior a emissão de gases do efeito estufa, maior a temperatura da Terra e pior o aquecimento global

O aumento da temperatura terrestre e a rapidez como isso aconteceu principalmente nos últimos 30 anos tem ocasionado no derretimento das calotas polares e, consequentemente, no aumento do nível dos mares, em queimadas, na extinção de espécies de animais e em fenômenos climáticos como tempestades, tornados, furacões e secas. 

Entendendo que o agravamento do aquecimento global é perigoso tanto à natureza quanto à existência humana e que é necessário que países industrializados se responsabilizem e contribuam para a redução da emissão de gases do efeito estufa, foram realizadas diversas reuniões com a finalidade de definir metas e possíveis soluções que guiem e auxiliem representantes nesta questão.

Um dos principais acordos neste sentido é o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 na cidade de Kyoto, no Japão, durante a 3ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. O pacto ambiental mundial tem como objetivo justamente diminuir a emissão de gases na atmosfera terrestre e foi assinado por 175 países, dos quais 55 ratificaram e se comprometeram a cumprir as ações estabelecidas pelo tratado. 

Entre as metas definidas pelo Protocolo de Kyoto está a redução, entre 2008 e 2012, em 5,2% da emissão de gases do efeito estufa por países industrializados em relação aos dados de 1990. Para que não houvesse prejuízo econômico, foi criado o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), uma flexibilização para que estes países consigam alcançar suas metas por meio da emissão e compra dos créditos de carbono.

Créditos de carbono

Os créditos de carbono correspondem a uma unidade de medida que significa a não emissão de dióxido de carbono – a cada tonelada do gás não emitida, um crédito de carbono é gerado. Logo, países que conseguem controlar a redução de dióxido de carbono recebem a certificação do MDL e, conforme acumulam os créditos, podem comercializá-los com aqueles que não bateram suas metas. Quem vende os créditos pode converter o valor recebido em ações reais para a causa ambiental. Desta forma, existe sobretudo uma motivação financeira para que as indústrias se motivem e desenvolvam ações para reduzir suas emissões.

Para que estas compras e vendas sejam realizadas, existe um mercado próprio, o mercado de carbono, com regulações e regras específicas. De acordo com o Portal da Indústria, a Refinitiv Financial Solutions estimou que somente em 2020 foram negociados 229 bilhões de euros neste mercado. 

Controvérsias 

Os créditos de carbono, no entanto, não são uma unanimidade entre os especialistas da área ambiental. Muitos acreditam que eles são uma forma de continuar poluindo e contribuindo para o aquecimento global. Afinal, por que um país desenvolvido investiria em ações reais que combatam as mudanças climáticas se ele pode adquirir créditos de carbono que o permitam emitir gases do efeito estufa? 

Um dos argumentos dos críticos aos créditos de carbono é que eles “não compensaram a quantidade de poluição que se esperava, ou trouxeram ganhos que foram rapidamente revertidos ou que não podiam ser comprovados e medidos”, conforme afirma uma matéria da ProPublica, apresentada pela BBC

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