Durante a COP30, em Belém, o recém-inaugurado Museu das Amazônias abre suas portas com uma exposição que promete redefinir o modo como o mundo enxerga a floresta tropical.
A mostra de estreia, intitulada “FOREST–GENS (Genealogia da Floresta)”, apresenta mapas e visualizações que revelam um dado surpreendente: a Amazônia nunca foi um território “intocado”. Pelo contrário — é fruto de séculos de engenharia humana, conhecimento ecológico e urbanismo ancestral.
Desenvolvido pelo grupo de pesquisa POLES | Political Ecology of Space, em colaboração com o estúdio ARCHITECTS OFFICE (AO), o projeto combina dados arqueológicos, imagens de satélite, geoprocessamento e registros históricos para mostrar que o maior bioma tropical do planeta foi moldado por populações que dominaram técnicas sofisticadas de manejo ambiental.
Os estudos exibidos na instalação apresentam exemplos de engenharia do solo, redes hidráulicas, canais navegáveis e assentamentos sustentáveis, que garantiam biodiversidade enquanto mantinham modos de vida complexos.
A base científica de Forest–Gens é sustentada por descobertas recentes lideradas por arqueólogos como Heiko Prümers e Carla Jaimes Betancourt, cujas pesquisas com tecnologia LiDAR revelaram cidades indígenas soterradas pela copa das árvores.
As imagens identificam taludes, fossos, áreas de cultivo e estruturas urbanas invisíveis a olho nu — evidências de que a floresta amazônica foi, por milênios, habitada, planejada e cultivada.

Da Bienal de Veneza ao coração da Amazônia
A instalação de grande formato já havia sido destaque na 19ª Bienal de Arquitetura de Veneza e na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, conquistando reconhecimento internacional por propor uma nova leitura sobre o território amazônico.
O impacto levou o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) a convidar o grupo para integrar a mostra inaugural do Museu das Amazônias, espaço criado justamente para conectar ciência, arte e sociedade.
Durante a COP30, o projeto ganha relevância estratégica ao dialogar diretamente com o debate climático global.
Forest–Gens desmonta a oposição entre “natureza e cidade” e propõe uma visão integrada de preservação e produção, na qual o futuro das urbanizações sustentáveis pode se inspirar nos saberes dos povos originários da floresta.
Um novo olhar sobre o futuro da Amazônia
A proposta de Forest–Gens é simples e revolucionária: a Amazônia não deve ser vista apenas como patrimônio ambiental, mas também como patrimônio científico, tecnológico e urbano.
Os mapas revelam que onde existiram antigas cidades indígenas há potencial para o desenvolvimento sustentável, com base em práticas que conciliam bioeconomia, saber tradicional e conservação ambiental.
Nesse sentido, o Museu das Amazônias se consolida como uma plataforma pública de reflexão sobre os futuros possíveis do planeta, em especial para o território que mais sente e influencia as mudanças climáticas globais.
Ao reunir ciência, cultura e arte em plena COP30, a exposição reafirma que a floresta é, antes de tudo, uma criação humana — e um modelo vivo de equilíbrio ecológico.

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