Dia Mundial do Meio Ambiente: a importância dos povos indígenas na preservação de biomas
Nesta matéria especial, o Mercadizar traz estatísticas e entrevistas que mostram como os territórios indígenas são os mais preservados do país
Em maio de 2025, o MapBiomas publicou o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD) 2024. Além de apresentar um panorama detalhado sobre o desmatamento no país, o documento mostra também como os territórios indígenas são relevantes para a preservação de biomas brasileiros, especialmente a Amazônia.
Nesta matéria especial do Dia Mundial do Meio Ambiente, o Mercadizar destaca alguns dados importantes apresentados no RAD 2024 e traz também a análise do engenheiro ambiental e mestre em ecologia, Yago Santos, sobre como os povos indígenas contribuem para a preservação ambiental da Amazônia.
Arte: Mercadizar
O desmatamento no Brasil e a preservação nas TIs
De acordo com o RAD 2024, a análise de desmatamento dos últimos seis anos (2019-2024) mostra que o desmatamento no Brasil suprimiu uma área equivalente a toda a Coreia do Sul: 9.880.551 hectares. Desse total, dois terços (67%) ficam na Amazônia Legal.
Nos seis anos analisados, os desmatamentos que se sobrepõem às Terras Indígenas (TIs) representam somente 1,9% (183.170 ha) da área total desmatada no Brasil, dado que já demonstra um baixo índice de perda ambiental em territórios dos povos originários.
Conforme aponta a pesquisa, as Terras Indígenas e as áreas de Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQ) permanecem como os territórios mais preservados do país. Nos últimos seis anos, as CRQs representaram 0,14% da área total desmatada.
Na pesquisa, o MapBiomas considera a existência de 637 TIs no país, sendo a Amazônia o bioma que possui o maior número de TIs entre os demais. Ainda assim, o bioma fica em segundo lugar no ranking de perda de vegetação nativa, necessitando de mais medidas de proteção além da demarcação de TIs.
“Em 2024, mais de 82,9% da área desmatada ocorreu nos biomas Amazônia e Cerrado. Pelo segundo ano consecutivo, o Cerrado permanece como o bioma com a maior área desmatada (52,5%), a Amazônia fica em segundo lugar, com 30,4% de área desmatada no Brasil”.
Apesar das perdas alarmantes e intensas, dados mais otimistas do relatório de 2024 mostram que a área total desmatada no país recuou 32,4% em relação a 2023, enquanto o número de alertas validados caiu 26,9%. “Este é o segundo ano consecutivo de redução no desmatamento: em 2023, a retração havia sido de mais de 11% em comparação com 2022”, reforça o MapBiomas. Além disso, em 2024 as TIs representaram 1,3% de todo o desmatamento no Brasil. O que representa uma redução de 24% no desmatamento em TIs em relação a 2023.
“Dois terços das Terras Indígenas não tiveram qualquer evento de desmatamento em 2024, ano em que apenas 33% das TIs no Brasil tiveram ao menos um evento de desmatamento detectado”, destaca o MapBiomas.
A preservação nas Terras Indígenas
Como mostram os dados, as TIs têm significativo índice de preservação comparadas a outras áreas afetadas pela destruição ambiental em território nacional. De acordo com o engenheiro ambiental e mestre em ecologia, Yago Santos, a Amazônia – bioma com a maior quantidade de TIs – não se manteria como é e nem existiria como a conhecemos sem a presença indígena.
“A Amazônia é uma construção tanto da evolução biológica quanto da formação geológica da terra. Mas, assim como diversos outros biomas no mundo todo, também tem o peso de ser uma construção social humana”, destaca Yago Santos.
Imagem: Yago Santos
O engenheiro ambiental explica que, atualmente, entre os principais desafios enfrentados pela Amazônia estão as commodities, como carne, soja, minério, petróleo e diversos outros produtos da região que viraram alvo de grande exportação, como o açaí.
“Esses processos das commodities fazem com que a Amazônia sempre esteja em pressão internacional dessas demandas desses produtos. E isso é o principal desafio da preservação dela: faz com que ela seja degradada tanto na derrubada das árvores, quanto na poluição do ar, na piora das mudanças climáticas, na contaminação dos nossos rios, dos nossos solos, da erosão, no risco que essas comunidades ficam”, explica.
Os dados apresentados pelo RAD 2024 do MapBiomas vão de acordo com as falas de Yago Santos:
“Mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos ocorreram por pressão da agropecuária. Outros vetores têm peso distinto de acordo com o bioma. No caso do garimpo, por exemplo, 99% de toda área desmatada por essa atividade está localizada na Amazônia. Já no caso de desmatamentos associados aos empreendimentos de energia renovável desde 2019, 93% deles estão concentrados na Caatinga. O Cerrado, por sua vez, concentra 45% da área desmatada relacionada à expansão urbana em 2024”, destacam os resultados do documento.
Em meio aos altos índices de desmatamento, e às atuais consequências das mudanças climáticas, como a seca severa na Amazônia ou as enchentes no Rio Grande do Sul, cada vez mais se faz necessário que medidas sociais, econômicas, ambientais e científicas sejam tomadas para que o quadro não se agrave ainda mais. Para Yago Santos, é importante que a ciência leve benefícios reais, concretos e contínuos para as comunidades indígenas e tradicionais, para que elas mantenham sua autonomia, bem-estar e dignidade em seus territórios, considerando ainda que estes povos são detentores de seus próprios conhecimentos tradicionais.
Além disso, outra estratégia ambiental eficaz é a demarcação de Terras Indígenas, tendo em vista os dados positivos de preservação encontrados nesses territórios em todo o país.
“As terras indígenas são os territórios mais protegidos do Brasil e são os principais territórios mais protegidos na Amazônia. E são onde menos acontece desmatamento. Isso já mostra que a presença humana é essencial para a manutenção do território. São eles que conhecem o território, são eles que vivem ali. Eles ajudam na proteção desses territórios, denunciam, participam, mantêm a floresta viva. Então, sim, a manutenção, a existência e a demarcação de terras indígenas são formas de garantir que a Amazônia continue de pé. E é uma estratégia que deveria ser aplicada em diversos outros biomas também. Porque isso dá também uma certa segurança jurídica para que a terra não fique exposta para especulação de terras, grilagem, para qualquer outra demanda mineral, do agronegócio e outras questões relacionadas a commodities”, conclui Yago Santos.
*O Mercadizar não se responsabiliza pelos comentários postados nas plataformas digitais. Qualquer comentário considerado ofensivo ou que falte com respeito a outras pessoas poderá ser retirado do ar sem prévio aviso.
*O Mercadizar não se responsabiliza pelos comentários postados nas plataformas digitais. Qualquer comentário considerado ofensivo ou que falte com respeito a outras pessoas poderá ser retirado do ar sem prévio aviso.