O Brasil perdeu 16.557 km2 de cobertura de vegetação nativa em todos os seus biomas no ano passado, segundo a mais recente edição do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas. Trata-se de um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Com a tendência de alta no desmate nos últimos três anos, nesse período o Brasil perdeu o equivalente a quase um estado do Rio de Janeiro de vegetação nativa.
Também aumentou a velocidade média de desmatamento no país, que passou de 0,16 hectares/dia para 0,18 hectares/dia em 2021. Com uma média diária de 191 focos, a área de desmatamento por dia em 2021 foi de 4.536 hectares. Somente na Amazônia foram 111,6 hectares desmatados por hora ou 1,9 hectare por minuto, o que equivale a cerca de 18 árvores por segundo.
O estudo, que refinou e validou 69.796 alertas de desmatamento em 2021 em todo o território nacional, avaliou individualmente cada evento de desmatamento cruzando com dados de áreas protegidas, autorizações e cadastro ambiental rural (CAR) e encontrou indícios de irregularidades em mais de 98% dos casos. Apenas em 1,34% dos alertas não foram encontrados indícios ou evidências de irregularidades. Esse percentual de irregularidade está em linha com os 99% detectados nos relatórios anteriores de 2019 e 2020.
Os alertas de desmatamento que cruzam com imóveis rurais cadastrados no CAR correspondem a 77% da área total desmatada. Isso significa que em pelo menos 3/4 dos desmatamentos é possível encontrar um responsável. Foram 59.181 imóveis com desmatamento detectado no país em 2021, que representam 0,9% dos imóveis rurais cadastrados no CAR até o mesmo ano. São reincidentes por terem desmatamento registrado em 2019 e/ou 2020 19.953 imóveis registrados no CAR. Quando considerado o período de 2019 a 2021, o número de imóveis com pelo menos um evento de desmatamento detectado sobe para 134.318, o que representa 2,1% dos imóveis rurais brasileiros. Em outras palavras, não foi detectado desmatamento nos últimos três anos em quase 98% dos imóveis rurais.
“Para resolver o problema da ilegalidade é necessário atacar a impunidade — o risco de ser penalizado e responsabilizado pela destruição ilegal da vegetação nativa precisa ser real e devidamente percebido pelos infratores ambientais”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. “Para isso, é preciso atuar em três frentes, assegurando que: todo desmatamento seja detectado e reportado; todo desmatamento ilegal receba ação de responsabilização e punição dos infratores (ex. autuações, embargo); o infrator não se beneficie da área desmatada ilegalmente e receba algum tipo de penalização (ex. restrições de crédito, pendência do CAR, impedimento de regularização fundiária, exclusão de cadeias produtivas).”
Uma novidade na edição deste ano é a identificação dos vetores de pressão do desmatamento, como agropecuária, garimpo, mineração, expansão urbana e outros, como pressão por construção de usinas eólicas e solares, principalmente na Região Nordeste. Os números mostram a prevalência e a estabilidade no nível de pressão da agropecuária nos últimos três anos, quando a atividade foi responsável por percentuais de desmatamento acima de 97%. Nesse cenário, o estado do Pará diferencia-se em algumas áreas onde o garimpo foi um expressivo vetor de pressão. Em áreas próximas às capitais e grandes centros urbanos, a pressão ficou por conta da expansão urbana.
Em todo o Brasil, as áreas desmatadas com menos de 25 ha representam 82,8% do total de alertas, mas somente 22,8% da área desmatada. Já os alertas com mais de 100 ha representam 4,4% dos alertas, mas 51,7% do total desmatado no país. Nessa categoria houve um aumento de 37,8% entre 2020 e 2021. Em 2021, foram constatados 3.040 desmatamentos com mais de 1 km2 (100 hectares), sendo que 107 deles superam os 10 km2 ou 1.000 hectares. Para efeito de comparação, o Central Park em Nova Iorque tem 3,41 km2, e o Parque Ibirapuera em São Paulo tem 1,6 km2.
Este relatório é o terceiro de uma série que tem a finalidade de consolidar e analisar as informações sobre todos os desmatamentos detectados nos seis biomas brasileiros, pelos múltiplos sistemas de alertas disponíveis, e que foram validados, refinados e publicados pelo projeto MapBiomas Alerta.
Fonte: Observatório do Clima
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