Pelo amor à música e à cantora Vanusa, Cassandra vai para a cinza e fria São Paulo em busca de seu sonho. Assim como muitos, trabalha como motogirl durante o dia e canta à noite. Após muito tempo e batalha, Cassandra finalmente consegue alugar um apartamento e viver seu romance com Ivaldo (Thomas Aquino). Só não esperava que uma noite de seu passado com Leide (Karine Telles) tivesse gerado um filho, Gersinho (Gustavo Coelho).
Ao imaginar uma série com Liniker como protagonista, a primeira temática que vem à cabeça é a representatividade trans, mas Manhãs de Setembro entrega muito mais. Em cinco episódios de meia hora e embalada por conselhos de Vanusa (na voz da atriz Elisa Lucinda), Cassandra é determinada e muitas vezes demonstra dureza e falta de empatia que poderiam facilmente transformá-la numa vilã e cair no desgosto do espectador. Mas a realidade é que nos conectamos com a personagem e entendemos seus medos e traumas a cada episódio, assim como nos envolvemos com a empatia e amor que Gersinho transmite pela mulher que chama de pai. Uma das cenas mais emocionantes da série é quando ele diz “você é muito bonita, pai”.
Somado ao desejo de Gersinho de conhecer seu pai, acompanhamos a história de uma mãe solo, que tinha a esperança de dividir o peso da maternidade e reconquistar um pouco de sua liberdade como mulher. Além disso, os dois moram na rua e acompanhamos a dura realidade de Leide, que é capaz de qualquer coisa para dar conforto e mudar o futuro de seu filho, ainda que tenha que fazer isso sozinha.
E apesar de todas as problemáticas e circunstâncias ao seu redor, Cassandra tem mais sorte do que Leide, afinal, tem uma rede de apoio. A quebra do conceito de família tradicional vai além de uma obra que deseja apenas incomodar, ela estabelece a compreensão do lugar e dor do outro, um modelo que qualquer família deveria seguir, um lugar de acolhimento sem julgamentos. É exatamente isso que vemos em Décio (Paulo Miklos) e Aristides (Gero Camilo), além de suas amigas Pedrita (Linn da Quebrada) e Roberta (Clodd Dias).
Cassandra sofreu com o abandono da mãe, com a solidão da mulher trans e preta e com a pobreza da favela. Mas assim como as manhãs de setembro que se abrem para a chegada das flores, ela resolve se despedir da solidão e de suas dores e florescer.
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