A cantora Elisa Maia lançou recentemente o videoclipe da inédita ‘Sol de Setembro’. Consciente do papel social da arte na amazônia, a cantora fala de um dos aspectos característicos da nossa região: o calor. Na adaptação para a linguagem do audiovisual, a música ganha um videoclipe filmado e produzido dentro do distanciamento social.
O projeto dá sequência a sua série de lançamentos previstos para esse ano, as cenas misturam nuances do cotidiano de quarentena, altos e baixos, bastidores de uma live e um relacionamento poliamoroso virtual.
Os acordes de guitarra anunciam uma canção que remonta ao início da carreira de Elisa, com fortes referências ao reggae. A letra em transbordar em águas, sobre corpos que não matam sedes e uma solidão típica de quem acorda e prefere não olhar o sol ao acordar.
O clipe carrega o nome de um mês que é dedicado ao cuidado com a saúde mental, Elisa continua entregando a relevância musical e social que comunica artisticamente sobre corpos e mentes adoecidas e que ao mesmo tempo se percebe do Norte, acordando a tempo para perceber a luz que tem o sol de Setembro. Gravado pela própria Elisa em sua casa, o clipe foi também dirigido por ela e por Victor Kaleb.
“O videoclipe estava sendo produzido em fevereiro deste ano. Eu e o Victor havíamos feito imagens de testes aqui mesmo na minha casa, com o Keven Sobreira e o Raikar (que aparecem no videoclipe em imagens filmadas por eles mesmos). Por conta da pandemia da covid-19, interrompemos a produção. Retornamos o projeto em julho, quando também estávamos preparando o lançamento de ‘Luas pra tantas faces’ e eu já tinha a ideia de me filmar com um celular, exceto pelas imagens dos rapazes e da cena do ‘show-live’, que tive a assistência da produtora Gisa Almeida”, disse a cantora ao Mercadizar.
Em entrevista ao Portal Mercadizar, Elisa contou mais sobre o significado da canção e o processo de gravação do clipe. Confira:
Mercadizar: Qual o significado da canção para você?
Elisa: ‘Sol de setembro’ é uma música sobre constatação de solidão e dor emoldurada num contexto solar. Mas não um sol qualquer, um sol de Manaus em setembro, que é ardido, que é penoso. Então qualquer dor e sofrimento nesse contexto, onde tudo é coberto por esse sol, na minha opinião é mais sofrido. Por outro lado, quando eu falo de solidão, falo do meu lugar como mulher negra. Então não é só sob uma perspectiva afetiva-amorosa-sexual. É a solidão de ser uma pessoa negra, que muitas vezes ocupa solitariamente certos lugares. Essa é a minha história (risos). E aí vem o lance de que eu aprendi a “dançar sozinha”, como fala a música e seja afetivamente ou até mesmo em relações de trabalho, na esperança de caminhar junta, as vezes “se entrega, se aninha”. Só que o engano mora exatamente onde a gente acha que certos vazios vão ser preenchidos ou saciados pela existência do outro. Não que ‘Sol de setembro’ seja uma ode à solidão, mas a ideia é perceber que dá pra se relacionar, se decepcionar, ficar só, ficar junta e mesmo assim, armazenar toda a água necessária dentro de si pra transbordar.
Mercadizar: Como ocorreu esse processo de gravação do clipe de ‘Sol de Setembro’. Qual foi a maior dificuldade e a maior diversão nesse processo?
Elisa: No primeiro dia de filmagens eu já queria chorar. Eu tinha um roteiro para seguir e logo nos primeiros takes, que são exatamente das primeiras cenas do videoclipe, em que estou na cama com corpo muito exposto. Entendi que não ia ser tão simples assim produzir todo o cenário, contar com a luz natural certa, encontrar planos que fizessem sentido e depois de tudo isso, me sentir confortável com a minha própria imagem. Imaginei que eu ia filmar tudo em uns 3, 4 dias. Acabei levando 12 dias, do dia 1º a 12 de setembro, todos os dias me filmando. Esse processo também foi um mergulho surreal na própria música, nessa ideia de solidão, misturada ao fato de que eu continuo em quarentena. Então tiveram muitas camadas de introspecção nesse processo. Mas também acredito que a potência do resultado final do videoclipe tenha muito haver com o fato de que ele também foi construído coletivamente.
O roteiro foi criado em reuniões virtuais entre eu, o Victor Kaleb e a Anália Nogueira, que também assina junto comigo a Direção de Arte e Figurino. E o videoclipe teve montagem da editora Samya Carvalho e correção de cor e finalização da Clau Rossatti. Claro, houveram momentos em que eu me diverti bastante, inclusive vendo depois as imagens brutas, como por exemplo a cena do segundo banho que eu tomo no videoclipe. Eu aluguei uma máquina de fumaça e um pequeno jogo de luz pra cena do ‘show-live’ e achei que ia ser uma boa ideia também “gastar” os equipamentos num “banho psicodélico”. Foi doido e divertido, podia ter rolado um curto-circuito no meu banheiro! A cena também que fecha o clipe, onde eu tomo sol no quintal da minha casa, vestida com um biquíni verde-neon, também foi bem engraçada porque não é o tipo de coisa que eu faça. E por isso mesmo, escolhi me filmar na parede cinza, para uma ideia mais insólita, árida deste sol de setembro. Isso pra mim é bem irônico e eu me divirto com essa ideia.
Mercadizar: No clipe de ‘Sol de Setembro’ podemos observar algumas coisas em comum com o clipe de ‘Luas pra Tantas Faces’, lançado em agosto, como o vestido azul, por exemplo. Tem alguma relação nas duas canções e clipes?
Elisa: Ele custou caro, eu preciso gastar esse vestido (risos). Brincadeiras a parte, o vestido azul foi produzido (executado primorosamente pela costureira-figurinista amazonense Hellen Bentes) exclusivamente pro meu videoclipe ‘Luas pra tantas faces’. Na minha cabeça pré-pandemia eu iria usá-lo bastante numa série de shows e pensado pra ele ser o centro das atenções. Então na impossibilidade de usá-lo pra apresentações ao vivo, nada mais justo que ele entre na versão “live” em casa do videoclipe de ‘Sol de setembro’. Foi muito natural pensar nele pra essa cena. E hoje em dia eu sou muito ligada em consumo consciente, sou consumidora de “looks de brechó” (não agora, porque ainda continuo em quarentena e não teria nem onde usar roupa “nova”), então fico muito à vontade em repetir o figurino. Espero que logo logo eu possa usá-lo num show ao vivo. Se saia, corona!
Mercadizar: Em agosto você lançou ‘Luas pra Tantas Faces’ e em setembro ‘Sol de Setembro’. O que podemos esperar nos próximos meses?
Elisa: Eu tenho mais duas músicas que vão ser lançadas ainda em 2020. Então é só esperar!
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*Com informações da assessoria
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