Aryanne Soares; 30/03/2020 às 19:00

Cinema feminino em números

Uma publicação feita pelo Geena Davis Institute em parceria com a ONU e a Fundação Rockefeller demonstrou que embora as mulheres sejam metade da população do mundo, dos 5.799 personagens falantes ou nomeados da tela, avaliados para a pesquisa,  apenas 30,9% são do sexo feminino. No caso dos filmes de ação ou aventura, essa participação é ainda menor: elas são 23% dos personagens com falas. 

O Instituto Geena, que é a única organização baseada em pesquisa que trabalha na indústria do entretenimento para influenciar o equilíbrio de gêneros, também investigou e descobriu que na indústria cinematográfica apenas 8% dos diretores são mulheres, 19% são produtoras e 13,6% são roteiristas. 

Geena Davis, fundadora do Instituto, diz que: “Meu objetivo sempre foi educar os negócios, e não o público. A primeira vez que apresentei minha pesquisa em um estúdio, no final, o diretor de elenco estava desnorteado. Segundo ele em todos os filmes adaptavam personagens para asiáticos, hispânicos e negros, mas nunca questionavam quais papéis poderiam ser uma mulher’.

Genna ainda afirma: “O fato é que as mulheres estão seriamente sub-representadas em quase todos os setores da sociedade, não apenas na tela, mas, na maioria das vezes, não estamos cientes dessa realidade, e as imagens da mídia exercem uma poderosa influência sobre isso, perpetuando nosso viés inconsciente”

A pesquisa conclui que, as meninas e as jovens precisam de exemplos na tela. Elas precisam se ver nas histórias que as cercam para alcançar a igualdade de gênero, e a sua capacidade de liderança deve ser reconhecida e incentivada. E para que isso aconteça, os filmes devem conter histórias com liderança feminina visíveis e normais.

A pesquisa levanta o seguinte questionamento: As histórias de nossos filmes mais populares estão fornecendo às meninas informações sobre o que as mulheres podem ser, ou elas geralmente são representadas como menos bem-sucedidas e menos poderosas que protagonistas masculinos? 

Nos filmes analisados, além de personagens femininos serem menos proeminentes, a análise também revelou uma falta de diversidade étnica nos heróis, heroínas e vilões: quase metade (47%) dos personagens dos filmes com maior bilheteria de 2018 eram brancos, o maior grupo étnico por uma ampla margem.

O início de uma conversa

“O filme é a mídia mais forte; e como uma forma de arte global pode ter um impacto gigante. O cinema pode criar empatia, pode ajudar a mudar perspectivas e nos ajudar a ver as coisas de outros pontos de vista.” Elli Toivoniemi, Diretora de Produção, Finlândia

“Como você pode se imaginar fazendo algumas coisa se não pode vê-las? A representação é importante para as mulheres jovens, especialmente as que existem à margem. No contexto indígena, somos deturpadas na tela há 100 anos, essas deturpações são prejudiciais, reforçam estigmas e alimentam estereótipos racistas e sexistas.” (Elle-Máija Tailfeathers. Escritora, Diretora, Produtora e atriz. Canadá

“É super importante ver outras mulheres florescerem, então elas nos levam, nos incentivam, a usar todo o nosso potencial.” Melina León, Filmmaker, Peru

“Por muitos anos, as personagens femininas foram submissas, agradando aos homens, sempre lutando pela atenção masculina. Mas nesta última década houve mudanças substanciais. Uma conversa começou. Mulheres escritoras e diretoras estão criando mulheres poderosas e profundas na tela.” Guneet Monga, Produtora, Índia

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